Venezuela: A palavra aos demitidos da Mitsubishi

Entrevista com o sindicalista demitido Félix Martínez, Secretário-geral do Singetram (Sindicato Nova Geração de Trabalhadores da Mitsubishi), concedida ao Jornal El Militante, periódico da CMR – Seção Venezuelana da CMI.

El Militante: Para evitar as 11 demissões dos dirigentes do Singetram, organizaram a controladoria social para a inspeção do trabalho de Barcelona, denunciando as irregularidades e ilegalidade destas demissões...

Félix Martínez: Durante todo o mês de novembro, os trabalhadores estiveram sob constante assédio e ameaça de demissão, que nos obrigou a nos organizar em um grupo amplo de diretores sindicais da região, delegados de prevenção, e representantes de conselhos comunais, para constituir o que é a “Controladoria Social do Estado de Anzoátegui”, tal como coloca a Constituição Nacional. Na Segunda-Feira, dia 23, exerceu suas funções na inspeção do trabalho “Alberto Lovera” depois de várias convocatórias e convites que lhes fez a Coordenadora Regional do ministério, e como o ministério nos deu um sinal negativo, nos vimos obrigados a convidar a Defensoria do Povo.

Ao longo desse dia de segunda-feira, até as 8 da noite, que esteve presente a Defensoria do Povo, foi que nos permitiu acessar os expedientes dos 11 diretores sindicais demitidos, seguindo o mesmo expediente da convenção coletiva que tinha começado a ser discutido na terça-feira, dia 24. Pudemos detectar nestes expedientes inumeráveis irregularidades como supressões nas folhas, como manipulação dos expedientes, as readmissões isoladas, e uma série de irregularidades, inclusive do mesmo processo na medida cautelar aos diretores sindicais. No caso do expediente da negociação coletiva, pôde-se apreciar que, faltando horas à discussão da convenção coletiva da empresa MMC automotriz, não haviam notificado o auto para ambas as partes se sentarem à negociação do dia 24.

Tudo isso baseando nesta grave situação, o que nos levou conjuntamente com a Defensoria do Povo a manter a Controladoria Social permanente para si, inclusive avançar aos outros expedientes de todas as organizações sindicais e direitos de demissões e readmissão na sala de fora, contratos desta inspetoria de trabalho aqui em Barcelona. Encontrando-nos que o dia de terça-feira, a inspetoria do trabalho fechou suas instalações às 9 da manhã retirando todo o pessoal, colocando um comunicado de que não haveria despacho e colocando de sua parte as travas que lhes estava gerando à Controladoria Social que nos levou, outra vez, a levantar uma ata com a Defensoria do Povo, mas o incrível de tudo, é que às 4 da tarde, nos interamos pelos trabalhadores que o Ministério do Trabalho, se fez presente com efetivos da guarda nacional nas instalações da empresa para notificar a empresa da demissão dos trabalhadores.

Pudemos perceber que as providências tinham fim de segunda-feira 23 e 24 e não entendemos, pois na segunda-feira, dia 23, não havia nada nos expedientes e na terça-feira, dia 24, não havia despacho, violando os processos administrativos e os direitos humanos e constitucionais dos trabalhadores. Daí em diante veio verdadeiramente um assédio trabalhista, ameaça aos trabalhadores e, que bom, está nos levando a ter que recolocar a luta de reorganizar o movimento, a nos reagrupar para defender os direitos dos trabalhadores, inclusive, como nós dizemos, mesmo o processo revolucionário porque é evidente que para poder gerar este tipo de ações teve que haver algum tipo de acordo entre o Ministério do Trabalho e a multinacional Mitsubishi como denunciaram alguns dirigentes, inclusive do PSUV, de que era preferível as demissões dos 11 diretores que perder o emprego de 7000 pais de família como se a transnacional garantisse o emprego dos trabalhadores, quando todos sabemos que essa transnacional vem com uma estratégia e uma política de terceirizar a mão de obra, de querer explorar ainda mais os trabalhadores, de querer eliminar a convenção coletiva e, evidentemente, reforçar a exploração do homem pelo homem.

El Militante: Que exemplos de apoio receberam de outras organizações sindicais, conselhos comunais em sua luta contra essas demissões?

Félix Martínez: Bom, desde terça-feira, em virtude da situação, temos tido reuniões com organizações sindicais de base aqui, no estado de Anzoátegui e temos contado com o apoio e a solidariedade de 15 organizações sindicais de todo o estado de Anzoátegui e Conselhos Comunais que todos os dias estão se somando, um após outro. Temos tido conversações com quatro conselhos comunais de Barcelona. Volto e repito para todo mundo com inquietudes, com incertezas da situação, uma vez que vêem a realidade produto dos vídeos que temos realizado, contamos com o apoio e a solidariedade do conjunto do povo.

El Militante: Setores burocráticos estão tratando de fazer parecer o Singetram e os trabalhadores da MMC como anarquistas, que estão à margem do movimento revolucionário, que são esquálidos [vendidos, pelegos], que pretendem lhes tirar fora do PSUV. Qual é sua opinião a respeito?

Félix Martínez: Nós os temos identificado dessa maneira. São setores que pretendem entorpecer o processo revolucionário, até a construção do socialismo. Isto se expressou em sua tentativa de fazer pactos e alianças com a oligarquia imperialista japonesa, inclusive, se são capazes de o fazer com esta oligarquia, é evidente que são capazes de o fazer com a oligarquia que veio sabotando o mesmo processo revolucionário. Nós acreditamos que este setor que tem medo neste momento do avanço e a essa forma de organização, mobilização, educação e orientação que teve o SINGETRAM e que hoje em dia foi reconhecida em nível regional como nacional. Nós repudiamos este tipo de condutas que começaram no dia 28 com as declarações de dirigentes como Carlos Itriago, que hoje em dia não são reconhecidos no sindicato do conselho legislativo por parte dos trabalhadores, bem como o apoio de outros setores que querem fazer vida em outra central para continuar dividindo a classe trabalhadora, dano que indubitavelmente fazem ao processo revolucionário, porque seu objetivo fundamental é tratar de dominar o movimento operário, não permitir aos trabalhadores criar suas próprias ideias, suas próprias visões, colocar os projetos ante o governo nacional, ao comandante Hugo Chávez Frías, para verdadeiramente assumir a vanguarda que nos pertence como classe trabalhadora.

El Militante: Como lhes pareceram as declarações na VTV, de Osvaldo Vera, em nome da Frente Socialista de Trabalhadores do PSUV, apoiando as demissões dos 11 diretores sindicais da MMC automotriz?

Félix Martínez: Eu primeiro lugar faço um chamado a este senhor que, para falar em nome dos trabalhadores, deve se submeter a eleições democráticas. Onde os trabalhadores sob uma votação direta e secreta nos reconheçam como dirigentes sindicais. Para nós, como organização sindical de base, consideramos que essa pessoa é um pseudo-dirigente que está jogando um papel de burocracia sindical e nestes momentos é repudiado pela massa trabalhadora em nível nacional. Evidentemente desde a Força bolivariana dos trabalhadores, à que pertence Osvaldo Vera, está sendo realizado toda uma série de atividades, uma série de mistificações do paralelismo sindical, que hoje em dia se vê refletido no estado Carabobo, Arágua e também querem aqui, romper no estado de Anzoátegui. Nós indubitavelmente, com base nesta situação e estas posições, fazemos um chamado em nível nacional a todas as organizações sindicais para enfrentar este tipo de declarações, incluindo a União Nacional de Trabalhadores. Porque aqui acaba de marcar um pseudo-dirigente, sua posição ante os trabalhadores, uma posição sarnenta, uma posição anti-operária e que tem que ser enfrentada com toda a contundência por todo o movimento operário. As declarações de Osvaldo Vera apoiando a demissão de 11 dirigentes sindicais da MMC automotriz não representam o sentimento das bases dos trabalhadores do PSUV.

El Militante: As declarações de Osvaldo Vera refletem a opinião da maioria das bases trabalhadores do PSUV?

Félix Martínez: Sem dúvidas que não. Nós temos tido contato com patrulheiros, patrulhas laborais [núcleos operários do PSUV] e é um repúdio total ao que sucedeu, à posição do Ministério do Trabalho, é o repúdio a uma instituição, que expressa o que é o sistema capitalista, é o repúdio a este tipo de metodologia, que são da quarta república, e que a classe trabalhadora em nenhum momento vai aceitar voltar atrás. Estas posições nos fazem recordar a Pedro Carmona Estanga, a Carlos Ortega, a Manuel Cova. É o reflexo total de um dirigente que não representa a classe trabalhadora. E volto e repito, tem que se submeter aos trabalhadores, hoje em dia o desafiamos a que nossa situação e seu ponto de vista seja debatido em um juízo político popular em nível nacional, com toda a classe trabalhadora, onde se aprofunde politicamente sobre esta situação e as transnacionais.

El Militante: No Sábado passado cerca de 500 trabalhadores da MMC automotriz, filiados ao Singetram, estiveram presentes no congresso do PSUV, compartilhando vídeos e materiais. Qual foi a recepção dos delegados?

Félix Martínez: É evidente que há um setor no congresso de delegados que representa a classe trabalhadora, são uma minoria, mas uma minoria com força. No congresso o Presidente Chávez destacou que há representação importante de burocratas, governadores e prefeitos que, a não ser por este grupo de companheiros que representa a classe operária, não se vai permitir a construção do socialismo e a criação de um partido verdadeiramente revolucionário. No outro dia, nas instalações da Escola de Planificação da Rinconada pudemos sentir, ver, pudemos intercambiar com dirigentes de base e sentir a solidariedade dessa direção que, por comentários e informações deles mesmos, nos expressaram que houve um bom debate.

Internamente a grade maioria dos delegados foram ganhos para que os trabalhadores da MMC tivessem o direito a voz. Só a intervenção do Ministro do Trabalho o impediu em dizer que as demissões dos trabalhadores da Mitsubishi é uma decisão do birô político nacional do PSUV. Não entendemos porque a Ministra do Trabalho tem medo a nos permitir ingressar e ter direito de palavra no congresso do PSUV, em debater, ou, repito, em estabelecer um juízo político e ideológico público sobre a situação da Mitsubishi. Com esse temor está se ocultando algo, com esse temor não se pretende avançar, pretendem tombar a organização dos trabalhadores, que é a base fundamental do processo revolucionário do mesmo comandante Hugo Chávez Frías.

El Militante: Este Sábado vai se dar em Caracas o Congresso Extraordinário da UNT, no qual o Singetram vai participar ativamente. O que esperam desse congresso em respeito às tarefas da classe trabalhadora e em concreto ao conflito da MMC?

Félix Martínez: Concretamente, desde o estado de Anzoátegui vamos participar com um grande número de delegados representantes. Nossa proposição principal está no programa de luta da classe trabalhadora, a defesa da estabilidade laboral, por uma nova lei orgânica do trabalho. Nós verdadeiramente esperamos que o conjunto dos trabalhadores e dirigentes sindicais que comparecerem a este congresso entendam que é necessário discutir isso para unificar nossa luta, e levar a briga em nível nacional, que garanta que o processo revolucionário continue. Desde o ponto de vista da situação da Mitsubishi, nós esperamos contar com essa solidariedade do movimento operário. Nós levamos a proposta de levar atividades em nível nacional, de atos em todos os estados onde nós possamos apresentar os vídeos do que aconteceu no dia 29 de janeiro, com o assassinato dos trabalhadores e que agora tratam de apagar. Assim como mobilizações e marchas em nível nacional em defesa dos trabalhadores da MMC. Hoje é o Singetram, amanhã pode ser qualquer organização sindical ou revolucionária de base. Nós esperamos que os dirigentes deste congresso assumam uma resolução frente à situação que estão vivendo os trabalhadores da MMC, de assédio, terrorismo, demissões pela transnacional MMC com a complacência do Ministério do Trabalho. Verdadeiramente esperamos um debate de uma central que assuma a vanguarda, que assuma o papel histórico que lhe corresponde, que é o que vai permitir que o conjunto da classe trabalhadora de base se some a ela.

El Militante: Acredita que desde a UNT seria uma boa ideia se impulsionar um juízo público para esclarecer tudo o que está se sucedendo na Mitsubishi?

Félix Martínez: Essa é uma proposta que levamos, inclusive propostas que levamos do mesmo comandante Hugo Chávez Frías, como é o caso do que estão passando os 5 camaradas de Cuba, que hoje em dia são prisioneiros nos Estados Unidos. Há exemplos nisto que é necessário e é justo que nós, como revolucionários, que temos demonstrado na prática, na defesa do processo revolucionário, nos dê o direito à palavra, que nos permita fazer esta mesma proposta de um juízo popular que esclareça a situação da Mitsubishi, que esse juízo defina como movimento operário, que é inaceitável a demissão destes 11 dirigentes. Demonstraremos que nós, trabalhadores da MMC, sofremos com estas demissões como um golpe de Estado, como o do dia 11 de abril de 2002. Todas estas ações servirão para que nós, trabalhadores da MMC, tenhamos nosso 13 de abril que permita frear as transnacionais imperialistas, a burocracia e aos reformistas que parasitam o Estado, que pretendem frear o processo revolucionário.

Source: Esquerda Marxista