Venezuela: Alan Woods responde aos ataques da direita

Em janeiro deste ano, apareceu um artigo no principal jornal burguês do Brasil que se referiu a mim como “assessor de Chávez”. Poucas semanas depois, a mesma história apareceu na primeira página do jornal de oposição venezuelano “Tal e Qual”. "Tal e Qual" é editado por Teodoro Petkoff, que escreveu o artigo. Na ocasião, eu respondi ao Sr. Petkoff. Mas, como um jornalista cínico disse uma vez: ‘por que deixar que os fatos estraguem uma boa história’?

Nas últimas semanas, esta campanha vem crescendo. A história foi retomada pela maioria da imprensa na Venezuela: Ultimas Noticias, El Correo del Orinoco, Diario El Progreso, VenEconomia, Analítica, Entorno Inteligente, El Mundo e outros. No domingo, dia 21 de novembro de 2010, El Universal, jornal venezuelano de oposição com a maior circulação, publicou em sua primeira página um artigo reiterando os ataques a Alan Woods, com um artigo de página inteira e nas páginas centrais repetiu as mesmas bobagens.

Tudo isso pretende criar uma atmosfera de medo e empurrar as pessoas para o campo da oposição. A história sobre um obscuro "assessor" estrangeiro tem privado várias velhinhas de seu sono em Caracas. Como a história se repete com diferentes variantes, adquire características cada vez mais grotescas, para não dizer ridícula.

A lenda de Alan Woods como assessor de Chávez adquiriu asas e já atravessou o oceano para aterrisar sobre a mesa estrangeira, no The Economist. Este jornal, normalmente sério e conservador, recentemente repetiu as bobagens, que eu respondi em uma carta ao editor da seguinte forma:

“Senhor,

Na edição desta semana da revista The Economist fui descrito como um assessor informal do presidente Chávez. Isso é incorreto. Eu não sou nem nunca fui um assessor, seja formal ou informal, do presidente da Venezuela.

Eu tenho escrito, do ponto de vista marxista, muito sobre a Venezuela. Tenho sempre defendido o presidente Chávez contra os ataques rancorosos e tendenciosos da mídia. Eu sou um firme defensor da Revolução Bolivariana, mas sou totalmente independente do governo bolivariano assim como de qualquer outro governo.

Eu apoio as nacionalizações na Venezuela, mas ressalto que as realizando de maneira parcelada é impossível que funcionem. Podemos ter uma economia de mercado, ou podemos ter uma economia socialista planejada, mas não podemos ter ambos.

O The Economist se opõe ao socialismo e à estatização. Então, logicamente, você não concorda com o meu ‘conselho’ para nacionalizar a terra, os bancos e as grandes indústrias na
Venezuela. Em vez disso, você defende a economia de livre mercado (capitalismo).

Uma grande parte dos problemas da economia venezuelana é resultado de atos de sabotagem por parte dos proprietários da indústria privada. As nacionalizações são uma medida defensiva para manter a produção.

Seu correspondente emite um terrível aviso de que mais nacionalização significa ‘escassez e declínio econômico’. Mas esse é precisamente o futuro que enfrenta a Irlanda, Grécia e toda a Europa como resultado de prosseguirem as políticas de ‘livre mercado’ para as duas últimas décadas.

Finalmente, gostaria de lembrar que a última vez a Venezuela implementou a economia de livre mercado, levou a uma catástrofe social na milhares de pessoas desarmadas foram mortas nas ruas de Caracas em fevereiro de 1989.Foi precisamente isso o que levou à ascensão de Hugo Chávez, um fato que nunca é mencionado pela mídia anti-Chávez.”

Poderia se pensar que isso seria suficiente para calar os meus críticos, mas eles obviamente não têm a intenção de permitir que as velhinhas durmam tranquilamente em suas camas. Os ataques continuam e não mostram sinais de diminuir. Hoje (26 de novembro de 2010) me disseram que ressurgiram na edição do Herald Tribune na América Latina.

Parece que o fantasma do comunismo está assombrando Venezuela. Por isso, é tempo de exorcizar o fantasma e explicar os fatos do presente caso.

Discurso do Muchacho

Todos os recentes artigos da imprensa venezuelana de direita foram baseados em uma coletiva de imprensa dada no dia 4 de Novembro por Ramón Muchacho, o líder nacional do principal partido da oposição, Primero Justicia (PJ), na qual ele criticou meu artigo “Para onde está indo a Revolução Venezuelana? O discurso inteiro pode ser encontrado (em espanhol) no YouTube.

Acenando uma cópia do meu artigo para as câmeras, o líder do PJ me descreve como "um político e escritor [...] da Inglaterra, líder da Corrente Marxista Internacional, autor de dois livros sobre a Venezuela, um amigo pessoal do presidente e de sua família e principal ideólogo do partido no poder”.

Eu também sou descrito como “o principal ideólogo e assessor do presidente”.

O líder da oposição está ansioso para me promover para as alturas mais vertiginosas. Eu sou agora, não só o principal assessor de Chávez, mas também o principal ideólogo do partido no poder, isso deve ser tão surpreendente para a liderança do PSUV quanto é para mim. Só resta agora nomear-me assessor do Papa de Roma e principal ideólogo do Dalai Lama, e o quadro estaria completo.

Em que Ramón baseia essas afirmações? Em fotos minhas tiradas junto ao Presidente. Agora, se todo mundo que tirou foto com o Presidente pode ser considerado um assessor, então Chávez deve ter mais assessores que qualquer outro líder da história mundial. Se, no final, ele falhar, certamente não será por falta de conselhos!

Eu sempre defendo Chávez e a Revolução Bolivariana contra o imperialismo e a oposição contra-revolucionária. Nunca tive medo de expressar minhas opiniões, que podem ou não coincidir com as dele. Se fazer isso pode ser considerado assessoria eu não sei. Quem lê meus artigos são livres para concordarem ou discordarem, como preferirem.

Agora, creio que dando o melhor do meu conhecimento, não seja crime expressar uma opinião sobre qualquer assunto. “El Universal” tem, por anos sempre manifestado suas opiniões sobre a Revolução Bolivariana, e ninguém vê nada de errado nisso. Talvez a objeção seja porque eu não sou um cidadão venezuelano. Mas o The Economist, The Wall Street Journal e CNN também estão expressando suas opiniões sobre Chávez há anos. No entanto, o Sr. Muchacho não vê nada de obscuro nisso.

O problema não é, portanto, eu estar dando conselhos, mas a natureza desses conselhos. A imprensa direitista aconselha a Venezuela a apoiar o capitalismo, e eu escrevo artigos defendendo a expropriação da oligarquia e o estabelecimento de uma economia socialista planificada democrática.

Estou de acordo com as desapropriações realizadas pelo governo bolivariano. Mas, aprovar alguma coisa não significa necessariamente que eu sou responsável por ela. Estou de acordo com a teoria de Darwin da evolução, mas não coloquei a mão na redação de A Origem das Espécies. Aqui, como em todo lugar, a lógica da crítica a mim feita não é só deficiente, mas infantil ao extremo.

Mentiras da oposição

De acordo com Muchacho meu artigo “recomenda acelerar e aprofundar o comunismo e nacionalizar toda a economia”. Isto, disse ele: “violou o direito à propriedade privada consagrado na Constituição”.

Mais tarde cuidaremos da atitude do Sr. Muchacho em relação à Constituição. Por ora, basta dizer que em nenhuma parte deste artigo (ou qualquer outro) eu defendo “nacionalizar toda a economia”, como o Sr. Muchacho está bem consciente. Muchacho, certamente não tem nenhuma intenção de deixar os fatos estragarem o seu “caso” contra a expropriação da propriedade da oligarquia. Ele persiste em deturpar o que eu escrevi. Ele continua:

“Da mesma forma que no documento, Woods diz que em Cuba se nacionalizou até mesmo os cabeleireiros e engraxates, tudo foi apreendido e ninguém foi poupado.”

Antes que isso cause uma debandada de cabeleireiros e engraxates no aeroporto mais próximo, vamos ler o que eu realmente escrevi:

“É bem verdade que uma economia planificada não precisa nacionalizar tudo até a última barbearia. Esta sempre foi uma caricatura stalinista. Em Cuba a nacionalização de todas as pequenas e médias empresas ocorreu como parte da “ofensiva revolucionária” em 1968, quando 58.000 empresas de pequeno porte, principalmente nas cidades, foram expropriadas. Sorveterias, barbearias, lojas de reparação de calçado, etc, todos foram nacionalizadas.
Esta era uma fase completamente desnecessária, que só resultou na criação de uma camada adicional de burocracia para supervisionar e administrar estas unidades muito pouco produtivas.

Na transição para o socialismo, é inevitável que elementos do capitalismo continuem a coexistir com os elementos de uma economia socialista planificada. Isso inclui um certo número de pequenas empresas, lojas e pequenos pedaços de terras de camponeses, etc.

Isso não representa de forma alguma uma ameaça ao socialismo, enquanto os pontos chaves da economia continuarem nas mãos do Estado, e o Estado e a indústria nas mãos da classe trabalhadora. Nessa condição, e só com esta condição, um pequeno setor privado pode e deve ser permitido, desde que o estado mantenha o firme controle sobre os postos de comando da economia.”

"Mais uma vez, o Sr. Muchacho atribui a mim idéias que são opostas ao que eu defendo. Eu defendo não a nacionalização de empresas de pequeno porte, mas sim a expropriação das grandes propriedades, dos latifundiários, dos bancos e dos monopólios.

Isso não está perfeitamente claro e inequívoco? Sim, está. Mas Muchacho insiste em dizer que isso é uma armadilha, uma mentira, com a intenção de ocultar a verdadeira intenção dos marxistas, que é de “nacionalizar tudo”.

Agora, vamos pedir ao Sr. Muchacho que faça um grande esforço e seja sério por um momento, se ele puder. Você tem feito um grande rebuliço sobre o meu artigo que você alega representar as reais intenções do Presidente Chávez. Segundo você, não se pode acreditar no que meu artigo diz, porque ele contém uma “armadilha”, então não devemos acreditar no que o artigo diz, mas sim no que o Sr. Muchacho diz que o artigo diz.

Uma das duas coisas: ou o artigo em questão representa corretamente os pontos de vista de Alan Woods (e, por consequência, de Hugo Chávez) ou não. Se a sentença mencionada acima não quer dizer realmente o que diz, por que deveríamos supor que o resto dela quer? Isto é realmente para criancinhas. Mas os venezuelanos não são crianças e eles sabem reconhecer distorções e mentiras quando se deparam com elas.

O que o artigo diz é que nós:

“Defendemos a expropriação da propriedade da oligarquia, os grandes bancos, monopólios e propriedades, a nacionalização dos altos comandos da economia, como meios necessários para defender a revolução.”

Nós não estamos totalmente convencidos dos atributos intelectuais Sr. Muchacho, mas assumimos que, pelo menos, ele sabe ler. E quem pode ler verá imediatamente que eu disse que a única coisa que deve ser expropriada é a propriedade da oligarquia. Sob circunstância alguma a propriedade da classe média deve ser tocada. Nós não estamos interessados no camponês que tem um pequeno lote de terra e mantém algumas galinhas, em pequenas lojas e empresas. Estas estarão melhores se deixadas em mãos privadas.

Isto está escrito com muita clareza em preto e branco, e quem diz que eu defendo a “nacionalização de tudo”, está meramente distorcendo o que eu escrevi. Ou eles não entenderam o que está escrito, e neste caso eles são estúpidos, ou eles entenderam e estão tentando fazer parecer o contrário, e neste caso eles são trapaceiros. No caso do Sr. Muchacho, podemos ser caridosos e aceitar que é o primeiro caso. Mas como os advogados dizem: a ignorância não é desculpa.

Pequenas empresas e grandes empresas

Em meu artigo eu escrevi:

“O primeiro passo necessário para criar uma economia socialista planificada é a nacionalização dos bancos e a fusão deles em um banco estatal único. A expropriação dos bancos e dos monopólios é o único caminho realista para defender a revolução contra a sabotagem sistemática dos capitalistas.”

Estas linhas, que são completamente verdadeiras, produziu tal ataque de fúria em Ramón Muchacho que se deve temer por sua pressão arterial. Ele protesta que: “o governo vê os empregadores, trabalhadores e investidores, não como aliados para criar empregos e desenvolver o nosso país, mas como um inimigo a destruir”.

Aqui o truque é repetido. A passagem acima se refere exclusivamente aos bancos. No entanto, ela é descrita como um ataque contra “os empregadores, trabalhadores e investidores” em geral. Isso é um absurdo. Nós não queremos destruir ninguém, mas apenas pôr um fim em uma situação inaceitável onde as principais decisões econômicas são tomadas por um punhado de indivíduos não-eleitos e super-ricos que controlam os bancos e grandes empresas.

Em meu artigo eu escrevi:

“Os ricos vão protestar que isso é um ataque contra ‘o direito à propriedade privada’. Mas isso é uma mentira. Para nós, o direito à propriedade privada de 98 por cento dos venezuelanos é intocável. Mas a propriedade da oligarquia – aquele punhado de parasitas que se apoderaram das riquezas da Venezuela por gerações, à custa de muito sangue. - é outra coisa...

Os ricos vão protestar que isso é um ataque contra ‘o direito à propriedade privada’. Mas isso é uma mentira. Para nós, o direito à propriedade privada de 98 por cento dos venezuelanos é intocável. Mas a propriedade da oligarquia – aquele punhado de parasitas que se apoderaram das riquezas da Venezuela por gerações, à custa de muito sangue. - é outra coisa.”


Em nenhum sentido isto pode ser interpretado como um ataque aos trabalhadores ou a pessoas de classe média. É o sistema capitalista que destrói empregos, fecha fábricas,
envia bilhões para fora do país e submete tudo aos lucros de um punhado de famílias super-ricas.

Muchacho diz que o meu artigo “propôs substituir gradualmente os grandes e pequenos agricultores como produtores de alimentos” e que o governo “quer eliminar as poucas cadeias alimentares que permanecem em mãos privadas, incluindo os pequenos fornecedores e armazéns”. Ninguém pode negar que há problemas graves em relação a produção e distribuição de alimentos. Quem ousaria dizer que a agricultura venezuelana e a distribuição de alimentos têm sido bem servidas pelos grandes latifundiários e monopólios dos alimentos?

Sr. Muchacho diz:

“Aqui está a armadilha [preparada pelos] círculos dominantes. Dizem que não é necessário expropriar a menor das barbearias e que as pequenas empresas não devem ser tocadas. Isto é o que eles querem que o povo venezuelano pense, mas nós temos visto que as expropriações afetam a todos nós igualmente, porque somos mais pobres e eles tiram dos venezuelanos as oportunidades futuras para crescerem e se tornarem donos de nossas casas, empregos e empresas de pequeno porte.” (minha ênfase, AW)

Aqui, a vigarice está claramente exposta em toda sua crueldade descarada. O truque é para que os representantes políticos das grandes empresas possam posar de defensores da propriedade privada em geral, a fim de proteger a propriedade dos grandes latifundiários, os bancos e os monopólios. Para fazer isso, eles tentam enganar a classe média e fazê-la pensar que socialismo significa “nacionalizar tudo”.

O que o meu artigo propôs foi a desapropriação da Polar. Por acaso o líder da PJ acha que a Polar é um “pequeno fornecedor”? É constituída por 40 empresas diferentes, com 19.000 trabalhadores diretos e 150.000 indiretos. Seu faturamento anual é de US $ 3 bilhões. A Polar é, de fato, a maior empresa privada da Venezuela, e representa 2,4 por cento do PIB não petrolífero.

Já vimos que o líder da PJ é uma pessoa muito crédula, que acredita em contos de fadas, especialmente do tipo utilizado para assustar criancinhas. Aqui está ainda outro conto de fadas: que qualquer venezuelano comum, através do trabalho duro, pode aspirar ser tão rico como o dono da Polar, Lorenzo Mendoza. Ele é um dos homens mais ricos da Venezuela, e o 258º homem mais rico do mundo em 2010, com uma fortuna estimada em US $ 3,5 bilhões (subindo do 337º e de US $ 2 bilhões em 2009).

A dominação das grandes empresas faz com que seja materialmente impossível para os pequenos empresários alcançarem o progresso e tornarem-se capitalistas de grande escala, como fizeram no passado. Na realidade, os interesses da classe média e das pequenas empresas estão em contradição com os interesses das grandes empresas. O pequeno lojista está sempre em dívida para com os grandes bancos. Ele é empurrado para fora do mercado pelos grandes supermercados. O pequeno camponês também está em dívida para com os grandes bancos e está constantemente sendo roubado pelas grandes empresas de fertilizantes e pelos grandes supermercados que pagam-lhe pouquíssimo por sua produção para obter gordos lucros.

Muchacho continua: “Da mesma forma que despedaça as aspirações de muitos venezuelanos que aspiram ter suas próprias casas e terras e se tornarem donos do seu trabalho, prosperidade e futuro”.

Na realidade, sob o sistema capitalista é impossível para a grande maioria possuir suas próprias casas, ou mesmo a obtenção de um teto sobre suas cabeças. Mesmo a classe média, que se esforça para economizar dinheiro suficiente para comprar uma casa, encontra-se frequentemente vítima de exploradores sem escrúpulos e construtores. No melhor dos casos são sobrecarregados com enormes dívidas aos bancos e passam o resto de suas vidas pagando-os.

Recentemente, o presidente Chávez anunciou a expropriação das empresas de construção que ilegalmente aumentam os preços das casas depois que sua venda tinha sido acordada, e então não conseguem terminar os edifícios a tempo, obrigando os moradores a continuarem pagando além dos prazos estabelecidos. Essa ação contra a máfia da construção foi justificada ou não? Creio que foi totalmente justificada e serve aos interesses de pessoas de classe média que são vítimas da máfia da construção.

A nacionalização de grandes bancos e monopólios, no entanto, é uma medida que serve os interesses dos pequenos empresários. O Estado pode garantir-lhes empréstimos baratos, em condições muito melhores do que os banqueiros privados, cujo único interesse é enriquecer a custas das pequenas empresas e do público em geral. Ao nacionalizar o sistema bancário, o governo pode começar a planejar a economia, utilizando os vastos recursos dos bancos para promover o investimento produtivo e prestar assistência a quem dela necessitar.

Socialismo e Democracia

A maior mentira é que eu defendo, para a Venezuela, o tipo de sistema burocrático totalitário que existiu na URSS, o que Muchacho chama de “comunismo”, embora isto nunca tivesse nada a ver com o comunismo ou o socialismo. A oposição contra-revolucionária está tentando desacreditar a tendência marxista, associando-a ao totalitarismo stalinista. Eles não terão sucesso.

Na verdade, eu não defendo que a Revolução Venezuelana siga qualquer “modelo” de outro país, e menos ainda que siga o da Rússia estalinista. A Revolução Venezuelana irá proceder de acordo com sua própria dinâmica e as leis que devem refletir as condições concretas do país, sua história e tradições peculiares. Não pode haver nenhuma questão para impor qualquer sistema externo que é alheio a estas tradições.

No entanto, quando destaquei que “a superioridade da economia nacionalizada e planificada foi demonstrada pelo enorme sucesso da União Soviética, no passado”, eu estava simplesmente declarando um fato. O sucesso econômico da economia planificada na Rússia não pode ser negado. As vantagens de uma economia planificada permitiram à atrasada Rússia se transformar rapidamente em uma economia avançada moderna. Isto provou que era possível dirigir a sociedade, sem capitalistas, latifundiários feudais e emprestadores de dinheiro, e obter excelentes resultados.

Por muitos anos os apologistas do capitalismo têm espalhado seu desgosto contra a União Soviética. Mas o fato é que a supressão dos mecanismos de mercado e a introdução da economia planificada revolucionou as forças produtivas e as bases para uma economia moderna. Nos cinquenta anos, de 1913 (auge da produção pré-revolucionária) a 1963, a produção industrial total da URSS aumentou mais de 52 vezes. O valor correspondente para os EUA foi inferior a seis vezes.

Em poucas décadas uma economia agrícola e atrasada foi transformada no segundo país mais poderoso do mundo. Desenvolveu-se uma poderosa base industrial, alto nível cultural e mais cientistas do que os EUA e o Japão juntos. A expectativa de vida mais do que duplicou e a mortalidade infantil caiu por nove vezes. Tal avanço econômico, em um tempo tão curto, não tem paralelo no mundo. Os aluguéis foram fixados em cerca de 6% da renda mensal. Um pequeno apartamento em Moscou, até o início de 1980, custava US $ 17 por mês, e incluia gás, electricidade, telefone e água quente ilimitada.

Lembremos também que a URSS derrotou os exércitos de Hitler, pois a superioridade colossal de uma economia nacionalizada e planificada lhes permitiu produzir mais e melhores armas e máquinaria mais rapidamente do que a Alemanha nazista, com todos os recursos produtivos da Europa.

Os apologistas do capitalismo não pouparam esforços para associar o socialismo com o regime burocrático totalitário, que surgiu a partir do isolamento da revolução num país atrasado. No entanto, o início do regime estabelecido pela revolução não foi nem burocrático nem totalitário, mas o regime mais democrático já visto na terra.

No entanto, o isolamento da revolução, em condições terríveis de atraso econômico, social e cultural levou a um processo de degeneração em que o regime de democracia operária estabelecida por Lênin e Trotsky foi substituído pela monstruosamente deformada caricatura sob Stalin. No final, a URSS foi prejudicada pela burocracia, que terminou com a restauração do capitalismo. Mas, longe de representar um avanço, a substituição da economia planificada pela “economia de mercado” levou ao maior colapso econômico e cultural na história.

A burocracia não é um resultado inerente de uma economia planificada. É um produto do atraso, como vemos em muitos países capitalistas subdesenvolvidos. Paquistão e Nigéria são os países que claramente não tem nada a ver com o socialismo, mas eles sofrem com a burocracia e a corrupção em todos os níveis. Pode-se acrescentar que isso é, infelizmente, também o caso da Venezuela.

A luta pelo socialismo na Venezuela é inseparável da luta contra estes males. A economia nacionalizada e planificada precisa de democracia como o corpo humano precisa de oxigênio. Deve ser acompanhada pelo controle e administração democrática da classe trabalhadora em todos os níveis, tanto na elaboração do plano e como no trabalho de colocá-lo em prática. Eu não falo aqui da democracia burguesa fraudulenta que é apenas uma cobertura para a ditadura dos grandes bancos e monopólios, mas de uma democracia verdadeira.

Nós rejeitamos a burocracia e o totalitarismo, mas defendemos o que foi progressivo na Revolução Russa: uma economia nacionalizada e planificada. Mas desde que todas as menções à URSS provocam um ataque apoplético no líder da PJ, vamos proporcionar-lhe um exemplo completamente diferente que comprova a superioridade do planejamento central. Em 1940, quando a Inglaterra enfrentou uma situação crítica, o Sr. Churchill não confiou na “economia de livre mercado”, mas recorreu à centralização, nacionalização e ao planejamento estatal dirigido. Por quê? Porque eles dão melhores resultados.

Por que a nacionalização é necessária

The Economist escreveu recentemente:

“As pesquisas sugerem que a maioria dos venezuelanos desaprova a nacionalizações e apoiam firmemente a propriedade privada. Mas Chávez parece estar seguindo os conselhos de Alan Woods, um trotskista galês, que se tornou um assessor informal. Sr. Woods [...] exortou publicamente o presidente a responder à sua derrota eleitoral, ‘acelerando o processo revolucionário’, expropriando terras, bancos e as principais indústrias. É melhor os venezuelanos se prepararem para mais nacionalização, escassez e declínio econômico.”

Nós não sabemos a que as pesquisas eles estão se referindo aqui. Mas nós sabemos que a resposta será determinada pela forma como a questão é colocada. Se as pessoas estão se perguntando: “Você é a favor do estado nacionalizar tudo, incluindo sua casa, carro, jardim e mulher”, há uma possibilidade razoável de que a resposta será negativa. Mas se a pergunta é: você é a favor da abolição da ditadura da oligarquia, expropriando os grandes latifundiários, banqueiros e capitalistas, é bastante provável que a resposta seria diferente.

Por que precisamos dar esse passo? Não é por razões dogmáticas nem por desejo de vingança. É uma questão de necessidade econômica. Você não pode planejar o que você não controla. E você não pode controlar o que você não possui. Tomemos um exemplo chave: investimento produtivo. Todo mundo concorda que o principal problema da economia venezuelana é a falta de investimento privado. Qual é a razão para isso? Em parte, isso se deve a considerações de ordem política: uma tentativa de sabotar o governo bolivariano. Mas esta não é a única, ou mesmo a razão principal.

O Estado só pode planejar a parte da economia que foi nacionalizada. Como muitas das empresas que foram tomadas estavam falidas, não produziam lucros e eram mal dirigidas, elas exigem muito investimento para torná-las viáveis. Isto impõe uma pesada carga sobre o estado e sobre as finanças públicas, enquanto os setores mais rentáveis permanecem em mãos privadas. É um caso de nacionalizar os prejuízos e privatizar os lucros. Isto acabará sendo inviável.

A falta de nacionalização dos altos postos de comando da economia cria contradições em todos os níveis, e que fatalmente acaba em uma situação caótica. Combinará todos os piores males da anarquia capitalista (investimentos em queda, fuga de capitais, fechamentos de fábricas, inflação e desemprego), com todas as características mais negativas da burocracia (desperdícios, má gestão, ineficiência e corrupção). Por um tempo a imensa riqueza em petróleo da Venezuela pode tolerar essa situação, mas não indefinidamente.

O setor privado não está investindo na Venezuela. Nas palavras do repórter do Diário da Economia:

“A desvalorização do Bolívar torna os produtos venezuelanos relativamente mais baratos, mas os empregadores estão em dúvida se devem investir durante uma recessão. Além disso, eles passaram por anos de intimidação do presidente, que nacionalizou amplos setores industriais” Fonte: Editorial in Reporte Diario de la Economía, 13 de janeiro de 2010,pag 11. (Citado na Venezuela: Expropriações de bancos, congresso do PSUV e renascimento do movimento operário).

Em vez disso, há uma fuga de capitais, ou, para chamar-lhe pelo nome correto, um ‘strike’ do capital. Segundo o Banco Central da Venezuela (BCV), no primeiro semestre de 2009 a fuga de capital foi de 8,11 bilhões de dólares. Em 2007 o valor era o dobro: $ 16,49 bilhões.

Como resultado, houve um fechamento de empresas em massa durante o ano passado. Durante os últimos dez anos, a burguesia fechou mais de 4000 empresas de médio e grande porte, de acordo com a Conindustria. A mesma pesquisa diz que se espera que menos de 15% dos capitalistas aumentem sua folha de pagamento deste ano, e apenas 60% dos investimentos de capital no setor manufatureiro será de investimentos operacionais.

Estes números mostram que os capitalistas não podem desenvolver a economia venezuelana. Pelo contrário, eles a estão destruindo. A continuação da situação atual significa mais fechamentos de fábricas, mais desemprego, mais inflação e mais caos.

O problema com o reformismo é que torna impossível o funcionamento normal do capitalismo, mas não põe nada coerente em seu lugar. Nacionalização parcial não resolve nada fundamental. Pelo contrário, ela distorce o mecanismo de mercado e provoca o caos. Continua impossível ter um planejamento racional de produção, pois as peças-chaves da economia permanecem em mãos privadas. Somente quando os pontos-chaves da economia forem nacionalizados, será possível mobilizar o colossal potencial produtivo da Venezuela para servir aos interesses do povo.

O controle operário

A nacionalização vai levar a um regime burocrático e totalitário como o da Rússia? Tal conclusão seria errônea. Dizemos que os setores chaves da economia (mas não as pequenas empresas) devem estar nas mãos do Estado. Mas também dizemos que a indústria e o Estado devem estar nas mãos dos trabalhadores.

Contrariamente às afirmações da revista The Economist, onde as empresas foram nacionalizadas, houve uma resposta entusiástica por parte dos trabalhadores.

A história da última década já é suficiente para mostrar o enorme poder criativo das massas. Ele tem se manifestado em todas as fases críticas da Revolução. Durante a greve dos patrões, os trabalhadores ocuparam as instalações petroleiras, expulsaram os antigos gestores contra-revolucionários e mantiveram as instalações sob controle operário. Eles não só salvaram a Revolução, mas também mostraram que eles eram capazes de controlar a indústria obtendo melhores resultados do que antes.

O que vale para os petroleiros também vale para qualquer outro ramo da indústria. Temos visto muitos outros exemplos que mostram que os trabalhadores são capazes de controlar a indústria e aumentar a produtividade, se eles são autorizados a fazê-lo. Mas a burocracia tem empreendido uma campanha sistemática para desacreditar a idéia de controle e gestão dos trabalhadores, sabotando qualquer movimento nesse sentido.

Nas mãos dos burocratas, a nacionalização se transforma em um peso morto. Os maus hábitos de má gestão burocrática, estelionato e corrupção reaparecem. Os trabalhadores se sentem alienados, o descontentamento cresce e se reflete em baixa produtividade. Desta forma, a burocracia desacredita a própria idéia de nacionalização.

Nas palavras de Fernando Buen Abad:

“Uma das expressões mais odiosas [da burocracia] é que, no meio de um processo revolucionário como o da Venezuela, os burocratas se reagrupam como uma força contra-revolucionária entre a elite dominante, a fim de desfrutar de todas as regalias possíveis, enquanto as pessoas que vivem na pobreza vêem as suas necessidades mais vitais sendo colocadas em segundo plano.”

“Uma das expressões mais odiosas [da burocracia] é que, no meio de um processo revolucionário como o da Venezuela, os burocratas se reagrupam como uma força contra-revolucionária entre a elite dominante, a fim de desfrutar de todas as regalias possíveis, enquanto as pessoas que vivem na pobreza vêem as suas necessidades mais vitais sendo colocadas em segundo plano.”

Recentemente, Chávez disse que a Revolução Bolivariana não pretende abolir o Estado, mas construir um novo Estado. Pra todo mundo, exceto para os anarquistas, é evidente que a Revolução Bolivariana não pode abolir o estado. A Revolução necessita do poder estatal para derrotar seus inimigos e organizar a produção em linhas socialistas. A questão é quem controla o Estado? Quem detém o poder?

Uma coisa é clara: é impossível defender a Revolução, com base em uma burocracia que se opõe à revolução. É possível se mover na direção do socialismo, enquanto os antigos funcionários que sobraram da República IV permanecerem no controle do Estado? Basta colocar a questão para que ela responda por si mesma. Precisamos de um Estado? Sim, claro. Mas precisamos de um estado que é completamente diferente do velho Estado corrupto e opressivo que foi aperfeiçoado pela oligarquia há décadas para defender os seus interesses.

Chávez chamou a atenção para o perigo representado pela burocracia contra-revolucionária: “Burocracia e corrupção são uma fórmula venenosa que está dentro de nós” ... “É a quarta república e tem que haver uma batalha até a morte porque isso pode matar o melhor dos sonhos revolucionários.” Qual é a solução? Assim, foi previsto há muito tempo por Lênin, que no seu Estado e Revolução explicou as condições para a verdadeira democracia dos trabalhadores:

  1. Eleições livres e democráticas, com o direito de revogação de todos os funcionários pelos soviéticos.
  2. Nenhum funcionário deve receber um salário maior do que o de um trabalhador qualificado.
  3. Nenhum exército permanente, mas um povo armado.
  4. Gradualmente, todas as tarefas de controle do Estado devem ser realizadas por todos, por vezes.

Como você pode ver, não há nada remotamente totalitário neste programa. É o programa mais democrático de qualquer estado na história. Para que o socialismo seja uma realidade, e não apenas palavras, os trabalhadores devem assumir a administração da indústria, da sociedade e do Estado em suas próprias mãos. Essa é a essência de uma revolução socialista. Todo o resto são apenas palavras vazias.

Muchacho e a democracia

O líder do Primero Justicia se opõe à minha proposta de acelerar a revolução bolivariana, e diz que deve haver um sentido de urgência. Ele acha que isso é “muito violento”. O Sr. Muchacho conclui:

“Esse caminho comunista Marxista bloqueia qualquer possibilidade dos venezuelanos de se elevarem acima de nós mesmos, colhendo os frutos do nosso trabalho e iniciativa. Ele ri dos desejos expressados [nas eleições] em 26 de setembro, e contradiz a Constituição.”

A ironia disso não passará despercebida de ninguém que conheça a história recente da Venezuela. Ramón Muchacho, sem enrubescer, ministra palestras sobre a inviolabilidade da Constituição e nos acusa de “violar a vontade popular”, expressa através de eleições! Recordemos que o primeiro ato dos contra-revolucionários em 2002 foi anunciar a abolição da Constituição e a demissão de todos os representantes eleitos pelo povo. Já houve tal hipocrisia descarada?

Muchacho acusa-me de escrever um “documento muito violento” (que não é o caso), mas ele esqueceu tudo sobre a violência contra-revolucionária em 2002. Ao tomar frases isoladas de meu artigo Muchacho tenta distorcer o seu significado. Eu escrevi que, “um lado deve ganhar e o outro perder, não há terceira via”. E isto é perfeitamente verdadeiro, como Muchacho conhece muito bem.

Em abril de 2002 ele e os outros líderes do Primero Justicia estavam determinados a esmagar a Revolução Bolivariana pela força. Não ouvimos falar então sobre conciliação ou unidade nacional. Entre maio de 2001 e novembro de 2004 Muchacho trabalhou como secretário e porta-voz de Alfredo Peña, o famoso mentor do golpe e ex-prefeito de Caracas, que agora está escondido em Miami porque a Venezuela pediu a sua extradição. Este arco-reacionário foi o responsável pelo uso deliberado da força policial local (Polícia Metropolitana) para reprimir o povo que resistiu ao golpe.

Muchacho diz que ele é a favor da unidade. Ele prega o amor fraterno e a reconciliação entre as classes. Ele afirma que “a única maneira de ter uma Venezuela, com oportunidades para todos, onde podemos prosperar é quando o governo, iniciativa privada e dos trabalhadores reunem-se na mesma direção e param de lutar um contra o outro”.

A oposição contra-revolucionária que há mais de uma década não cessou seus ataques beligerantes sobre o governo democraticamente eleito agora nos diz que devemos parar de lutar e nos dá palestras sobre a necessidade da unidade nacional e de amor fraterno entre trabalhadores e capitalistas, entre ricos e pobres. Se as consequências não fossem tão sérias seria engraçado. Não há possibilidade de unidade entre interesses antagônicos. A Bíblia nos diz que o lobo e o cordeiro viverão juntos, e o leopardo dormirá com o cabrito. É uma imagem bonita, mas na vida real um cordeiro que tentou confraternizar com o lobo logo veio a acabar mal.

O presidente da PJ, Julio Borges, um dos líderes mais agressivos da contra-revolução, foi uma das principais figuras do golpe de 2002, embora nunca tenha sido preso por nada disso. Após o colapso do golpe de Estado, PJ passou a apoiar a greve dos patrões de dezembro de 2002-janeiro 2003, que custou ao país cerca de 10 milhões de dólares americanos.

Somente quando as repetidas tentativas de derrubar o governo foram derrotadas pela ação das massas é que os líderes da oposição descobriram as alegrias da democracia parlamentar, paz e harmonia. Os trabalhadores da Venezuela não podem de jeito nenhum confiar nessas frases sobre a unidade nacional. A união entre trabalhadores e capitalistas é a unidade entre o cavalo e o seu cavaleiro.

A oposição contra-revolucionária já aprendeu que a melhor forma de defesa é o ataque. Ao criar uma tremenda confusão sobre o alegado perigo de “extremismo comunista”, ela que esconder seu próprio extremismo de direita. Gritando sobre a alegada ameaça à Constituição eles pretendem esconder o fato de que a primeira coisa que eles fariam é abolir a Constituição Bolivariana. Ao acusar-nos de “palavras violentas” eles querem que nós esqueçamos os atos violentos pelos quais eles foram responsáveis no passado e vão repetir no futuro - se forem permitidos. Ao inventar a lenda dos assessores estrangeiros para Chávez, pretendem desviar a atenção dos consultores estrangeiros em Washington, que ditam tudo o que eles dizem e fazem.

O que isso significa?

20 anos desde a queda do Muro de Berlim não restou pedra sobre pedra da afirmação da superioridade da economia de mercado. Em todos os lugares o capitalismo se encontra numa crise profunda, milhões perderam seus empregos e o mundo está em um estado de agitação. A restauração do capitalismo na Rússia, Europa Central e Oriental criou um pesadelo para a classe trabalhadora. Contudo, o nosso amigo Muchacho continua a cantar os louvores da “economia de mercado”. Podemos imaginar em que planeta estes senhores vivem.

Sob essas condições, está fora de questão existir um capitalismo com face humana e um capitalismo “ruim” (neo-liberalismo). De fato, a crise do capitalismo torna o reformismo impossível. Os enormes déficits forçam a burguesia a atacar os padrões de vida e a tomar as concessões feitas no passado em áreas como saúde, habitação e educação. Se isso é verdade na Europa, é cem vezes mais na Venezuela!

O que este ataque em grande escala contra a tendência marxista significa? Por um lado, é apenas o último de uma série de ataques e calúnias contra Chávez e suas políticas socialistas, que são descritas como “extrema”, “comunista”, “assim como a Rússia”, e assim por diante. Nesse sentido, não é nada novo.

Mas há também outro elemento aqui. Os contra-revolucionários tentaram várias vezes derrotar a Revolução por ataque direto. Em cada ocasião eles falharam, foram derrotados pelo movimento das massas. Então, eles foram forçados a mudar suas táticas.

Sabe-se que no mundo natural os animais se disfarçam para enganar os outros animais dos quais eles querem escapar ou matar para comer. O leopardo tem manchas e o tigre tem listras. Mas a oposição venezuelana é mais parecida com o camaleão que pode adotar vários disfarces, que são destinados a confundir os insetos que eles querem consumir.

Os mesmos senhores que em Abril de 2002 lançaram um golpe contra-revolucionário que teria instalado uma ditadura brutal, agora se vestem como “Democratas”. As mesmas pessoas que queriam abolir a Constituição Bolivariana, agora se colocam como os defensores mais fervorosos da Constituição contra os marxistas.

Em todos os seus discursos e artigos a oposição-camaleoa fala sobre democracia (a mesma democracia que se preparava para abolir em 2002). Ela diz que ganhou as eleições de Setembro passado. Mas o fato é que ela perdeu as eleições. O PSUV ganhou a maioria da Assembléia Nacional. Isso é um problema para ela. Mas, como sabemos, todo problema tem uma solução. E a oposição-camaleoa está trabalhando em diversas frentes.

Por um lado, eles estão intensificando o ataque frontal à Chávez e à Revolução Bolivariana. Por outro lado, estão fazendo intrigas com a ala direita Movimento Bolivariano: aquela seção que nunca aceitou a idéia do socialismo e desapropriações e apoiam o plano conhecido como “chavismo sem Chávez”.

Estes ataques são um convite claro e sinal para os reformistas atacarem a ala marxista e separá-la de Chávez e do Movimento Bolivariano. Estes ataques são preventivos, contra a possibilidade de uma ala esquerda do PSUV dar voz às aspirações socialistas dos chavistas.

A oposição, por razões táticas, foi obrigada a colocar a máscara risonha da moderação e da democracia. Mas se eles forem autorizados a chegar ao poder, essa máscara será imediatamente posta de lado. Todas as conquistas da última década serão liquidadas. A classe dominante vai querer ensinar às massas uma lição que elas não vão esquecer. Isto não pode acontecer!

Em uma recente manifestação estudantil em apoio à transformação revolucionária do sistema universitário, Chávez disse: “Nós precisamos de um parlamento mais radical e um governo de esquerda, um Exército Nacional radical, revolucionário e próximo do povo. Não pode haver medidas militares que sejam inadequadas à vida civil. Uma única linha: radicalizar a revolução. Para essa revolução não há mais volta, aqui não há pacto com a burguesia, nunca mais”, concluiu ele, apoiado pelos gritos de milhares de estudantes de toda a nação que encheram Avenida Urdaneta.

Esta é a maneira de proceder.

Londres, 26 de Novembro de 2010.

Lista de ataques nas últimas semanas

04 de novembro de 2010. Ramón Muchacho presenta la ruta de radicalización del gobierno PARTE I , PARTE II

04 de novembro de 2010. El Nacional (Venezuela): Ramón Muchacho: “El camino marxista se burla de la voluntad del pueblo”

04 de novembro de 2010. Ultimas Noticias (Venezuela): PJ: “El camino marxista va contra la Constitución"

04 de novembro de 2010. Notiactual (Venezuela): Primero Justicia: “El camino marxista va contra la Constitución y la voluntad del pueblo"

5 de novembro de 2010. El Correo del Orinoco p. 8 (Venezuela): Primero Justicia aseguró que medidas de expropiación responden a un plan de Alan Woods

5 de novembro de 2010. Diario El Progreso (Venezuela): Primero Justicia: “El camino marxista va contra la Constitución y la voluntad del pueblo"

10 de novembro de 2010. El Universal (Venezuela): Las caras del radicalismo. Sería trágico que esta masa descontenta pisara la concha de mango de la violencia y el caos

12 de novembro de 2010. En Oriente (Venezuela): Bancos Privados por el Marxismo

15 de novembro de 2010. El Universal (Venezuela): ¿Adónde va la revolución venezolana? By Alan Woods

16 de novembro de 2010. El Universal (Venezuela). El documento de Alan Woods: lo que está pasando y lo que pasará en Venezuela

18 de novembro de 2010, The Economist in English (Great Britain): Towards state socialism. A wave of nationalization promises scarcity and decline

21 de novembro de 2010. El Universal. Radicalización es la hoja de ruta que le marcan a Chávez. Analistas consideran poro probable que el Presidente sea moderado

21 de novembro de 2010. The Economist: Hacia el socialismo de estado. Ola de nacionalización presagia escasez y declive

22 de novembro de 2010. VenEconomia: Tomado de VenEconomía Mensual, Vol. 28 No.2, noviembre de 2010 ¿A dónde va la Revolución Bolivariana?

23 de novembro de 2010. El Universal: El fin de la pequeña propiedad. Lenin lo dijo: no expulsemos sólo terratenientes y capitalistas, sino también al pequeño productor

23 de novembro de 2010. Analítica: Con mi imagen no te metas

24 de novembro de 2010, Nueva Prensa de Guayana (Venezuela): “The Economist” vaticina más expropiaciones en Venezuela

24 de novembro de 2010, Alan Woods un agente doble? Análisis de su documento lo sugiere

24 de novembro de 2010, Entorno Inteligente (Venezuela): Un banco social único es el medio para "defender" la revolución

25 de novembro de 2010, El Mundo (Venezuela): Socialismo dependiente

25 de novembro de 2010. El Universal (Venezuela): Ramos Allup presidente...

26 de novembro de 2010. Latin American Herald Tribune * (In English): VenEconomy: Where's the Bolivarian Revolution Going?

26 de novembro de 2010. El Universal: ¡Enterramos a Walid Mackled o estamos ponchaos!

Translation: Esquerda Marxista (Brazil)