Perspectivas mundiais 2021: uma era global de revolução está sendo preparada

Este documento foi aprovado, no dia 30 de julho de 2021, pelos delegados no Congresso Mundial da Corrente Marxista Internacional de 2021. Ele fornece nossa análise geral dos principais processos que ocorrem na política mundial, em um momento marcado por crises e turbulências sem precedentes. Com a dinamite nas fundações da economia mundial e a pandemia de Covid-19 ainda lançando uma sombra sobre a situação global, todos os caminhos levam a uma intensificação da luta de classes.

“No geral, a crise está se aprofundando como a boa e velha toupeira que é.” (Marx para Engels, 22 de fevereiro de 1858)

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A natureza das perspectivas

O presente documento, que deve ser lido em conjunto com o que produzimos em setembro de 2020, será um pouco diferente dos documentos de perspectivas mundiais que emitimos no passado.

Em períodos anteriores, quando os eventos se moviam em ritmo mais lento, foi possível lidar, pelo menos em suas linhas gerais, com muitos países diferentes. Agora, no entanto, o ritmo dos eventos acelerou a tal ponto que, para lidar com tudo, precisaríamos de um livro inteiro. O propósito das perspectivas não é produzir um catálogo de eventos revolucionários, mas descobrir os processos fundamentais subjacentes.

Como Hegel explicou na Introdução à Filosofia da História:

É, de fato, o desejo de uma visão racional, não a ambição de acumular uma mera pilha de aquisições, que deve ser pressuposto em todos os casos como possuindo a mente do aluno no estudo da ciência”.

Estamos lidando aqui com processos gerais, e só se pode olhar para alguns países que servem para ilustrar com mais clareza aqueles processos nessa etapa. Naturalmente, outros países serão tratados em artigos separados.

Eventos dramáticos

O ano de 2021 começou com eventos dramáticos. A crise do capitalismo mundial está produzindo ondas que se espalham de países e continentes a outros países e continentes. Por todos os lados, há a mesma imagem do caos, do deslocamento econômico e da polarização de classe.

O novo ano apenas começava, e uma turba de extrema-direita invadia o edifício do Capitólio dos EUA, em Washington, a pedido do ex-presidente dos EUA, Donald Trump – dando ao centro do imperialismo ocidental a aparência de um Estado falido.

Esses eventos, em conjunto com os eventos muito maiores, dos protestos Black Lives Matter, no verão passado, mostraram o quanto se tornou profunda a polarização na sociedade norte-americana.

Além disso, grandes protestos na Índia, Colômbia, Chile, Bielorrússia e Rússia demonstraram o mesmo processo: o ressentimento das massas está crescendo e a classe dominante não é capaz de continuar governando como antes.

Uma crise global como nenhuma outra

Essas perspectivas mundiais são diferentes de quaisquer outras com que lidamos no passado. São enormemente complicadas pela pandemia que paira como uma nuvem carregada em todo o mundo, submetendo milhões de pessoas à miséria, ao sofrimento e à morte.

A pandemia ainda está fora de controle. No momento em que escrevíamos esse texto, já havia mais de 100 milhões de casos de contaminação em todo o mundo, e quase três milhões de mortes. Essas cifras são sem precedentes fora de uma guerra mundial. E continuam a subir de forma inexorável.

Esse flagelo terrível tem seus efeitos mais devastadores na África, Ásia e América Latina. Esses são países pobres. Mas também afetou alguns dos países mais ricos.

Nos EUA, há 30 milhões de casos e o número de mortes ultrapassou a marca dos 500 mil. E a Grã-Bretanha está entre os países com maior número de mortos per capita da população: mais de 4 milhões de casos e bem mais de 100 mil mortes.

A crise atual, portanto, não é como uma crise econômica comum. É, literalmente, uma situação de vida ou morte para milhões de pessoas. Muitas dessas mortes poderiam ter sido evitadas com medidas adequadas desde o início.

O capitalismo não pode resolver o problema

O capitalismo não pode resolver o problema; ele próprio é o problema.

Esta pandemia serve para expor as divisões intoleráveis entre ricos e pobres. Ela revelou as profundas linhas de falha que dividem a sociedade. A linha entre os que estão condenados a adoecer e morrer e os que não estão.

Ela desnudou o desperdício do capitalismo, seu caos e ineficiência, e está preparando a luta de classes em todos os países.

Os políticos burgueses gostam de usar analogias militares para descrever a presente situação. Dizem que estamos em guerra com um inimigo invisível, no caso, esse terrível vírus. E concluem que todas as classes e partidos devem se unir por trás do governo existente. Mas um enorme abismo separa as palavras das ações.

O caso de uma economia planejada e do planejamento internacional é inquestionável. A crise é mundial. O vírus não respeita fronteiras ou controles de fronteira. A situação exige uma resposta internacional através da mobilização de todos os conhecimentos científicos e de todos os recursos do planeta, para que seja coordenado um plano global genuíno de ação.

Em vez disso, temos o espetáculo pouco edificante da disputa entre a Grã-Bretanha e a União Europeia sobre vacinas escassas, enquanto alguns dos países mais pobres têm acesso virtualmente negado a qualquer vacina.

Mas por que há escassez de vacinas? O problema da produção de vacinas – para citar apenas um exemplo – é um reflexo da contradição entre as necessidades urgentes da sociedade e os mecanismos da economia de mercado.

Se estivéssemos realmente em guerra contra o vírus, os governos mobilizariam todos os seus recursos para essa tarefa. De um ponto de vista puramente racional, a melhor política seria a de aumentar a produção de vacinas o mais rápido possível.

A capacidade de produção precisa ser expandida, o que só pode ser feito com a instalação de novas fábricas. Mas os grandes fabricantes privados de vacinas não têm interesse em expandir a produção massivamente porque ficariam em pior situação financeira se o fizessem.

Se aumentassem a capacidade de produção, o mundo inteiro seria abastecido em seis meses, mas as instalações recém-construídas ficariam vazias imediatamente depois. Os lucros seriam, então, muito menores em comparação ao cenário atual, onde as plantas existentes produzem, em sua plena capacidade, para os anos vindouros.

Mais um obstáculo à produção em massa da vacina é a recusa da Big Pharma em renunciar aos direitos de propriedade intelectual sobre “suas próprias” vacinas (na maioria dos casos desenvolvidas com grandes quantidades de financiamentos do Estado) para que outras empresas fossem capazes de produzi-las de forma mais barata.

As empresas farmacêuticas estão fabricando dezenas de bilhões em lucros, mas os problemas com a produção e a oferta significam escassez por todos os lados. Nesse ínterim, milhões de vidas estão em risco.

Vidas de trabalhadores em risco

Em sua pressa para recuperar e voltar a movimentar a produção (e, portanto, os lucros), os políticos e os capitalistas recorrem a atalhos. Os trabalhadores são enviados de volta aos locais de trabalho lotados e sem proteção adequada. Isso equivale a uma sentença de morte para muitos desses trabalhadores e suas famílias.

Todas as esperanças dos políticos burgueses se baseavam nas novas vacinas. Mas a distribuição das vacinas foi malfeita e o fracasso em controlar a propagação do vírus – o que aumenta o risco de resistência das cepas em desenvolvimento às novas vacinas – tem graves implicações, não apenas para vidas humanas e para a saúde, mas também para a economia.

Crise econômica

A atual crise econômica é a mais severa em 300 anos, segundo o Banco da Inglaterra. Em 2020, o equivalente a 255 milhões de empregos foi perdido em todo o mundo, quatro vezes mais do que em 2009.

As chamadas economias emergentes estão sendo arrastadas para baixo com as demais. Índia, Brasil, Rússia e Turquia estão em crise. A economia da Coreia do Sul encolheu no ano passado, pela primeira vez, em 22 anos. Isso aconteceu apesar dos subsídios do Estado no valor de cerca de US $ 283 bilhões. Na África do Sul, o desemprego atingiu 32,5% e o PIB diminuiu 7,2%, em 2020. Esta é uma contração maior do que em 1931 durante a Grande Depressão, e isso mesmo gastando o equivalente a 10% do PIB em um pacote de estímulo fiscal.

A crise está levando milhões de pessoas cada vez mais profundamente à pobreza. Em janeiro de 2021, o Banco Mundial estimou que 90 milhões de pessoas serão empurradas para a pobreza extrema. The Economist, em 26 de setembro de 2020, escreveu:

“As Nações Unidas são ainda mais pessimistas. Definem as pessoas como pobres se não têm acesso a coisas como água potável, eletricidade, alimentos e escolas suficientes para seus filhos.
“Trabalhando com pesquisadores da Universidade de Oxford, avaliam que a pandemia poderia jogar 490 milhões de pessoas, em 70 países, na pobreza, revertendo quase uma década de ganhos”.

O programa Mundial de Alimentação das Nações Unidas (PMA) colocou a questão nos seguintes termos: “Em 79 países com presença operacional do PMA e onde os dados estão disponíveis, estima-se que acima de 270 milhões de pessoas padecerão de aguda insegurança alimentar ou estarão em alto risco em 2021, um aumento sem precedentes de 82% em comparação aos níveis pré-pandemia”.

Por si só, isso dá uma ideia global da escala da crise.

Além dos efeitos da pandemia, a crise ecológica global provavelmente agravará essa situação, sustentando a pobreza e a insegurança alimentar. A exploração capitalista do meio ambiente ameaça colocar os principais sistemas ecológicos à beira do colapso. Vimos um aumento nos conflitos por recursos hídricos escassos e destruição ambiental que, inevitavelmente, levará à instabilidade social e à migração climática maciça.

A instabilidade geral em todo o mundo está organicamente ligada à crescente pobreza. É causa e efeito. É a causa subjacente mais fundamental de muitas das guerras, e guerras civis que estão ocorrendo. A Etiópia é apenas um exemplo disso.

A Etiópia era apresentada como modelo. No período entre 2004 e 2014, sua economia estava crescendo 11% ao ano, e era vista como um país para se investir. Agora foi lançada, na turbulência com o surto de conflitos na província de Tigray, onde 3 milhões de pessoas precisam de alívio alimentar urgente.

Esse não é um caso isolado. A lista de países afetados por guerras no período passado é muito longa, e o catálogo de sofrimentos humanos é terrível:

Afeganistão: dois milhões de mortes; Iémen: 100 mil mortes; as guerras mexicanas das drogas levaram a mais de 250 mil mortes; a guerra contra os curdos na Turquia, 45 mil mortes; na Somália, 500 mil mortes; no Iraque, pelo menos um milhão de mortes; no Sudão do Sul, cerca de 400 mil mortes.

Na Síria, as Nações Unidas estimaram o número de mortes em 400 mil, mas isso parece muito baixo. A cifra real pode nunca ser conhecida, mas, com certeza, será de pelo menos 600 mil. Nas terríveis guerras civis no Congo, provavelmente mais de quatro milhões de pessoas morreram. Mas ali, igualmente, ninguém sabe a cifra real. Mais recentemente, tivemos o conflito em Nagorno-Karabakh.

E assim a lista continua indefinidamente. Tais coisas não são mais consideradas adequadas para as primeiras páginas dos jornais. Mas expressam muito claramente o que Lenin disse certa vez: o capitalismo é um horror sem fim. A continuação da existência do capitalismo ameaça criar as condições da barbárie em um país após o outro.

Uma crise do regime

Do ponto de vista marxista, o estudo da economia não é uma questão acadêmica abstrata. Tem um efeito profundo no desenvolvimento da consciência de todas as classes.

Para onde quer que olhemos agora, há uma crise, não apenas uma crise econômica, mas uma crise do regime. Há indícios claros de que a crise é tão severa, tão profunda, que a classe dominante está perdendo o controle dos instrumentos tradicionais que usava no passado para governar a sociedade.

Como resultado, a classe dominante se vê cada vez mais incapaz de controlar os eventos. Isso é particularmente claro no caso dos EUA. Mas também se aplica a muitos outros países. É suficiente mencionar os nomes de Trump, Boris Johnson e Bolsonaro para sublinhar o ponto.

EUA

Os EUA agora ocupam um lugar central nas perspectivas mundiais. Por muito tempo, a revolução na nação mais rica e poderosa do planeta parecia uma perspectiva muito distante. Mas os EUA foram duramente atingidos pela crise econômica mundial e agora tudo virou de cabeça para baixo.

68 milhões de americanos caíram no desemprego durante a pandemia e, como sempre, são os mais pobres e vulneráveis, especialmente as pessoas negras, que mais sofrem. O flagelo do desemprego recai mais pesadamente sobre os ombros da juventude. Um quarto dos menores de 25 anos perdeu o emprego. Seu futuro foi repentinamente tirado. O sonho americano se tornou o pesadelo americano.

Essa mudança dramática forçou muitas pessoas, jovens e velhos, a reconsiderar pontos de vista que antes consideravam sacrossantos e questionar a própria natureza da sociedade em que vivem. A rápida ascensão de Bernie Sanders em uma extremidade do espectro político, e de Donald Trump, no outro, acendem a luz vermelha piscando para a classe dominante. Esse tipo de coisa não deveria acontecer!

Alarmada com o perigo representado por esta situação, a classe dominante foi compelida a tomar medidas emergenciais. Lembremo-nos de que, de acordo com o dogma oficial dos economistas burgueses, o Estado não deveria desempenhar qualquer papel na vida econômica.

Mas, diante do desastre iminente, a classe dominante foi forçada a jogar todas as teorias econômicas aceitas na lata de lixo. O mesmo Estado que, de acordo com a teoria do livre mercado, deve desempenhar pouco ou nenhum papel na vida econômica, tornou-se agora a única coisa que sustenta o sistema capitalista.

Em todos os países, começando pelos EUA, a chamada economia de mercado livre está realmente em um sistema de suporte de vida, como um paciente com coronavírus. A maior parte do dinheiro distribuído pelo Estado foi direto para o bolso dos ricos. Mas a classe dominante temia as consequências políticas de mais um resgate corporativo. Eles, portanto, concederam subsídios a todos os residentes e aumentaram fortemente o subsídio ao desemprego. Isso amorteceu o impacto da crise nas camadas mais pobres. Em algum momento, esses apoios serão reduzidos ou totalmente retirados.

Temos o paradoxo da mais terrível pobreza no país mais rico do mundo coexistindo com a mais obscena riqueza e luxo. Em outubro de 2020, mais de um, em cada cinco lares americanos, não tinha dinheiro suficiente para comprar comida. Os bancos de alimentos estão proliferando.

Desigualdade e polarização

Os níveis de desigualdade quebraram todos os recordes. O abismo entre ricos e pobres se transformou em um abismo intransponível. Em 2020, a riqueza dos bilionários do mundo cresceu US $ 3,9 trilhões. O índice Nasdaq 100 está 40% mais alto do que antes da pandemia. As ações globais listadas, em fevereiro de 2021, tinham-se valorizado em US $ 24 trilhões desde março de 2020.

O executivo-chefe médio de uma empresa S&P 500 ganha 357 vezes mais do que o trabalhador médio não supervisor. A proporção era de cerca de 20 vezes em meados da década de 1960. Ainda era de 28 vezes no final do mandato de Ronald Reagan, em 1989.

Para citar apenas um exemplo, Jeff Bezos agora ganha mais dinheiro por segundo do que um trabalhador americano típico ganha em uma semana. Isso leva a América de volta aos tempos dos barões ladrões capitalistas que Theodore Roosevelt denunciou antes da Primeira Guerra Mundial.

E isso tem um efeito. Toda a demagogia sobre o ‘interesse nacional’, de que “devemos nos unir para combater o vírus”, de que “estamos todos no mesmo barco”, fica exposta como a mais vil das hipocrisias.

As massas estão preparadas para fazer sacrifícios sob certas circunstâncias. Em tempos de guerra, as pessoas estão preparadas para se unir na luta contra um inimigo comum, isso é verdade. Elas estão preparadas, pelo menos temporariamente, para aceitar padrões de vida mais baixos e, em certa medida, restrições aos direitos democráticos.

Mas o abismo que separa os que têm dos que não têm está aprofundando a polarização social e política, e criando um clima explosivo na sociedade. Mina todos os esforços para criar uma sensação de unidade e solidariedade nacional, que é a principal linha de defesa da classe dominante.

As estatísticas do Federal Reserve mostram que o décimo mais rico da população dos Estados Unidos tinha um patrimônio líquido de US $ 80,7 trilhões no final de 2020. Isso significa 375% do PIB, eu que está muito acima dos níveis históricos.

Um imposto de 5% sobre isso renderia US $ 4 trilhões, ou um quinto do PIB. Isso pagaria por todos os custos da pandemia. Mas os ricos barões ladrões não têm intenção de compartilhar sua pilhagem. A maioria deles (incluindo Donald J Trump) mostra uma forte aversão a pagar qualquer imposto, quanto mais de 5%.

A única solução seria a expropriação dos banqueiros e capitalistas. Essa ideia inevitavelmente ganhará cada vez mais apoio, varrendo os preconceitos remanescentes contra o socialismo e o comunismo, mesmo entre aquelas camadas de trabalhadores que foram enganados pela demagogia de Trump.

Isso já está causando preocupação entre os estrategistas sérios do capital. Mary Callaghan Erdoes, chefe de gestão de ativos e patrimônios do JP Morgan, chegou à conclusão inevitável: “Vai-se ter um risco muito alto de extremismo decorrente disso. Temos que encontrar uma maneira de nos adaptar; caso contrário, estaremos em uma situação muito perigosa.”

O ataque ao Capitólio

O ataque ao Capitólio em 6 de janeiro foi uma indicação gráfica de que o que os EUA agora enfrentam não é uma crise de governo, mas uma crise do próprio regime.

Esses eventos não foram um golpe ou uma insurreição, mas claramente expuseram a raiva crua que existe nas profundezas da sociedade e o surgimento de profundas fissuras no Estado. No fundo, o que eles indicam é que a polarização da sociedade atingiu um ponto crítico. As instituições da democracia burguesa estão sendo testadas até a destruição.

Há um ódio ardente contra os ricos e poderosos, contra os banqueiros, Wall Street e o establishment de Washington em geral (“o pântano”). Esse ódio foi habilmente canalizado pelo demagogo de direita, Donald Trump.

Evidentemente, o próprio Trump é apenas o crocodilo mais astuto e voraz do pântano. Ele está apenas buscando seus próprios interesses. Mas, ao fazer isso, ele prejudicou seriamente os interesses da classe dominante como um todo. Ele brincou com fogo e conjurou forças que nem ele, nem qualquer outra pessoa, pode controlar.

Por palavras e ações, Trump estava destruindo a legitimidade das instituições burguesas e criando uma enorme instabilidade. É por isso que a classe dominante e seus representantes políticos em todos os lugares estão horrorizados com sua conduta.

O impeachment

Os democratas tentaram o impeachment de Trump, acusando-o de organizar uma insurreição. Mas eles previsivelmente falharam em conseguir que o Senado o condenasse, o que o impediria de se candidatar a um cargo público no futuro.

A maioria dos senadores republicanos teria ficado muito feliz em fazer isso. Eles odeiam e temem esse arrivista político. E eles sabiam muito bem quem estava por trás dos acontecimentos de 6 de janeiro. O líder republicano no Senado, Mitch McConnell, pronunciou um veredicto condenatório sobre o ex-presidente, após votar para absolvê-lo.

Na realidade, ele e os outros senadores republicanos estavam apavorados com a reação dos seguidores furiosos de Trump se dessem aquele passo fatídico. Eles decidiram que a discrição é a melhor parte da coragem e, fechando seus narizes, votaram por sua inocência.

Mas se isso foi uma tentativa de insurreição, foi muito pobre. Em vez de uma insurreição, parecia mais a um motim em grande escala. A multidão de apoiadores furiosos de Trump irrompeu no Capitólio com a óbvia conivência de, pelo menos, alguns dos guardas. Mas, tendo obtido facilmente a posse do Santo dos Santos da democracia burguesa dos Estados Unidos, eles não tinham a menor ideia do que fazer com ele.

A turba desorganizada e sem líder circulava sem rumo, destruindo tudo o que não gostava e gritando ameaças sanguinárias contra a Democrata Nancy Pelosi, o vice-presidente Republicano, Mike Pence, e Mitch McConnell, a quem acusaram de trair Trump. Enquanto isso, o comandante-em-chefe dos insurretos desaparecia convenientemente.

Se a história se repete primeiro como uma tragédia e depois como uma farsa, essa foi uma farsa das mais puras. No final, ninguém foi enforcado ou mandado para a guilhotina. Cansados de tanto gritar, os “rebeldes” voltaram silenciosamente para suas casas ou retiraram-se para o bar mais próximo para embebedar-se e se gabar de suas façanhas corajosas, não deixando nada mais ameaçador do que uma pilha de lixo e alguns egos machucados.

No entanto, do ponto de vista da classe dominante, abriu-se um precedente perigoso para o futuro. Ray Dalio, fundador do maior fundo de hedge do mundo, BridgeWater Associates, disse o seguinte: “Estamos à beira de uma terrível guerra civil. Os EUA estão em um ponto crítico a partir do qual podem ir, de uma tensão interna gerenciável, a uma revolução”. O ataque ao Capitólio foi um sério aviso para a classe dominante. E isso, sem dúvida, terá consequências. Apesar de uma enxurrada de hostilidade da mídia, 45% dos Republicanos registrados acharam que foi justificado.

Mas isso deve ser comparado ao fato muito mais significativo de que 54% de todos os americanos pensarem que o incêndio da delegacia de polícia de Minneapolis foi justificado. E 10% de toda a população participaram dos protestos Black Lives Matter – cerca de 20 mil vezes mais do que aqueles que invadiram o Capitólio. Tudo isso mostra o rápido crescimento da polarização social e política nos Estados Unidos.

As revoltas espontâneas que varreram os EUA de costa a costa, após o assassinato de George Floyd, e os eventos sem paralelo que precederam e acompanharam as eleições presidenciais, marcaram uma virada em toda a situação.

Mudanças na consciência

Os estúpidos liberais e reformistas naturalmente não entendem nada do que está acontecendo. Eles só veem a superfície dos eventos, sem entender as correntes mais profundas que estão fluindo fortemente sob a superfície e impulsionando as ondas.

Eles gritam constantemente sobre o fascismo, o que significa tudo o que não gostam ou temem. Sobre a verdadeira natureza do fascismo, eles não sabem absolutamente nada. É óbvio. Mas ao insistir constantemente no “perigo para a democracia” (com o que se referem à democracia burguesa formal), eles semeiam confusão e preparam o terreno para a colaboração de classes sob a bandeira do “mal menor”. Seu apoio a Joe Biden nos EUA é um exemplo muito claro disso.

O que temos que levar em conta é que a base de Trump tem um caráter muito heterogêneo e contraditório. Ela contém uma ala burguesa, chefiada pelo próprio Trump, e muitos reacionários pequeno-burgueses, fanáticos religiosos, e elementos abertamente fascistas.

Mas devemos lembrar que Trump recebeu 74 milhões de votos na última eleição e muitos de seus eleitores eram pessoas da classe trabalhadora que votaram anteriormente em Obama, mas estão desiludidos com os Democratas. Quando são entrevistados, dizem: “Washington não se importa conosco! Nós somos as pessoas esquecidas!

Há oscilações violentas para a esquerda e para a direita. No entanto, a natureza abomina o vácuo e, por causa da completa falência dos reformistas, incluindo os reformistas de esquerda, esse clima de raiva e frustração foi capitalizado por demagogos de direita, os chamados populistas. Nos EUA temos o fenômeno do Trumpismo; no Brasil, vimos a ascensão de Bolsonaro.

Mas o apelo dos demagogos de direita logo evapora quando entra em contato com a realidade do governo, como amplamente demonstra o caso de Bolsonaro. É verdade que Trump manteve o apoio de milhões, mesmo assim foi removido.

Foi interessante notar que, por volta da data do ataque ao Capitólio, o senador do Missouri Josh Hawley disse: “Os republicanos em Washington vão ter muita dificuldade em digerir isso…, mas o futuro é claro: devemos ser um partido da classe trabalhadora, não um partido de Wall Street” (The Guardian).

Lenin disse que a história conhece todos os tipos de transformações peculiares. Os marxistas devem ser capazes de distinguir o que é progressista do que é reacionário. Devemos entender que, com todos esses eventos em embrião, temos os contornos dos desenvolvimentos revolucionários nos EUA, no futuro.

Claro, este senador republicano reacionário não tem intenção de organizar um partido genuíno da classe trabalhadora nos EUA, e tal partido não surgirá de uma divisão de direita dos Republicanos. Mas as convulsões do antigo sistema bipartidário são, sem dúvida, o prenúncio de algo inteiramente novo: o surgimento de um terceiro partido que desafiará, tanto os Republicanos, quanto os Democratas.

Tal partido terá, a princípio, um caráter extremamente confuso e heterogêneo. Mas o elemento anticapitalista deve, mais cedo ou mais tarde, predominar. É aí que reside a verdadeira ameaça ao sistema. Quando as massas começam a intervir diretamente na política, quando decidem que é chegado o momento de tomar seu destino em suas próprias mãos, isso, por si só, é um sintoma de desenvolvimentos revolucionários iminentes.

Os estrategistas sérios do capital entendem as implicações perigosas na turbulência atual muito mais do que os pequenos burgueses impressionistas e em pânico. Em 30 de dezembro de 2020, o Financial Times publicou um artigo muito interessante, assinado pelo conselho editorial.

O artigo pintou um quadro muito diferente do processo, e para onde ele iria, e as conclusões que tirou de tudo isso foram muito alarmantes do ponto de vista burguês:

“Os grupos deixados para trás pela mudança econômica estão cada vez mais concluindo que os responsáveis não se importam com sua situação – ou pior, manipularam a economia para seu próprio benefício contra os que estão à margem.
“Lentamente, mas com segurança, isso está colocando o capitalismo e a democracia em tensão um com o outro. Desde a crise financeira global, esse sentimento de traição alimentou uma reação política contra a globalização e as instituições da democracia liberal.
“O populismo de direita pode prosperar nessa reação enquanto mantém os mercados capitalistas em seu lugar.
“Mas como não pode cumprir suas promessas aos economicamente frustrados, é apenas uma questão de tempo até que os forcados se levantem contra o próprio capitalismo e contra a riqueza daqueles que se beneficiam dele.”

Este artigo mostra uma compreensão perfeita da dinâmica da luta de classes. Até a linguagem é significativa. Armar-se com forcados sugere uma analogia com a Revolução Francesa ou com a Revolta dos Camponeses de 1381, quando os camponeses tomaram Londres.

Os autores dessas linhas entendem perfeitamente bem que uma onda na direção do chamado populismo de direita pode ser apenas o primeiro estágio antes de uma explosão revolucionária. As oscilações violentas da opinião pública para a direita podem muito facilmente ser a preparação de oscilações ainda mais violentas para a esquerda pelas massas descontentes que procuram uma saída da crise.

Esta é uma previsão altamente perspicaz de como os eventos desenvolver-se-ão no período vindouro. E não só nos EUA. Essa tremenda volatilidade pode ser observada em muitos países, senão em todos os países. Abaixo da superfície, um clima de raiva, amargura e ressentimento contra a ordem estabelecida está se desenvolvendo.

Colapso do centro

As instituições da democracia burguesa baseiam-se no pressuposto de que o abismo entre ricos e pobres pode ser disfarçado e contido dentro de limites administráveis. Mas isso não é mais o caso.

O crescimento contínuo da desigualdade de classe criou um nível de polarização social não visto há décadas. Está testando os mecanismos tradicionais da democracia burguesa até seus próprios limites, e além desses limites.

O antagonismo entre ricos e pobres está crescendo de forma mais intensa a cada dia. Ele fornece um ímpeto irresistível às forças centrífugas que estão separando as classes. Essa é precisamente a razão para o colapso do chamado Centro.

Isso está causando crescente alarme na classe dominante, que sente o poder escapar de suas mãos. Os partidos do establishment, em todos os lugares, são identificados pelas massas com a austeridade e os ataques aos padrões de vida.

Há um clima de raiva na sociedade. Esse sentimento se expressa no colapso da confiança nas instituições oficiais, nos partidos, nos governos, nos líderes políticos, nos banqueiros, nas pessoas ricas, na polícia, no judiciário, nas leis existentes, na tradição, na religião e na moralidade do sistema existente. As pessoas não acreditam mais no que dizem os jornais e a TV. Eles comparam a enorme diferença entre o que é dito e o que acontece, e percebem que estamos ouvindo um monte de mentiras.

Nem sempre foi assim. No passado, a maioria das pessoas não prestava muita atenção à política. Isso também vale para os trabalhadores. As conversas nos locais de trabalho geralmente eram sobre futebol, filmes, programas de televisão. A política raramente era mencionada, exceto, talvez, na época das eleições.

Agora, tudo isso mudou. As massas estão começando a se interessar pela política, porque estão começando a perceber que ela afeta diretamente suas vidas e as vidas de suas famílias. Isso, em si, é uma expressão de um movimento na direção da revolução.

No passado, se as pessoas se preocupassem em votar nas eleições, normalmente votariam no mesmo partido em que seus pais e avós votaram. Agora, no entanto, as eleições se tornaram extremamente imprevisíveis. O humor do eleitorado é raivoso, desconfiado e volátil, oscilando violentamente da esquerda para a direita, e da direita para a esquerda.

As perspectivas para o governo Biden

Os estrategistas do capital reconhecem os perigos colossais dessa polarização e lutam desesperadamente para reconstruir o “Centro”. Mas, objetivamente, não há base real para isso. Na pessoa de Joe Biden, eles estão apoiados em uma palha quebrada.

Wall Street agora deposita suas esperanças no governo Biden e em sua campanha de vacinação. Mas Biden, agora, preside uma profunda crise econômica e política em uma nação dividida e em declínio.

Ele está sendo pressionado pelo sistema para aumentar a intervenção do Estado na economia e não perdeu tempo em revelar seus planos de um pacote de estímulo de US $ 1,9 trilhão para a economia dos Estados Unidos. Se adicionarmos o pacote de US $ 900 bilhões previamente acordado pelo Congresso e os US $ 3 trilhões em alívio aprovado no início da pandemia, tudo isso resulta em uma montanha de dívidas. A classe dominante está tentando, desesperadamente, restaurar a estabilidade política.

O professor Kenneth Rogoff, da Universidade de Harvard, colocou desta forma: “Eu simpatizo com o que Biden está fazendo … Sim, há algum risco de que tenhamos instabilidade econômica no futuro, mas temos instabilidade política agora.” Tudo isso está preparando uma grande crise no futuro.

Enquanto isso, milhões de cidadãos insatisfeitos nem mesmo acreditam que Biden venceu as eleições. O que quer que ele faça será errado para eles. Por outro lado, as esperanças exageradas de seus muitos apoiadores vão evaporar como uma gota d’água em uma chapa quente de fogão, quando se dissipar a sensação inicial de alívio com a partida de Trump. E embora ele vá, inevitavelmente, desfrutar de uma lua de mel por um tempo, uma enorme desilusão se seguirá, preparando o caminho para novas convulsões, turbulência e instabilidade.

América Latina

A América Latina é uma das regiões do mundo mais atingidas pela Covid-19, do ponto de vista da saúde pública, mas também do ponto de vista da crise econômica.

O PIB da região caiu cerca de 7,7% em 2020, o colapso mais profundo em 120 anos. Isso veio na esteira de uma década de estagnação, com crescimento médio anual de 0,3% entre 2014 e 2019. Não se espera que a região recupere seu PIB pré-crise até 2024. Os níveis de pobreza extrema voltaram ao que eram em 1990.

Isso já estava produzindo turbulência social e política antes do início da pandemia. Na América Latina, os levantes de 2019 (Equador, Chile), que faziam parte de uma tendência mundial (Argélia, Sudão, Iraque, Líbano…), foram temporariamente contidos pelo início da pandemia que varreu o continente com consequências devastadoras.

O Brasil teve um dos maiores índices de mortalidade do mundo e o Peru também foi duramente atingido. No Equador, caixões se amontoavam em frente aos necrotérios superlotados e corpos eram deixados sem vigilância nas ruas em alguns lugares.

No entanto, no segundo semestre de 2020, vimos um retorno aos movimentos insurrecionais de massa. Em setembro de 2020, houve uma explosão de indignação na Colômbia contra um assassinato policial, que resultou no incêndio de 40 delegacias de polícia. No Peru, o movimento de massas derrubou dois governos. E os protestos na Guatemala fizeram com que o prédio do parlamento fosse incendiado. Isso continuou em 2021, e com importantes consequências políticas. Na Colômbia, o movimento ressurgiu com um poderoso movimento de Greve Nacional, que reduziu ao mínimo a base social de apoio ao governo Duque. No Peru, tivemos a inesperada eleição do professor sindicalista Pedro Castillo nas eleições presidenciais. Da mesma forma, no Chile, tivemos a derrota eleitoral da direita e a ascensão de candidatos vinculados ao levante de 2019, assim como do PC e da Frente Ampla, nas eleições para a assembleia constituinte, prefeitos e governadores regionais.

No Brasil, onde esquerdistas e sectários fizeram grande barulho sobre a suposta vitória do “fascismo”, o apoio a Bolsonaro está ruindo. O slogan originalmente lançado por nossos camaradas brasileiros “Fora Bolsonaro”, que foi rejeitado como utópico pelas esquerdas, agora tem aceitação geral.

O “homem forte” Bolsonaro é tão fraco, que não conseguiu nem mesmo lançar seu próprio partido. Embora tenha tentado desesperadamente fazer isso, ele fracassou miseravelmente, até mesmo em conseguir assinaturas suficientes para registrá-lo.

O problema não é a força de Bolsonaro, mas a fraqueza da esquerda. O PT, que antes contava com o apoio esmagador dos trabalhadores, perdeu massivamente nas últimas eleições. Também aqui se trata, não de dificuldades objetivas, mas da fraqueza do fator subjetivo.

Os acontecimentos revolucionários e insurrecionais que ocorreram em diversos países latino-americanos e a chegada ao poder de dirigentes “progressistas” com o apoio de operários e camponeses (AMLO no México, Arce na Bolívia, Castillo no Peru etc.) servem como uma refutação a todos aqueles (incluindo os sectários) que argumentaram que havia uma “onda conservadora” na América Latina. O capitalismo aqui é muito mais fraco do que nos países capitalistas desenvolvidos, os efeitos da pandemia foram devastadores em termos econômicos e de saúde e as massas estão ganhando músculos nas lutas impressionantes que vimos recentemente. Por todas essas razões, é muito provável que a América Latina seja um dos cenários dos próximos eventos revolucionários.

Cuba, entretanto, enfrenta uma grande crise econômica, desencadeada pela pandemia e agravada pelas sanções e medidas econômicas de Trump, nenhuma das quais foi revertida por Biden. A economia da ilha caiu 11% em 2020.

Isso levou a liderança a implementar uma série de medidas do mercado capitalista, que foram discutidas por 10 anos, mas nunca totalmente implementadas, incluindo a unificação da moeda, as relações de mercado entre empresas do setor estatal, o fechamento de empresas do setor estatal que não são “lucrativas”, o levantamento de subsídios sobre o preço de alimentos básicos etc.

Essas medidas já estão tendo um impacto no aumento da desigualdade e gerando descontentamento. É um ponto de inflexão no processo de restauração capitalista.

Esses fatores econômicos são a base objetiva para os protestos de 11 de julho. Esses foram os maiores protestos em Cuba desde o “maleconazo” de 1994, e ocorreram em um momento de profunda crise econômica e com um governo que não tem a mesma autoridade que Fidel Castro tinha naquela época.

O movimento teve um componente genuíno de protesto contra a escassez e as privações que a classe trabalhadora está sofrendo. Houve, no entanto, outro componente que respondeu a uma campanha constante de propaganda nas redes sociais e de provocações nas ruas por elementos abertamente contrarrevolucionários, que já durava meses.

Os manifestantes, que somavam cerca de 2 mil em Havana, eram compostos de diferentes camadas: pobres de áreas da classe trabalhadora gravemente afetadas pela crise econômica e pelas medidas tomadas pela burocracia; lúmpens e elementos criminosos; elementos pró-capitalistas pequeno-burgueses que floresceram nos últimos 10 anos de reformas de mercado; artistas, intelectuais e jovens preocupados com a censura e os direitos democráticos em abstrato.

É preciso esclarecer que os protestos se desenrolaram sob os lemas “Pátria e Vida” (“Pátria y vida”), “Abaixo a ditadura” e “Abaixo o comunismo”, claramente de caráter contrarrevolucionário. Os problemas e dificuldades são reais e genuínos; há elementos confusos participando, mas no meio de toda a confusão, são os elementos contrarrevolucionários que dominam esses protestos. São organizados, motivados e têm objetivos claros. Portanto, é necessário se opor a eles e defender a revolução. Se aqueles que promovem esses protestos, junto aos seus mentores em Washington, alcançassem seu objetivo – a derrubada do governo – isso inevitavelmente aceleraria o processo de restauração capitalista e levaria Cuba de volta ao seu antigo status de colônia de fato do imperialismo dos Estados Unidos. Os problemas econômicos e de saúde sofridos pela classe trabalhadora cubana não seriam resolvidos, pelo contrário, seriam agravados. Basta olhar para o Brasil de Bolsonaro ou para o vizinho Haiti para se convencer disso. A derrota da revolução cubana teria um impacto negativo na consciência dos trabalhadores em todo o continente e em todo o mundo.

Na luta que se abre, a Corrente Marxista Internacional se posiciona incondicionalmente pela defesa da revolução cubana. O primeiro ponto que devemos assinalar é que nos opomos totalmente ao bloqueio do imperialismo norte-americano e fazemos campanha contra ele. No entanto, nossa defesa incondicional da revolução não significa que sejamos acríticos. Devemos explicar claramente que os métodos da burocracia são, em grande parte, responsáveis ​​pela criação da situação atual. O planejamento burocrático leva à má administração, ineficiência, desperdício e indolência. A imposição burocrática e a arbitrariedade levam à alienação da juventude. Medidas pró-capitalistas levam à diferenciação social e à pobreza.

O questionamento generalizado da direção surgiu entre muitos trabalhadores e jovens que se consideram revolucionários. Devemos explicar que a única forma eficaz de defender a revolução é colocando a classe trabalhadora no comando. Nosso modelo deve ser a democracia operária da Comuna de Paris e o Estado e a Revolução de Lenin. Defendemos a discussão política mais ampla e livre entre os revolucionários. A mídia estatal deve estar aberta a todos os matizes de opinião revolucionária. Em todos os locais de trabalho, os próprios trabalhadores devem ter plenos poderes para reorganizar a produção, a fim de torná-la mais eficiente. Além disso, os privilégios da burocracia (lojas especiais, acesso preferencial a produtos básicos) devem ser abolidos. Todos os funcionários estatais devem ser eleitos e destituíveis a qualquer momento.

O destino da revolução cubana será, definitivamente, decidido na esfera da luta de classes internacional. Os revolucionários cubanos devem adotar uma posição socialista revolucionária internacionalista, em oposição a uma baseada na geopolítica e na diplomacia. Defendemos a democracia dos trabalhadores e o socialismo internacional.

Europa

O PIB real caiu 7% nos estados membros da UE em 2020. Este foi o maior declínio na Europa desde a Segunda Guerra Mundial. Os números oficiais mostram que 13,2 milhões estão desempregados, mas descontando os esquemas de licença, o verdadeiro número de desemprego está perto de 12,6% (cerca de 20 milhões). Outros 30 milhões estão faltando nos números oficiais, descritos como “desemprego oculto”.

A comissão da UE estropeou o lançamento da vacina de Covid-19, o que resultou em grande escassez em toda a Europa. A Dinamarca, inicialmente, recebeu apenas 40 mil doses, quando esperava 300 mil. A Holanda, de início, não recebeu nenhuma.

O fracasso do programa de vacinas segue-se ao desastre da crise da falta de EPIs do ano passado. Quando a Itália enfrentava o pior de sua crise, a solidariedade europeia foi totalmente esquecida. Era cada um por si. O programa de vacinas foi uma tentativa de restabelecer a solidariedade dentro da União Europeia, mas falhou.

Para piorar ainda mais as coisas, a escalada de medidas restritivas (bloqueios, etc.) para enfrentar a pandemia do coronavírus por 21 países da zona do euro desacelerou significativamente a atividade econômica, de modo que o bloco enfrentou uma recessão de duplo mergulho.

Enquanto, na primavera passada, quando a pandemia ocorreu pela primeira vez, a economia da zona do euro sofreu um choque profundo e repentino, o novo surto de infecções está se arrastando por mais tempo, causando um declínio mais lento, mas ainda mais debilitante na atividade econômica.

Viagens, varejo, hotelaria, confiança empresarial e gastos do consumidor foram atingidos nas primeiras semanas de 2021. Isso ameaça produzir uma onda retardada de falências, a menos que os governos e os bancos centrais continuem a apoiar medidas para impulsionar a economia.

Como resultado, os economistas preveem que uma contração estimada da produção na zona do euro entre 1,8% e 2,3% nos últimos três meses de 2020, seria seguida por outra queda no primeiro trimestre de 2021, em muitas das principais economias do bloco, incluindo Alemanha e Itália. Isso pode deixar a zona do euro em sua segunda recessão, definida como dois trimestres consecutivos de crescimento negativo, em menos de dois anos.

Na sequência do Brexit e de Trump, que nunca se preocupou em disfarçar seu desprezo por todas as coisas europeias, a burguesia europeia sente que não pode mais contar com os aliados tradicionais. A tola tentativa de Emmanuel Macron de se insinuar com Trump, foi um fracasso espetacular.

Trump deixou bem claro que via a Europa como o principal inimigo, enquanto a Rússia era apenas um “competidor”. Ele acompanhou suas palavras com ações. Suas políticas protecionistas foram dirigidas, tanto contra a Europa, quanto contra a China. E ele manteve essa atitude beligerante até os últimos dias de sua administração. Na véspera de Ano Novo, os EUA anunciaram um novo aumento nas tarifas da UE sobre peças de aviões e vinhos da França e Alemanha.

Biden está procurando renovar os laços com a Europa. Ele voltou a comprometer os Estados Unidos com o multilateralismo, incluindo o retorno à OMS e ao acordo climático de Paris. Ele também apoiou um novo Diretor-Geral da OMC. A atitude em relação ao acordo nuclear iraniano também mudou. Todos esses são passos bem-vindos para os europeus, desesperados por uma mudança de direção da Casa Branca. Trump rotula essa nova estratégia de “América por último”.

No entanto, existem conflitos entre os dois lados que são muito mais difíceis de resolver. Os europeus não estão convencidos da estratégia dos EUA para a China. Eles também desejam tirar proveito da guerra comercial dos Estados Unidos com a China para seus próprios fins. O novo Tratado de Investimento celebrado entre a China e a UE nas últimas semanas da presidência de Trump foi amplamente visto como uma afronta a Joe Biden, que o novo presidente foi forçado a engolir.

Há mais disputas de longa data para resolver: a disputa entre a Airbus e a Boeing sobre a ajuda estatal está latente há décadas, sem nenhuma solução à vista. O oleoduto Nord Stream 2 também está causando uma grande cisão entre os EUA e a Alemanha, com os EUA insistindo que o oleoduto fortalecerá a influência da Rússia na Europa. A recém-descoberta afeição entre Biden e os europeus será testada nos próximos meses, enquanto os dois blocos tentam reanimar suas exportações na crise pós-pandêmica.

A Alemanha tem sido a âncora da Europa, uma ilha de estabilidade em águas frequentemente tempestuosas. Angela Merkel era vista como um par de mãos seguras no comando do país mais importante da Europa. Mas, com a pandemia, vieram novos problemas.

A Europa já experimentava tensões crescentes entre os Estados-Membros após a crise de 2008. O Brexit foi um ponto de inflexão nessa dinâmica, assim como a crise pandêmica e o nacionalismo, que prevaleceu no enfrentamento da crise da saúde. A profunda crise global exercerá enorme pressão neste sentido: a UE deve competir com os outros blocos imperialistas, enquanto, ao mesmo tempo, as diferentes nações que a compõem competirão entre si para exportar suas próprias crises.

Os capitalistas alemães reconheceram que tiveram que mudar seus métodos para tentar conter as tendências centrífugas crescentes na UE. Essa tendência foi fortalecida ainda mais quando a pandemia golpeou. No outono passado, a Alemanha foi obrigada a subscrever um empréstimo de € 750 bilhões para o fundo de recuperação europeu, a fim de manter a UE unida. Esse pacote substancial proporcionará alívio temporário à UE, mas é apenas um subsídio único. Os apelos para ir mais longe nessa direção foram firmemente bloqueados pela Alemanha. No final, nenhum dos problemas foi resolvido.

Merkel teve que ampliar o confinamento na Alemanha. Sua coalizão está enfrentando taxas de vacinação lentas e suprimentos inadequados. O clima nacional mudou de autocongratulatório para taciturno. O Financial Times comentou que “o cenário político, antes da eleição de setembro, parece mais fragmentado e volátil.”

Na França, o governo Macron está totalmente desacreditado, com uma taxa de desaprovação de 60%: uma das piores, desde os protestos dos gilets jaunes. A taxa oficial de desemprego é de 9%, mas. na realidade, é muito mais alta.

O ‘Grande debate nacional’ não fez nada para restaurar o apoio público ao governo, nem a demissão do primeiro-ministro, Edouard Phillipe. E as repetidas tentativas de Macron de fazer o papel de um “grande estadista” no plano internacional evocam nada além de risos sarcásticos em todos os níveis.

Grã-Bretanha

Não muito tempo atrás, a Grã-Bretanha era, provavelmente, o país mais estável da Europa. Agora ela se tornou, supostamente, o mais instável.

A crise atual expôs cruelmente a fraqueza do capitalismo britânico. A economia do Reino Unido caiu 9,9% em 2020, duas vezes mais que a Alemanha, e três vezes mais que os Estados Unidos. Agora, diante dos efeitos da pandemia e da calamidade do Brexit, uma nova recessão é inevitável.

Brexit foi um ato de pura loucura por parte do Partido Conservador, e que agora escapou do controle da classe dominante. O governo é controlado por um palhaço de circo que, por sua vez, é controlado por chauvinistas reacionários dementes.

Apesar de ter conquistado uma vitória decisiva na eleição de dezembro de 2019, o partido Conservador está cada vez mais desacreditado, principalmente por seu manejo incorreto da pandemia, com mais mortes do que em qualquer outro país da Europa. O número de mortes (claramente subestimado nos números oficiais) está entre os mais altos de qualquer país, em proporção ao tamanho da população. No entanto, os conservadores têm resistido continuamente a tomar as medidas necessárias até que sejam forçados a fazê-lo, devido à gravidade da situação.

Essas pessoas não estão interessadas na vida e na saúde da população. Tampouco se preocupam com o estado lamentável do Serviço Nacional de Saúde (NHS, em suas siglas inglesas), situação essa que provocaram com décadas de cortes. Eles são motivados apenas por uma coisa: lucros.

Os conservadores desejam manter a produção a todo custo. É por isso que eles estavam determinados a reabrir as escolas. Isso levou, nos primeiros dias de janeiro, a um protesto em massa e a uma reunião online de 400 mil professores. A ameaça de greve forçou o governo a fechar as escolas.

No entanto, apesar da impopularidade do governo, o Partido Trabalhista e sua liderança de direita ainda estão atrasados em relação aos Conservadores. Não há uma oposição real por parte do Trabalhismo.

A renúncia de Corbyn e McDonnell após a derrota do Partido Trabalhista, em dezembro de 2019, foi um sério golpe para a esquerda e uma dádiva para a direita. A esquerda teve todas as oportunidades para transformar o Partido Trabalhista. Eles tiveram o apoio total da base. Isso significaria realizar um expurgo completo da ala direita do Partido Trabalhista Parlamentar e da burocracia. Mas eles se afastaram dessa meta e se recusaram a apoiar o lema da impugnação dos parlamentares que os marxistas e outros defenderam, e que tinha amplo apoio na base.

Em última análise, os esquerdistas têm medo de levar a luta até as últimas consequências, o que significaria um rompimento total com a direita. Mas a direita não mostra tanta gentileza com a esquerda. Incentivados por sua fraqueza, eles realizaram um expurgo da esquerda – incluindo a suspensão do próprio Corbyn. Essa fraqueza não é apenas uma questão moral. É uma questão política. É uma característica orgânica do reformismo de esquerda.

As grandes empresas agora estão dando as cartas no Partido Trabalhista. Keir Starmer fala, não como o líder da oposição, mas como um membro servil do gabinete de Johnson. Ele espera que Johnson aja, antes de dizer “eu também”.

Mas agora a direita foi longe demais. Por suas ações, a ala direita está empurrando a esquerda a lutar. O cenário está armado para uma batalha no Partido Trabalhista.

Aconteça o que acontecer, a tendência marxista pode ter ganhos, e muitas novas portas serão abertas para ela. A arte da política é aproveitar todas as oportunidades que surgem.

Itália

A Itália continua sendo o elo mais fraco na cadeia do capitalismo europeu. Sua fraqueza crônica foi revelada pela crise atual. Incapaz de competir com economias mais poderosas como a Alemanha, está ficando cada vez mais para trás e afundando mais e mais em dívidas.

Seu sistema bancário está constantemente à beira de um colapso que pode arrastar para baixo o resto da Europa. A UE é obrigada a apoiá-lo exatamente por esse motivo, mas o faz praguejando em voz baixa.

Os banqueiros alemães, em particular, estão cada vez mais impacientes e, até recentemente, exigiam a adoção de medidas sérias para cortar gastos do governo e atacar os padrões de vida. Quer dizer, empurravam a Itália para o abismo. O tom deles mudou um pouco desde que a pandemia os forçou a pedir ajuda ao Estado. Assim que a pandemia acabar, eles voltarão à austeridade com força total.

Para navegar através da crise atual, a classe dominante italiana exige um governo forte. Mas nenhum governo forte é possível na Itália. O regime político está podre até o âmago. A falta de confiança nos políticos é expressa por uma crise permanente de governo. Uma coalizão instável segue a outra, enquanto, no fundo, nada muda. As massas estão desesperadas e sua busca por uma saída, e é expressa por violentas viradas para a direita e para a esquerda.

A crise foi enormemente exacerbada pela pandemia, que atingiu a Itália mais cedo e com mais força do que qualquer outro lugar. No momento em que este artigo foi escrito, o número de mortes causadas pela Covid-19 estava se aproximando da marca de 100 mil.

A classe dominante esperava manter a coalizão de centro-esquerda o máximo de tempo possível, para evitar uma explosão social. Mas isso se tornou inviável à medida que as opções políticas iam se esgotando. Sentindo o fogo sob o traseiro, o partido de Renzi, Italia Viva, tirou seus três ministros da coalizão de Conte devido aos fracassos no trato da pandemia de Covid-19, levando ao colapso o governo e abrindo a porta para a formação do governo Draghi.

O Presidente da República interveio e, em vez de convocar eleições antecipadas, convidou Draghi, o ex-governador do Banco Central Europeu, para formar um governo. Aqui temos mais um exemplo de um “tecnocrata” sendo imposto ao país como primeiro-ministro, eleito por ninguém.

A falência da “centro-esquerda” abriu uma oportunidade para formações de extrema direita como o partido dos Irmãos da Itália. Eles ficaram de fora da coalizão que apoia Draghi, em primeiro lugar, porque não são necessários e, em segundo lugar, porque esperam obter ganhos à direita às custas da Lega, que agora está no governo.

Mais cedo ou mais tarde, porém, os jogos parlamentares serão substituídos por uma batalha aberta entre as classes. Nenhuma estabilidade é possível com base no sistema atual. Na Itália, não existe um partido operário de massas. Mas o humor das massas fica cada vez mais irritadiço e impaciente a cada dia. A ação militante dos trabalhadores no primeiro mês da pandemia foi um alerta do que está por vir.

Os repetidos fracassos dos governos estão, inevitavelmente, levando a uma explosão da luta de classes. Em última análise, as questões não serão resolvidas no parlamento, e aproxima-se, rapidamente, o dia em que o centro de gravidade passará de um parlamento desacreditado para as fábricas e as ruas.

Rússia

A mesma turbulência e volatilidade podem ser vistas em todos os lugares. Na Rússia, o retorno ao país e a prisão de Alexei Navalny foram o sinal para uma onda de protestos em todo o país. Houve manifestações de 40 mil pessoas em Moscou, 10 mil em Petersburgo e milhares mais em 110 outras cidades, incluindo Vladivostok e Khabarovsk.

Esses protestos ainda não estavam na mesma escala massiva que vimos na Bielorrússia antes, quando milhões foram às ruas para derrubar Lukashenko. Mas essas foram grandes manifestações em um contexto russo. Foram muito heterogêneas em sua composição, com muitas pessoas de classe média, intelectuais, liberais, mas também um número crescente de trabalhadores, especialmente de trabalhadores jovens.

A polícia reagiu com repressão. Brigas de rua ocorreram em muitas cidades. As pessoas romperam as barricadas, com cerca de 40 policiais feridos. Várias milhares de pessoas foram detidas.

O que isso representa? Os protestos foram, em parte, um reflexo da indignação com a prisão de Navalny. Mas a questão de Navalny é apenas um elemento nessa situação, e não, necessariamente, o mais importante.

Alexei Navalny é retratado, na mídia ocidental, como um defensor heroico da democracia. Na verdade, ele é um oportunista ambicioso com um passado político duvidoso. Em retrospecto, ele será visto como uma figura acidental.

Mas figuras acidentais também desempenham um papel na história em certos momentos. Assim como na química, é necessário um catalisador para provocar uma reação particular no processo revolucionário. Um ponto de referência é necessário para atuar como um detonador, para inflamar o descontentamento acumulado das massas. A natureza precisa desse catalisador. Nesse caso, foi a prisão de Navalny. Mas poderia ter sido qualquer outro fator.

Queda dos padrões de vida

O principal não é o acidente por meio do qual a necessidade se expressa, mas a própria necessidade. A verdadeira causa dessa revolta foi a raiva acumulada da população com a queda dos padrões de vida, a crise econômica e os abusos de um regime corrupto e repressivo.

Tudo indica que o apoio de Putin está caindo. A certa altura, as pesquisas regularmente lhe davam um apoio superior a 70%. Na época da anexação da Crimeia, esse percentual subiu para mais de 80%. Mas agora ele oscila em torno de 63% e, em seu ponto mais baixo, estava apenas um pouco acima dos 50%. Esses números devem ter causado grande alarme no Kremlin.

No passado, Putin podia orgulhar-se de algum sucesso no campo econômico, mas não agora. Entre 2013 e 2018, antes da pandemia, o crescimento econômico anual foi de 0,7%, ou seja, estava basicamente estagnado. No final de 2020, houve um crescimento negativo de cerca de 5%. O desemprego está crescendo rapidamente e muitas famílias estão perdendo suas casas.

Por um tempo, notadamente após a anexação da Crimeia, que tem uma maioria de russos, Putin jogou a carta nacionalista. Isso aumentou sua popularidade, mas os vapores inebriantes do chauvinismo agora foram amplamente dissipados e o estoque de credibilidade de Putin foi seriamente prejudicado por sua reforma previdenciária.

Há uma indignação crescente com a corrupção monstruosa e o estilo de vida luxuoso da elite governante. Dois dias após sua prisão, Navalny divulgou um vídeo, visto por milhões, expondo a corrupção pessoal de Putin, mostrando um grande palácio que ele ergueu no Mar Negro. Tudo isso está criando um clima explosivo.

A base de apoio do regime está se estreitando o tempo todo. Fora da camarilha de oligarcas do Kremlin, que são notoriamente corruptos, ela consiste principalmente em funcionários do Estado, cujos empregos e carreiras dependem do chefe, de um grande número de comparsas, que dependem de contratos estatais e vínculos comerciais com o Kremlin, e de outros que prosperaram sob seus favores .

Por último, mas não menos importante, ele depende do aparato de segurança e do exército. O regime de Putin é um regime bonapartista burguês. Em última análise, o bonapartismo é dominado pela espada. Putin é o “homem forte” que está no ápice do estado e equilibra as classes, apresentando-se como a personificação da nação russa.

Mas este homem forte tem pés de barro. À medida que se esgota sua base de apoio em massa, ele se vê cada vez mais reduzido a se manter por meio de uma mistura de estafas, fraude eleitoral descarada e repressão nua e crua.

Diz-se que Talleyrand certa vez comentou com Napoleão que muitas coisas podem ser feitas com baionetas, mas não se pode sentar sobre elas. Putin faria bem em refletir sobre esse sábio conselho. A prisão e o envenenamento de opositores políticos não são um sinal de força, mas de medo e fraqueza.

Além disso, o terror é uma arma que só pode ser usada com eficácia por algum tempo, mas está sujeita à lei dos rendimentos decrescentes. Mais cedo ou mais tarde, as pessoas começam a perder o medo. Esse é o momento mais perigoso para um regime autoritário. As recentes manifestações são a prova de que esse processo já começou.

Na realidade, a única coisa que mantém o regime é a inércia temporária das massas. É impossível dizer, com certeza, quanto tempo pode durar o atual equilíbrio instável. Por enquanto, a repressão massiva conseguiu frear os protestos. Mas nenhum dos problemas subjacentes foi resolvido.

Os protestos recentes alarmaram o regime, que combina repressão com concessões. Eles anunciaram um plano para ajudar as famílias mais pobres. Isso pode lhes dar algum tempo. Mas o preço relativamente baixo do petróleo continuará a prejudicar a economia russa, e as sanções impostas pelos Estados Unidos permanecerão, e até mesmo serão reforçadas.

O Partido “Comunista”

Na Rússia, o papel do fator subjetivo é flagrantemente óbvio. Se o Partido Comunista da Federação Russa (CPRF) fosse um verdadeiro Partido Comunista, agora estaria se preparando para o poder. Mas a camarilha de Zyuganov não tem interesse em tomar o poder. Eles têm um acordo muito confortável com Putin, que lhes garante seus privilégios, sob a condição de que nada façam para perturbar seu controle do poder.

A atitude dos dirigentes do CPRF vem gerando um mal-estar crescente nas fileiras do partido. Houve várias revoltas locais e regionais, que foram reprimidas com expurgos e expulsões. Organizações regionais inteiras foram destruídas dessa forma. Zyuganov teme a possibilidade de um aumento no sentimento da oposição radical dentro do partido. E esse aumento da oposição e o crescimento da crise no Partido Comunista abre a possibilidade de fortalecer uma influência marxista genuína entre os comunistas comuns.

A presente trégua inquietante pode durar vários meses, ou mesmo, vários anos. Mas a demora significará apenas que as contradições continuarão a crescer, preparando o caminho para uma explosão muito maior no futuro. O elemento mais decisivo nessa equação é a classe trabalhadora russa, que ainda não disse a última palavra.

É impossível prever com precisão o cronograma dos eventos. A Rússia ainda não está em uma situação pré-revolucionária, mas os eventos estão acontecendo muito rápido. Devemos acompanhar os acontecimentos naquele país.

Índia

Na Índia, temos o que equivale a um movimento insurrecional de camponeses, que organizaram uma marcha de tratores para interromper o Desfile do Dia da República, em Delhi, em 26 de janeiro, onde Modi estava comemorando com um grande desfile militar.

Esses eventos devem ser colocados no contexto da crise global do capitalismo. Na competição acirrada do setor agrícola, as grandes empresas multinacionais de alimentos estão tentando empurrar para baixo os preços que os pequenos e médios agricultores recebem por seus produtos no ponto de produção.

A mercantilização da agricultura indiana não é um fenômeno novo. Isso vem acontecendo há anos, como vimos no governo anterior de Manmohan Singh. O capital financeiro entrou na agricultura indiana em grande escala, obrigando os agricultores a confiar cada vez mais em empréstimos, em um grau insuportável, para comprar recursos agrícolas essenciais, cujos custos dispararam.

Assim que as novas leis foram introduzidas, os preços pagos aos agricultores foram reduzidos em até 50%, enquanto os preços dos alimentos no varejo aumentavam. É essa situação insuportável que levou ao grande movimento dos fazendeiros indianos. Sua exigência é que as novas leis sejam revogadas. Mas nenhuma de suas demandas foi atendida e nenhuma dessas questões foi resolvida nas negociações.

O que começou em agosto de 2020 como protestos em pequena escala no Punjab, quando Modi tornou públicos os projetos de lei agrícolas, transformou-se em um movimento muito maior, espalhando-se para outros estados. Em setembro de 2020, sindicatos de agricultores em toda a Índia convocaram um Bharat Bandh (uma paralisação em todo o país). O movimento continuou a crescer, já que as negociações intermináveis com o governo não davam resultados tangíveis. Cinco milhões participaram de protestos em 20 mil locais, em dezembro de 2020.

Um ponto de virada importante nesse movimento veio com os dramáticos eventos de 26 de janeiro, quando centenas de milhares de agricultores marcharam em Delhi para protestar por suas demandas. Os fazendeiros forçaram seu caminho dos arredores da cidade para o histórico Forte Vermelho da cidade. Essas pobres pessoas mostraram uma coragem tremenda, lutando contra policiais fortemente armados, sendo atacados com chicotes, chutados e espancados.

Apesar da forte repressão policial, os fazendeiros invadiram o Forte Vermelho, ocupando as muralhas. A polícia precisou de muito esforço para expulsá-los. Um manifestante morreu e mais de 300 policiais ficaram feridos. Isso só serviu para enfurecer ainda mais os fazendeiros e para atrair para o movimento, a solidariedade de outros estados.

A escala dessa luta também reflete a fermentação em toda a sociedade, onde, mesmo as camadas consideradas relativamente conservadoras do meio rural, estão entrando em ação e se radicalizando sob o impacto da crise econômica.

Não faz muito tempo, quando Modi venceu as eleições pela primeira vez, os cansados esquerdistas e ex-esquerdistas lamentavam a ascensão do “fascismo” na Índia. Nossa tendência, no entanto, entendia que Modi, no cargo, prepararia as condições para uma reação de imensas proporções. Nossas perspectivas foram confirmadas por eventos em grande escala. Longe do fascismo, o que temos é polarização de classes e intensa luta de classes.

O papel dos stalinistas

Modi ficou claramente abalado com a revolta dos agricultores, que deu uma ideia da fúria reprimida das massas. Mas a fraqueza do movimento na Índia pode ser encontrada na liderança dos sindicatos, que falharam em fornecer uma resposta séria da poderosa classe trabalhadora indiana em apoio aos agricultores.

Tudo isso vem, depois de anos em que vimos mobilizações massivas do proletariado indiano, com várias grandes greves gerais de 24 horas, envolvendo até 200 milhões de trabalhadores – as maiores greves gerais da história da classe trabalhadora internacional.

Em setembro de 2016, entre 150 e 180 milhões de trabalhadores do setor público entraram em greve geral de 24 horas. Em 2019, cerca de 220 milhões de trabalhadores participaram de uma greve geral e, novamente, em janeiro de 2020, 250 milhões de trabalhadores participaram de uma greve geral de 24 horas.

Esses fatos demonstram o colossal potencial revolucionário do proletariado indiano. Os trabalhadores estão preparados para lutar. No entanto, a política dos stalinistas não foi a de mobilizar as massas para um confronto decisivo com o regime de Modi, mas apenas a de se apoiar no movimento de massas para obter concessões e chegar a acordos com ele.

Na prática, eles usaram a tática de greves gerais de um dia para permitir que os trabalhadores desabafassem, enquanto desviavam o movimento de massa para canais inofensivos. Essa foi a mesma tática que os líderes sindicais usaram na Grécia, convocando uma série de greves gerais de um dia. Trata-se de um truque para desgastar os trabalhadores, transformando a greve geral em um gesto sem sentido, criando a ilusão de uma ação decisiva, ao mesmo tempo que enfraquece tal ação na prática.

A palavra de ordem da greve geral

Na Índia, objetivamente falando, existem todas as condições para uma greve geral total. Os partidos comunistas e os líderes sindicais poderiam ter desempenhado um papel importante nisso, mas estão se arrastando. Eles poderiam ter derrubado o governo Modi e posto um fim às suas políticas reacionárias. Em vez disso, eles fazem declarações simbólicas, mas não emitem nenhum apelo para uma ação séria.

Isso destaca a necessidade urgente de intensificar as forças do marxismo na Índia. Mas temos que manter o senso das proporções. Nossa organização na Índia ainda está em um estágio inicial. Seria um erro fatal ter uma ideia exagerada do que podemos alcançar.

Nossa tarefa não é liderar o movimento ou conquistar as massas, mas trabalhar pacientemente para conquistar os melhores e mais revolucionários elementos, que se impacientam com as infindáveis prevaricações e vacilações da direção.

Devemos apresentar slogans de transição oportunos que correspondam às necessidades urgentes da situação e impulsionem o movimento à frente, ao expor a conduta pusilânime da liderança.

A luta dos agricultores ecoou nas fábricas. Sentindo o braseiro sob os pés, os líderes sindicais começaram a falar sobre uma greve geral de quatro dias. Nós apoiaríamos tal demanda, mas o que é necessário não são palavras, mas ações!

Devíamos dizer: muito bem, vamos fazer uma greve de quatro dias, mas menos conversa e mais ação! Digam o dia! Comecem uma campanha nas fábricas. Convoquem reuniões de protesto em massa, criem comitês de greve. Atraiam os agricultores, as mulheres, os jovens, os desempregados e todos os setores oprimidos da sociedade. E unam esses órgãos de luta comuns em nível municipal, regional e nacional. Em outras palavras, organizem sovietes com o objetivo de transferir o poder aos trabalhadores e agricultores.

Uma vez que as massas da Índia se organizem para a conquista do poder, nenhuma força na terra poderia detê-las. Uma greve de quatro dias logo se transformaria em uma greve geral por tempo indeterminado. Mas isso levanta a questão do poder.

Essa é a perspectiva que devemos explicar pacientemente aos trabalhadores e camponeses indianos. Por esses meios, embora ainda sejamos muito poucos, nossa mensagem tocará na fibra sensível dos trabalhadores e jovens mais avançados que buscam o caminho revolucionário.

Nossa tarefa é conquistar e treinar um número suficiente de quadros revolucionários que nos permitam intervir efetivamente nos dramáticos acontecimentos que se desenrolarão no próximo período.

Myanmar

O golpe militar em Mianmar é a confirmação de que vivemos em um período de “guinadas bruscas e mudanças repentinas”. O golpe foi uma surpresa para muitos. Os militares elaboraram uma constituição que lhes dá garantia de 25% dos parlamentares e o controle sobre os principais ministérios. Também introduziram uma cláusula que permite aos militares intervir durante uma “emergência”.

Mas onde estava a emergência aqui? Os militares inventaram uma ao alegar falsamente uma fraude eleitoral generalizada durante a enorme e esmagadora vitória de Aung San Suu Kyi e da Liga Nacional para a Democracia, em novembro de 2020.

O que realmente está por trás do golpe é o conflito em curso sobre quem deve se beneficiar do programa de privatizações iniciado em 1988. Os militares têm se dedicado, desde então, a ficar ricos com a tomada de propriedades estatais a preços reduzidos. Por outro lado, os imperialistas, em particular os Estados Unidos, estão pressionando para que Myanmar abra seu mercado às corporações multinacionais.

O problema que os imperialistas enfrentam é que a potência externa dominante em Myanmar é a China. A maior parte das exportações e importações de Myanmar é com a China. Assim, temos aqui uma luta por esferas de influência, fundamentalmente entre a China e os Estados Unidos, onde Aung San Suu Kyi é o agente destes últimos.

Os chefes militares se transformaram em oligarcas capitalistas e viram a vitória esmagadora do NLD como uma ameaça potencial aos seus interesses. Os militares são odiados pelas massas, e a casta de oficiais temia que, com um apoio tão grande, o novo governo entrante pudesse agir para restringir seu poder e privilégios.

Os militares também temiam o crescimento da confiança das massas após as eleições. Acostumados a governar o país por ordens de comando no passado, eles pensaram que poderiam intervir e ditar a direção que o país deveria seguir. No entanto, eles não levaram em consideração o quão forte é a oposição ao regime militar. As massas não se esqueceram de como era a vida sob o regime militar e veem a casta militar como corrupta e gananciosa.

Aqui temos um exemplo do que Marx chamou de “chicote da contrarrevolução”. O golpe, em vez de aterrorizar e paralisar as massas, as estimulou. A perspectiva para Myanmar é, portanto, de uma luta de classes intensificada e não de paralisia e desmoralização.

China

Anteriormente, a China era uma grande parte da solução para o capitalismo mundial, agora é uma grande parte do problema.

A China foi a única grande potência econômica a experimentar crescimento em 2020. O Estado chinês interveio de forma muito decisiva para neutralizar a pandemia e a crise econômica. Isso foi efetivo do ponto de vista capitalista, mas teve um custo alto. Os níveis de dívida da China dispararam desde 2008, aumentando 30% durante a pandemia e atingindo 285% em 2020. O país já ultrapassou muitos dos países capitalistas avançados em seu nível de dívida.

O Banco Mundial projeta um crescimento de 8% neste ano. Desde a primavera do ano passado, a China tem superado o desempenho do resto do mundo. Mas esse mesmo sucesso será sua ruína, uma vez que sua recuperação é liderada pelas exportações. As autoridades em Pequim vêm, há algum tempo, tentando modificar a estrutura da economia chinesa, passando de sua forte dependência a investimentos e exportações para o aumento da demanda interna. Também têm buscado desenvolver indústrias em novas tecnologias, como Inteligência Artificial, 5G e energia solar, que apresenta maior produtividade da mão de obra. Eles também estão tentando desenvolver acordos comerciais alternativos para conter as tentativas dos EUA de isolar a China.

Nenhuma dessas medidas resolverá as contradições em desenvolvimento na economia chinesa. Na verdade, desde o início da pandemia, a economia tornou-se ainda mais dependente das exportações. Além disso, a dívida continua a crescer de forma explosiva, os conflitos com os vizinhos e outras potências imperiais intensificam-se e a desigualdade do crescimento continua, com as zonas costeiras adiantando-se em relação ao interior. Tudo isso agravará as contradições sociais já existentes.

Não é por acaso que, em seus últimos dias, o governo Trump adotou uma abordagem de “terra arrasada” para a China, mas, sob Biden, a política dos EUA em relação à China não mudará fundamentalmente. Tanto os Republicanos quanto os Democratas veem a China como a principal ameaça aos EUA em escala mundial.

O conflito entre os EUA e a China ameaça provocar uma guerra comercial ainda mais séria. Esta é a maior ameaça que existe para o capitalismo mundial, pois foi o crescimento do comércio mundial (a chamada globalização) que forneceu o oxigênio necessário para o capitalismo no último período.

Isso, por sua vez, terá um efeito dentro da China. Uma crise econômica constituiria uma séria ameaça à sua estabilidade social. Já houve fechamentos de fábricas e desemprego, que foram dissimulados, mas existem. As empresas privadas transferiram seus problemas para os trabalhadores com demissões e ataques aos salários. O pagamento dos salários se atrasa durante meses, aumentando raiva e ressentimento colossais.

Os círculos dirigentes temem a possibilidade de explosões sociais como resultado da crise econômica e do aumento do desemprego. Essa é a principal razão pela qual Xi Jinping foi obrigado a reprimir cruelmente Hong Kong. Isso não foi uma expressão de força, mas de medo e fraqueza. A classe dominante chinesa ficou apavorada com a possibilidade de que esse tipo de movimento se espalhasse para o continente e, no futuro, isso acontecerá, tão certo quanto a noite se segue ao dia.

O regime tem conseguido, até agora, conter o descontentamento fervilhante em toda a China. Mas ele pode explodir a qualquer momento e, quando isso acontecer, não será possível reprimi-lo como em Hong Kong. Mesmo aí, por um tempo, o regime perdeu o controle dos acontecimentos. Mas, diante de cem ou mil Hong Kongs na China continental, ele se veria imediatamente suspenso no ar.

Grandes eventos estão sendo preparados na China. E vão acontecer quando ninguém os esperar, precisamente porque é um regime totalitário, onde a maior parte do que está acontecendo é oculto da vista.

Alterações no equilíbrio de forças

O que tirou os EUA da Depressão da década de 1930 não foi o New Deal de Roosevelt, mas a Segunda Guerra Mundial. Mas essa avenida agora está fechada. O poder do imperialismo americano declinou em relação ao de outras potências e, também, sua capacidade de intervir militarmente.

A necessidade de conquistar mercados e fontes de matérias-primas obriga a China a ser mais agressiva no mercado mundial. Ela obteve acesso a recursos em todo o mundo. Por exemplo, assumiu o controle de um porto e de um aeroporto no Sri Lanka; estabeleceu uma base militar no Djibouti; construiu ferrovias na Etiópia; explora o cobre e o cobalto no Congo; o cobre na Zâmbia; o petróleo em Angola e assim por diante. Também reivindica soberania sobre o Mar da China Meridional, que é a rota mais importante para o comércio mundial.

Isso ameaça diretamente os interesses do imperialismo dos EUA. Tudo isso significa, inevitavelmente, maior tensão entre a China e os Estados Unidos. Em períodos anteriores, isso, sem dúvida, teria levado à guerra. Mas o equilíbrio de forças agora mudou completamente.

Trump não foi capaz de fazer a Coreia do Norte abandonar as armas nucleares. O “Little Rocket Man” correu em círculos ao seu redor. Então, por que os EUA não declaram guerra à Coreia do Norte, que afinal é um país asiático muito pequeno?

No passado, os americanos travaram uma guerra na Coreia, que acabou empatada. Mas no Vietnã, após uma drenagem tremenda de sangue e ouro, eles foram derrotados pela primeira vez. Depois disso, eles sofreram humilhação no Iraque, Afeganistão e Síria.

Trump parecia estar preparando um ataque aéreo contra o Irã, mas recuou no último minuto, temendo as consequências. Tudo isso serve para sublinhar o fato de que a guerra não é uma questão abstrata, mas muito concreta.

Os EUA não conseguiram defender a Ucrânia ou a Geórgia contra a Rússia, que tem um exército muito poderoso que demonstrou sua eficácia na Síria. Os EUA foram obrigados a recuar, deixando a Rússia e o Irã como amos virtuais do país. Os americanos enviaram um punhado de tropas aos Estados Bálticos para “protegê-los” da Rússia. Mas Putin não tem intenção de invadir esses pequenos estados e não perderá o sono com isso.

O caso com relação à China é ainda mais claro. A China hoje não é mais um país pobre e subdesenvolvido como no passado. É um estado economicamente desenvolvido com um exército poderoso, possui armas nucleares e mísseis balísticos intercontinentais suficientes para atingir qualquer cidade dos Estados Unidos que escolher.

O fato de que a China recentemente colocou um satélite em órbita ao redor da Lua e enviou uma missão a Marte, deixou claro esse ponto, que Washington observou devidamente. Portanto, não há absolutamente nenhuma questão de guerra previsível entre os Estados Unidos e a China, ou, se for o caso, entre os EUA e a Rússia.

Uma conflagração geral nas linhas de 1914-18 ou 1939-45 está descartada devido à alteração do equilíbrio de forças. Nas condições modernas, isso significaria uma guerra nuclear, o que seria catastrófico para o mundo inteiro.

No entanto, isso não significa que o próximo período será de paz e tranquilidade. Muito pelo contrário. De fato, haverá guerras o tempo todo – guerras locais pequenas, mas devastadoras – na África e no Oriente Médio, em particular. Os imperialistas dos EUA, juntamente às outras potências imperialistas, estiveram envolvidos em guerras locais apoiando exércitos por procuração para travar a guerra contra seus concorrentes, e isso também será o caso com a China no futuro, mas eles são muito avessos a arriscar a vida de soldados americanos em guerras estrangeiras às quais a opinião pública americana agora se opõe implacavelmente.

Essa situação só pode mudar com a vitória de um regime policial militar bonapartista nos EUA. Mas isso só seria possível após uma série de derrotas decisivas da classe trabalhadora americana, o que não é, de forma alguma, nossa perspectiva. Muito antes que isso pudesse acontecer, a classe trabalhadora terá muitas oportunidades de tomar o poder. O balido constante das chamadas esquerdas e das seitas sobre o alegado fascismo representado por Trump é mera infantilidade, à qual não devemos prestar absolutamente nenhuma atenção.

Atualmente, o imperialismo dos EUA usa sua força econômica para afirmar seu domínio global. A administração Trump usou repetidamente a ameaça de sanções econômicas para forçar o resto do mundo a seguir servilmente as políticas de Washington no campo das relações exteriores. O imperialismo dos EUA transformou o comércio em uma arma.

Tendo rompido unilateralmente o acordo com o Irã, que havia sido dolorosamente elaborado pelo governo anterior dos EUA e seus aliados europeus, Trump apertou as sanções a fim de estrangular a economia do Irã e, em seguida, forçou as empresas e bancos europeus a segui-lo, sob pena de serem excluídos dos mercados dos EUA.

No passado, se os imperialistas britânicos tivessem problemas com um país semicolonial como a Pérsia, eles enviariam uma canhoneira. Hoje em dia, o imperialismo norte-americano envia uma carta da Junta Comercial. Na verdade, os efeitos do último são muito mais devastadores do que alguns projéteis lançados de um navio de guerra.

Clausewitz disse uma vez que a guerra é a continuação da política por outros meios. Hoje em dia, devemos acrescentar que o comércio é a continuação da guerra por outros meios.

“Economia vodu”

Quando a classe dominante estiver disposta a perder tudo, recorrerá a medidas desesperadas para salvar o sistema. Nós vemos isso agora. Em sua busca desesperada por soluções para a crise, o burguês cambaleia como um bêbado de um poste para o outro.

Eles vasculharam a lata de lixo da história e pegaram as velhas ideias do keynesianismo. A burguesia de repente se embriagou com suas ilusões recém-descobertas, que são apenas velhas e desacreditadas teorias que ela havia previamente descartado com desprezo.

Ted Grant costumava descrever o keynesianismo como economia vodu. Essa é uma descrição muito justa. A ideia de que a burguesia pode evitar crises ou sair delas injetando grandes somas de dinheiro público parece atraente – especialmente para os reformistas de esquerda, que se sentem indultados da necessidade de lutar para mudar a sociedade. Mas há um pequeno problema.

O estado não é uma árvore mágica de dinheiro. A ideia de que pode ser uma fonte de fundos ilimitados é um absurdo completo. No entanto, esse absurdo foi adotado por quase todos os governos. É realmente uma política nascida do desespero. E isso levou ao acúmulo de dívidas astronômicas que não têm precedentes, exceto em tempo de guerra.

No momento, governos em todos os lugares estão gastando dinheiro como água. Eles falam sobre gastar bilhões de dólares, libras ou euros como se estivessem gastando pequenos trocos em uma caixa de fósforos.

Como resultado, há uma bomba-relógio da dívida, que está embutida nos alicerces da economia. No longo prazo, os efeitos serão mais devastadores do que qualquer bomba terrorista. Isso é o que Alan Greenspan uma vez chamou de “a exuberância irracional do mercado”.

Uma palavra mais precisa seria “loucura”. Essa loucura deve levar a uma queda, que é eufemisticamente chamada de “correção de mercado”.

O papel do Estado na economia

Em 8 de maio de 2020, o Financial Times publicou uma declaração do Conselho Editorial na qual lemos o seguinte:

“Sem uma revolução comunista, é difícil imaginar como os governos poderiam intervir nos mercados privados – de trabalho, crédito, troca de bens e serviços – tão rápida e profundamente quanto nos últimos dois meses de bloqueios.
“Da noite para o dia, milhões de empregados do setor privado receberam seus cheques de pagamento dos orçamentos públicos e os bancos centrais inundaram os mercados financeiros com dinheiro eletrônico.”

Mas como essas declarações podem se reconciliar com o mantra frequentemente repetido que nos diz que o Estado não tem nenhum papel a desempenhar em uma “economia de mercado livre?” A esta pergunta, o Financial Times oferece uma resposta muito interessante:

(…) “Mas o capitalismo liberal democrático não é autossuficiente e precisa ser protegido e mantido para ser resiliente.”

Em outras palavras, o “mercado livre” não é livre de forma alguma. Nas condições atuais, deve apoiar-se no Estado como uma muleta. Ele só pode existir graças a doações massivas e sem precedentes do Estado. O FMI calcula o montante total de apoio fiscal em todo o mundo em impressionantes US $ 14 trilhões. A dívida global do governo atingiu agora 99% do PIB pela primeira vez na história.

Esta é uma confissão de falência – no sentido mais literal da palavra. O problema central dessa equação pode ser resumido em uma palavra: dívida. A dívida global total (incluindo governo, famílias e empresas) no final de 2020 atingiu 356% do PIB, um aumento de 35% em relação a 2019, atingindo um recorde de US $ 281 trilhões. Agora está ainda mais alta e crescente. Este é o maior perigo que o sistema capitalista enfrenta.

O Japão gastou cerca de US $ 3 trilhões para amortecer o golpe econômico da Covid-19, aumentando sua dívida pública, que já é 2,5 vezes o tamanho de sua economia. O problema é particularmente grave na China, onde a dívida total ultrapassou 280% do PIB, o que coloca a China no mesmo nível dos países capitalistas avançados, e está crescendo rapidamente em todos os setores da economia.

Em janeiro deste ano, o Banco Mundial soou o alarme sobre uma “quarta onda de dívida”, que é particularmente severa fora dos países capitalistas avançados. Eles estão seriamente preocupados com um colapso financeiro com consequências de longo prazo.

O burguês está agindo como um jogador irresponsável gastando grandes quantidades de dinheiro que não possui. Eles sofrem das mesmas ilusões e experimentam o mesmo tipo de êxtase delirante de esbanjar enormes quantias de dinheiro na crença de que sua sorte nunca acabará… até que chegue o momento fatal – como sempre acontece – quando as dívidas têm de ser pagas.

Mais cedo ou mais tarde, essas dívidas serão cobradas. Mas, no curto prazo, eles estão muito felizes em continuar com essa loucura, imprimindo grandes somas de dinheiro que não têm nenhum respaldo real e inundando a economia com quantias de capital fictício de turvar a vista.

No entanto, essa não é simplesmente uma “crise da dívida”, como alguns dos liberais e reformistas argumentam. O verdadeiro problema é a crise do capitalismo – uma crise de superprodução, da qual essas enormes dívidas são um sintoma. Grandes dívidas não são, necessariamente, um problema por si só. Se houvesse um forte crescimento econômico no longo prazo, como no período do pós-guerra, essas dívidas poderiam ser administradas e, gradualmente, eliminadas. Mas essa perspectiva está descartada. O sistema capitalista não está em uma era de ascensão econômica, mas de estagnação e declínio. Como resultado, o peso da dívida se tornará um obstáculo cada vez maior para a economia mundial. A única maneira de reduzir esse problema é por meio da austeridade, da inflação que, por sua vez, terminará em colapso e em um novo período de austeridade, ou então, por uma quebra direta. Mas qualquer uma dessas variantes levaria a uma maior instabilidade e a uma intensificação da luta de classes.

É possível uma recuperação?

Levados por essa euforia, eles até publicam artigos prevendo, com segurança, uma recuperação – não só uma recuperação, mas uma recuperação massiva. Nas colunas da imprensa burguesa podem-se ler previsões confiáveis de uma recuperação. Essas previsões são pesadas em termos de otimismo, mas, lamentavelmente, leves em termos de fatos.

A crise atual difere das crises do passado em vários aspectos. Em primeiro lugar, está inseparavelmente enredada com a pandemia do coronavírus, e ninguém pode prever com qualquer grau de certeza quanto tempo isso vai durar.

Por todas essas razões, as previsões econômicas do FMI e do Banco Mundial não podem ser consideradas nada mais do que meras conjecturas.

Mas isso significa que uma recuperação está descartada? Não, seria um erro tirar tal conclusão. Na verdade, a certa altura, algum tipo de recuperação é inevitável. O sistema capitalista sempre se moveu em ciclos de altos e baixos. A pandemia distorceu o ciclo econômico, mas não o aboliu.

Lenin explicou que o sistema capitalista sempre pode sair até da crise mais profunda. Ele continuará a existir até que seja derrubado pela classe trabalhadora. Mais cedo ou mais tarde, ele também encontrará uma saída para essa crise. Mas dizer isso é dizer, ao mesmo tempo, muito e pouco.

A questão deve ser colocada de forma concreta, com base no que já sabemos. A natureza precisa desses altos e baixos, pode variar consideravelmente. E a pergunta que deve ser feita é: de que tipo de recuperação estamos falando?

Significará o início de um período prolongado de crescimento e prosperidade? Ou será apenas um interlúdio temporário entre uma crise e outra? As reivindicações mais otimistas se baseiam na existência (pelo menos nas economias capitalistas mais avançadas) de “demanda reprimida”.

Durante a pandemia, as pessoas não conseguiam gastar muito dinheiro em mercados, restaurantes, cafés e bares, ou em viagens ao exterior. O fim da pandemia – diz a teoria – pode servir para liberar esses fundos não gastos, promovendo um forte movimento de alta da economia e uma recuperação da confiança. Esse fato, junto a outras enormes injeções de dinheiro público, poderia levar a uma rápida recuperação.

Recuperação e luta de classes

Admitamos, por um momento, que tal cenário não pode ser descartado a priori. Qual seria a consequência? Do nosso ponto de vista, tal desenvolvimento não seria de todo negativo. A pandemia e o consequente aumento do desemprego chocaram a classe trabalhadora e provocaram uma certa paralisia.

Atuou como uma barreira para greves e outras formas de ação de massa e permitiu que os governos introduzissem medidas antidemocráticas sob o pretexto de “lutar contra a Covid-19”.

Mas mesmo uma ligeira recuperação econômica, com queda do desemprego, combinada com o efeito do fim da pandemia, reativaria a luta econômica, pois os trabalhadores se esforçam para recuperar tudo o que perderam no período anterior.

Essa recuperação, no entanto, seria temporária e extremamente instável, porque seria construída sobre uma base muito artificial e doentia. Ele conteria em si as sementes de sua própria destruição. E quanto mais alto subir, mais severa será a queda.

Além disso, também seria uma recuperação desigual, com a China, provavelmente, avançando às custas dos EUA, e com a Europa ficando para trás. Isso agravaria as tensões entre a China e os EUA, e entre a China e a Europa, levando a uma intensificação ainda maior da guerra comercial, com uma luta para se apoderar de mercados escassos, minando ainda mais o comércio mundial e deprimindo a vida econômica.

Esta é a maior ameaça de todas ao capitalismo mundial. Lembremos que a Grande Depressão foi causada, não pela quebra da bolsa de valores de 1929, mas pelas políticas protecionistas que se seguiram.

Os “loucos anos vinte”

Quando os economistas preveem uma forte recuperação após a pandemia, costumam traçar um paralelo com os “loucos anos 20”. Mas este paralelo é extremamente instável, e as conclusões que podemos tirar dele, dificilmente são encorajadoras do ponto de vista capitalista.

É verdade que a partir de 1924 houve uma recuperação que teve um caráter bastante febril, com especulação maciça na bolsa de valores produzindo enormes quantidades de capital fictício. Mas não devemos esquecer que terminou no Crash de 1929.

É perfeitamente possível que passemos por uma situação semelhante. Com uma diferença importante. As quantidades sem precedentes de capital fictício que estão sendo produzidos agora são muito maiores do que nos “loucos anos 20” – na verdade, maiores do que em qualquer época da história em tempos de paz. A queda, quando vier – como deve vir – será, portanto, correspondentemente maior.

A burguesia esqueceu um pequeno detalhe: o dinheiro deve representar valores reais, caso contrário, são apenas pedaços de papel – notas promissórias, cujas promessas nunca serão cumpridas. Tradicionalmente, o lastro do papel-moeda era o ouro. Cada nação tinha que manter um estoque de ouro em seus cofres e, em teoria, qualquer um poderia exigir o valor das notas em ouro.

Na prática, entretanto, isso não era possível. Com o tempo, as pessoas aprenderam a aceitar que um dólar, libra ou euro era “tão bom quanto o ouro”. Claro, pode ser outra coisa. Antes do ouro, era a prata. Antes disso, poderia ser quase qualquer coisa. Pode ser produção. Mas, a menos que seja baseado em algum tipo de valor material, são apenas pedaços de papel sem valor.

Quando o vínculo com o ouro foi rompido, com a abolição do padrão ouro, os governos e os banqueiros centrais puderam emitir tanto papel-moeda quanto desejassem. Mas, ao injetar grandes quantidades do que é realmente capital fictício na economia, a relação entre a quantidade de dinheiro em circulação e os bens e serviços que ele pode comprar fica distorcida. Na economia dos Estados Unidos, medida por M21, a oferta de moeda aumentou em espantosos US $ 4 trilhões em 2020. Isso é um aumento de 26% em um ano – o maior aumento percentual anual desde 1943. Isso deve se expressar eventualmente em uma explosão de inflação.

Este fato está sendo convenientemente ignorado por políticos, economistas e banqueiros centrais. Eles apontam que, até o momento, os temores de inflação não se concretizaram. Isso é verdade e reflete uma forte queda na demanda – um sintoma da profundidade da crise. Sem escoamento nos preços ao consumidor, a pressão inflacionária inflou bolhas especulativas nos preços das ações, nas criptomoedas etc. Mas essa situação não pode durar. A euforia inicial dos investidores se transformará, então, no seu oposto.

No período anterior à crise de 2008, a inflação foi contida por outros fatores, entre eles, o crescimento do comércio global, as novas tecnologias e a busca por mão de obra de baixo custo no chamado Terceiro Mundo. Esses elementos, que desempenharam um papel poderoso por quase 30 anos, em grande medida, se exauriram no período mais recente. O crescimento do comércio global vem diminuindo consideravelmente há vários anos e as novas tecnologias, que permitiram uma redução significativa dos custos de produção, chegaram a um ponto de saturação.

Não é por acaso que todas as estatísticas do comércio mundial parecem mostrar uma tendência à internalização, ou seja, um retorno à produção nos países capitalistas de origem. Essa tendência se afirmou espontaneamente por meio das escolhas estratégicas das corporações multinacionais, mas também foi objetivamente fortalecida pelas políticas protecionistas de Trump e de outros governos imperialistas.

Depois da crise de 2007, assistimos a uma expansão baseada no crédito em regime de austeridade, que tinha um caráter muito diferente do de hoje: no passado, o dinheiro ia para a recapitalização de bancos, seguradoras e empresas que estavam à beira de falência, ou ia para a Bolsa de Valores, ou para a especulação imobiliária, mas sem alargar a base do consumo de massa.

Hoje, a situação mudou: o efeito combinado dessas novas tendências é uma receita pronta e acabada para a inflação e coloca uma série de questões de extremo interesse, que também estão sendo discutidas nos mais altos escalões da classe dominante. Mais importante ainda: o que acontecerá quando os bancos centrais tiverem que aumentar as taxas de juros e parar de comprar bônus-lixo no mercado para controlar o aumento da inflação?

Paradoxalmente, a inflação é uma espécie de “solução” capitalista para a crise da dívida, na medida em que um aumento da inflação e dos preços desvalorizaria a dívida. Mas isso acarreta enormes custos econômicos e sociais. E uma vez que decole, torna-se muito difícil recuperar o controle. Nos anos 1970, Ted Grant explicou que a burguesia, alarmada com o aumento da inflação, cavalgava nas costas de um tigre, e o problema era desmontar sem ser comido.

Hoje, tais tentativas de contornar a mais séria crise de superprodução já vista com o que Marx chamou de “os truques da circulação” são um jogo muito perigoso. Aqui, ultrapassamos Keynes de longe: o keynesianismo exige que o Estado contraia dívidas emitindo títulos; o que está sendo proposto hoje é qualitativamente diferente, ou seja, seguir as sugestões malucas da Teoria Monetária Moderna (MMT) e, assim, imprimir dinheiro de forma ilimitada.

O que representa uma mudança qualitativa real no sistema capitalista é que uma teoria completamente irracional como a MMT se encontra na posição privilegiada de condicionar, se não de determinar, as escolhas econômicas do poder imperialista mais importante do mundo.

Essa questão não diz respeito apenas aos Estados Unidos. Essa tendência agora é global. Recentemente, o ex-vice-governador do Banco do Japão (BoJ), Kikuo Iwata, afirmou que o Japão tem que aumentar as despesas tributárias, aumentando a dívida do setor público, financiada pelo banco central. Essa proposta de “dinheiro de helicóptero” é identificada como a solução para o baixo crescimento, e parte da ideia de que a demanda deve ser estimulada simplesmente com a impressão de mais dinheiro. Essas são exatamente as reivindicações da MMT, ao qual Draghi também deu crédito em 2016, quando foi Presidente do Banco Central Europeu (BCE), embora as contradições internas da UE não lhe proporcionem as mesmas margens de manobra dos EUA e do Japão.

Embora não haja como saber, com precisão, como a crise vai se desenrolar, a certa altura, as tensões trazidas pelas enormes dívidas acumuladas vão causar pânico. As taxas de juros terão que aumentar drasticamente para combater a inflação. O crédito barato, que manteve o sistema à tona até agora, vai secar da noite para o dia. Os bancos deixarão de emprestar para pequenas e médias empresas, que irão à falência.

Como em 1929, as realidades econômicas derramarão água gelada sobre a “exuberância irracional” dos investidores. Como a noite segue o dia, haverá pânico nas bolsas de valores do mundo. Os investidores venderão suas ações com prejuízo, criando uma queda acentuada e imparável.

Já os investidores veem as dívidas colossais que se acumulam nos EUA e começam a duvidar que o dólar realmente valha o que dizem que vale. Mais tarde, a menos que medidas corretivas sérias sejam tomadas, haverá uma corrida para se livrar dos dólares, e uma queda acentuada no valor do dólar terá um efeito dominó sobre outras moedas, com o caos resultante nos mercados financeiros internacionais.

Os capitalistas buscarão um refúgio seguro no ouro, na prata e na platina. Este será o prelúdio de uma profunda recessão na economia real, com um colapso do investimento, um esgotamento do crédito e a onda resultante de falências, fechamentos de fábricas e desemprego.

Finalmente, a crise atingirá os próprios bancos. O colapso de apenas um grande banco pode causar uma crise bancária geral. Foi o que aconteceu em 11 de maio de 1931, quando o banco austríaco Creditanstalt anunciou que havia perdido mais da metade do seu capital, critério que, segundo o direito austríaco, determina a declaração de falência de um banco.

Tudo isso pode acontecer novamente. Os economistas burgueses tentam acalmar os nervos tensos, repetindo que isso não pode acontecer porque aprendemos as lições da história. Mas, como Hegel apontou: “O que a experiência e a história nos ensinam é que as pessoas e os governos nunca aprenderam nada com a história ou agiram de acordo com os princípios deduzidos dela”.

Os sinais de alerta, no entanto, já estão piscando, e alguns dos economistas mais sóbrios podem ver isso. Mas, apesar de todas as advertências, os burgueses não têm alternativa a não ser seguir o caminho que já escolheram.

O capitalismo, agora, exibe todos os sintomas de decadência senil avançada. Podemos afirmarque qualquer recuperação não significará uma melhora na saúde geral desse sistema, mas apenas uma recuperação cíclica que prepara uma crise ainda mais profunda. E uma depressão ainda mais severa do que a dos anos 1930 está sendo preparada. Esse será o resultado inevitável das políticas que agora estão sendo seguidas. Essa é a perspectiva real, e as consequências sociais e políticas serão incalculáveis.

Consequências sociais e políticas

Para os marxistas, o estudo da economia só tem importância na medida em que se expressa na consciência das massas. O cenário que delineamos tem claras semelhanças com a década de 1930, mas também existem diferenças importantes.

Naquela época, as contradições da sociedade se resolviam em um espaço de tempo relativamente curto, e só podiam terminar com a vitória da revolução proletária ou com uma reação na forma do fascismo ou do bonapartismo. Hoje, uma solução tão rápida se descarta devido à alteração do equilíbrio de forças.

A classe trabalhadora hoje é muito mais numerosa do que na década de 1930. Seu peso específico na sociedade é muito maior, enquanto as reservas sociais de reação (o campesinato e outros pequenos proprietários etc.) foram drasticamente reduzidas.

A burguesia se depara com a crise mais grave de sua história, mas não consegue se mover rapidamente na direção da reação. Por outro lado, a classe trabalhadora, apesar de sua força objetiva, é constantemente retida pela direção, que está ainda mais degenerada agora do que era nos anos 1930.

Por todas essas razões, a crise atual se prolongará no tempo. Pode durar anos, ou mesmo décadas, com altos e baixos, devido à ausência do fator subjetivo. No entanto, este é apenas um lado da moeda. O fato de ser longo e demorado não significa que será menos turbulento. Muito pelo contrário: a perspectiva é de mudanças bruscas e repentinas.

O desenvolvimento da consciência da classe trabalhadora não pode ser reduzido mecanicamente ao número de greves e manifestações de massa. Essa é a falsa ideia dos sectários e ultra-esquerdistas que se baseiam inteiramente no ativismo irracional, e não conseguem ver os processos mais profundos de radicalização que estão ocorrendo silenciosamente, sob a superfície, o tempo todo. Isso é o que Trotsky chamou de processo molecular da revolução socialista.

Os empíricos superficiais só são capazes de ver a superfície dos eventos, mas os processos reais escapam inteiramente à sua atenção. Como consequência, eles perdem imediatamente o equilíbrio das calmarias temporárias na luta de classes. Eles ficam desanimados e pessimistas, e são pegos completamente desprevenidos quando o movimento repentinamente explode na superfície.

A combinação de pandemia e desemprego em massa atuou como um freio à luta econômica. Houve um declínio acentuado no número de greves quando as condições eram desfavoráveis às manifestações de massa, embora, às vezes, ocorressem. Mas a ausência de lutas de massa não significa nem um pouco que o desenvolvimento da consciência tenha sido interrompido, muito pelo contrário.

A profundidade da crise está transformando a psicologia de milhões de homens e mulheres. A juventude, em particular, está totalmente aberta às ideias revolucionárias. As contradições gritantes na sociedade, o terrível sofrimento das massas – todas essas coisas estão criando uma quantidade colossal de raiva e amargura, que está se acumulando silenciosamente nas profundezas da sociedade.

A classe trabalhadora ficou temporariamente desorientada, no início da pandemia, embora na Itália tenha ocorrido uma importante onda de greves em março e abril de 2020.

Usando a desculpa da pandemia, a classe dominante vem pressionando enormemente os trabalhadores há mais de um ano. Mas isso criou um clima de amargura e ressentimento, que está lançando as bases para uma explosão da luta de classes.

Com a diminuição dos casos do vírus, serão criadas as condições para sérias mobilizações da classe trabalhadora, tanto em questões econômicas, quanto políticas.

Já não estamos em 2008-2009, quando os trabalhadores foram pegos de surpresa pela crise e pelas reestruturações, quase sempre inesperadas, o que contribuiu para interromper temporariamente a iniciativa do movimento operário.

Depois de recuperados do impacto inicial da crise, os trabalhadores estão, agora, recuperando a confiança, e acreditam que a luta pode dar resultados tangíveis, levando a uma maior vontade de mobilização para a ação.

Esse processo será fortalecido pela reabertura da economia, assim como pelas experiências recentes durante a pandemia, que evidenciaram o papel essencial da classe trabalhadora na sociedade, principalmente nos setores que nunca fecharam (saúde, transporte, comércio, indústria), mas foram submetidos a pressões insuportáveis e a um aumento impiedoso do ritmo de trabalho.

Os trabalhadores pagaram um preço altíssimo em termos de mortes e sacrifícios na luta contra a Covid e, consequentemente, hoje, não só estão mais conscientes do papel que ocupam na sociedade, mas também querem que isso seja compensado com o aumento dos seus salários e melhorias em suas condições de trabalho. Este é um fator decisivo no desenvolvimento da consciência de classe.

As burocracias sindicais continuam sendo um obstáculo, travando o movimento o máximo que podem. Mas eles não possuem mais a mesma autoridade que lhes permitia controlar os trabalhadores como no passado. Eles se apoiam na força do aparato burocrático e do estado burguês, mas essa autoridade nunca foi tão baixa como agora.

A burguesia tentará usar medidas coercitivas e repressivas para limitar a luta de classes, introduzindo novas leis antigreve e limitações ao direito de manifestação em todos os lugares, mas a história nos ensina que, uma vez que as massas comecem a se mover, nenhuma lei as deterá. Esses métodos podem atrasar o processo, mas só o tornarão ainda mais explosivo no futuro.

Em um primeiro momento, as mobilizações dos trabalhadores terão um caráter predominantemente econômico. Mas, no processo, eles se radicalizarão devido à profundidade da crise e às enormes frustrações que se acumularam ao longo dos anos, acabando por assumir um caráter político. Um novo “maio de 68”, ou “outono quente”, estará na ordem do dia em um país após o outro.

Em um contexto como este, longe de conter o movimento, a inflação terá o efeito de estimulá-lo, como já vimos muitas vezes na história. A pressão generalizada sobre os salários para a grande maioria dos trabalhadores, combinada com a escandalosa transferência de riqueza do trabalho assalariado para o capital, significa que o crescimento da inflação levará os trabalhadores a defender seu poder de compra.

É nesse terreno muito mais fértil que as ideias dos marxistas florescerão. Os sindicatos entrarão em crise e a velha liderança falida será desafiada. Claro, devemos manter o senso das proporções. Ainda não estamos em posição de desafiar a hegemonia dos reformistas no movimento trabalhista. Mas, aplicando habilmente a tática da frente única, podemos progredir nos sindicatos. É preciso lutar contra o oportunismo, mas também contra os desvios sectários e anarco-sindicalistas (como no sindicato italiano Cobas), que nesta crise ficaram expostos como falidos.

O sectarismo e o aventureirismo desempenham o papel mais negativo nos sindicatos, conduzindo a vanguarda da classe para um beco sem saída, separando-os do movimento de massa. Combinando firmeza de princípios com táticas flexíveis, podemos demonstrar a superioridade do marxismo, elevar gradualmente nosso perfil e começar a emergir como uma força séria dentro do movimento operário.

Quanto mais tempo isso durar, mais violenta e elementar será a explosão quando ela finalmente vier. E virá, assim como a noite segue o dia. Como Marx escreveu a Engels:

“No geral, a crise está se aprofundando como a boa e velha toupeira que é.”

Os sindicatos

Trotsky certa vez escreveu que a teoria é a superioridade da previsão sobre o espanto. Os reformistas e sectários sempre ficam surpresos quando os trabalhadores começam a se mover após um período de aparente inércia.

No início de 1968, os mandelistas e outros sectários descartaram inteiramente a classe trabalhadora francesa. Eles disseram que os trabalhadores estavam aburguesados e americanizados. Um desses senhores escreveu que não havia possibilidade de greve geral em nenhum país europeu naquela época. Poucas semanas depois, os trabalhadores franceses lançaram a maior greve geral revolucionária da história.

Eles foram completamente enganados pela ausência de grandes movimentos da classe no período anterior. Também hoje, muitos dos ativistas do movimento sindical e trabalhista estão desorientados por conta dos eventos anteriores. Eles perderam a confiança na capacidade de luta dos trabalhadores e tornaram-se pessimistas, céticos e cínicos. Eles próprios se tornaram um obstáculo, bloqueando o caminho da luta. Seria fatal para nós sermos guiados por suas visões preconceituosas e derrotistas.

Como já explicamos, mesmo uma recuperação econômica relativamente fraca será o sinal para uma explosão da luta de classes, que abalará os sindicatos em suas fundações. Os líderes sindicais reformistas já estão completamente perdidos. Eles refletem o passado, os dias em que tinham uma vida fácil e boas relações com os patrões, que podiam fazer concessões aos trabalhadores sem devorar seus lucros.

Agora as coisas são muito diferentes. Os patrões procuram colocar todo o peso da crise nas costas dos trabalhadores, que se encontram numa situação insuportável, onde até a sua vida e a da sua família estão em perigo.

A profundidade da crise exclui qualquer tipo de concessão significativa e duradoura. Os trabalhadores terão que lutar por todas as demandas – não para obter novas concessões, mas para preservar os ganhos obtidos no passado.

Mas mesmo onde tiverem êxito, seus ganhos serão anulados pela inflação, que deve ressurgir como consequência da vasta quantidade de capital fictício que foi colocado em circulação. O que os patrões dão com a mão direita, eles receberão de volta com a esquerda.

Isso significa que os sindicatos estarão sob pressão dos trabalhadores que vão exigir ações em defesa de seus direitos, condições de trabalho e padrões de vida. Os líderes sindicais, ou se dobrarão a essa pressão, ou serão removidos e substituídos por outros que estão preparados para lutar. Os sindicatos serão transformados no decorrer da luta.

Quando bloqueados nos sindicatos oficiais e sem a perspectiva imediata de mudança de liderança, em algumas condições os trabalhadores também desenvolverão suas próprias iniciativas de base. O surgimento de tais organizações de trabalhadores em luta, como as Mareas na Espanha, Santé en Lutte, o Coletivo de 1.000 Motoristas de Ônibus na Bélgica e os Coletivos em Hospitais na França etc., é o resultado da raiva acumulada dos trabalhadores, da necessidade de ação coletiva imediata e da passividade dos dirigentes sindicais oficiais.

A dialética nos diz que as coisas podem se transformar em seus opostos e devemos estar preparados para isso. Mesmo os sindicatos mais reacionários e aparentemente inertes serão arrastados para esta luta. Esse processo já começou em países como a Grã-Bretanha. Um por um, os antigos líderes de direita estão morrendo, se aposentando ou sendo substituídos.

Uma nova e mais jovem geração de lutadores da classe está começando a desafiar a liderança. O cenário está armado para a transformação dos sindicatos em organizações de luta. E nós, marxistas, devemos estar na primeira linha dessa luta da qual, em última análise, depende o sucesso da revolução socialista.

A tarefa diante de nós

O ano de 2021 será como nenhum outro, a classe operária entrou em uma escola muito dura, haverá muitas derrotas e retrocessos, mas, dessa escola, os trabalhadores tirarão as lições necessárias.

O acúmulo de tensão ao longo de muitos anos pode levar a mudanças repentinas, da noite para o dia, colocando questões muito sérias diante de nós. E devemos estar preparados! No próximo período, novas camadas serão atraídas para a luta. Vimos isso na França com os gilets jaunes. Agora vemos isso na Índia com o movimento dos camponeses. Nos Estados Unidos, vimos as manifestações massivas após o assassinato de George Floyd, que incluiu cerca de 26 milhões de pessoas em 2 mil cidades e vilas em todos os 50 estados, Washington, DC e Porto Rico, fazendo Trump fugir para o seu bunker.

O principal problema é a liderança. O humor raivoso das massas existe, mas não encontra expressão nas organizações oficiais. Os dirigentes sindicais estão tentando conter o movimento. Mas, com ou sem eles, o movimento, de alguma forma, encontrará uma maneira de se expressar.

As massas só podem aprender com uma coisa: a experiência. Como Lenin costumava dizer: “A vida ensina”. Os trabalhadores estão aprendendo com a experiência da crise. Mas é um processo de aprendizagem lento e doloroso. Leva tempo para que as massas tirem as mesmas conclusões que tiramos, por razões teóricas, há anos.

Esse processo de aprendizagem seria muito mais rápido se existisse uma organização revolucionária de massas com um número suficiente de quadros presentes, e com autoridade suficiente para ser ouvida pelos trabalhadores. Tal partido existe potencialmente nas fileiras da CMI. Mas, no momento, ele existe apenas como um embrião. E como o velho Hegel escreveu: “Quando desejamos ver um carvalho com seu tronco poderoso, seus galhos espalhados e sua massa de folhagem, não ficamos satisfeitos se, em vez disso, vemos uma bolota.”

Fizemos grandes avanços e esperamos fazer muitos mais. Mas devemos admitir honestamente que, atualmente, não temos os números necessários. Não temos as raízes necessárias na classe trabalhadora e em suas organizações para fazer uma diferença substancial.

No entanto, com ideias corretas e slogans oportunos, podemos alcançar os trabalhadores e jovens mais avançados e, por meio deles, podemos, mais tarde, alcançar um número maior. Aqui ou ali, podemos estar em posição de liderar lutas específicas. Mas, em geral, devemos almejar pequenos sucessos, uma vez que sucessos modestos e pequenas vitórias nos fornecerão os degraus para maiores sucessos no futuro.

Nossa Internacional tem demonstrado grande resiliência e ousadia, enfrentando as dificuldades e descobrindo novos métodos de trabalho. Como resultado, nos últimos 12 meses, fizemos um tremendo progresso, enquanto outros grupos passaram por crises e divisões e estão, rapidamente, caindo no merecido esquecimento.

Temos muito menos concorrentes do que no passado. As seitas estão se despedaçando e os stalinistas, que foram um sério obstáculo no passado, são uma mera sombra de si mesmos. Eles ainda se apegam a alguns cargos nos sindicatos que herdaram do passado. Mas eles sempre atuam como uma cobertura de “esquerda” para a ala direita da burocracia. Eles serão varridos junto a ela assim que os trabalhadores começarem a se mover.

A principal tendência que surgirá no próximo período são os reformistas de esquerda, que não têm uma perspectiva política clara. Muitos deles não se apresentam mais, nem mesmo em palavras, a favor da transformação socialista da sociedade e, portanto, vacilam constantemente entre as pressões da burguesia e dos reformistas de direita e a pressão da base da classe trabalhadora. Este é um fenômeno internacional.

Mas, apesar de sua falta de ideias claras (em parte por causa disso), eles, inevitavelmente, virão à tona com base na radicalização em massa. Por serem politicamente instáveis e carentes de qualquer ideologia clara, ocasionalmente, pronunciam slogans muito radicais, até mesmo “revolucionários”. Mas isso será apenas uma questão de palavras, e eles podem girar para a direita com a mesma rapidez com que giram para a esquerda. Daremos apoio crítico às esquerdas, apoiando-as sempre que lutarem contra a direita, mas criticando qualquer tendência de retrocesso, concessões e capitulação.

Uma característica comum de todos os nossos rivais políticos – incluindo os esquerdistas – é sua incapacidade de conquistar a juventude. Nosso óbvio sucesso em ganhar o melhor da juventude enche os céticos de raiva e indignação. Acima de tudo, isso os deixa perplexos. Como a CMI pode conquistar tantos jovens na situação atual, quando tudo é tão sombrio e sem esperança? Eles balançam a cabeça descrentes e continuam a gemer sobre a triste situação do mundo.

Como disse Lenin: quem tem a juventude tem o futuro. A razão do nosso sucesso não é difícil de ver. Os jovens são naturalmente revolucionários. Eles exigem uma luta séria contra o capitalismo e são impacientes com a timidez e a confusão teórica.

Nossa força está baseada em duas coisas: na teoria marxista e numa orientação firme para a juventude. Provamos que isso é uma combinação vencedora na prática. Esses sucessos fornecem confiança e otimismo para o futuro. Mas devemos sempre preservar o senso das proporções. Ainda estamos apenas no começo do começo.

Desafios muito maiores estão diante de nós e nos colocarão à prova. Não há espaço para complacência. Se nos perguntarmos se estamos prontos para aproveitar as grandes oportunidades que existem, qual é a resposta? Se formos absolutamente honestos, devemos responder negativamente. Não, não estamos prontos – ainda não, pelo menos. Mas devemos nos preparar o mais rápido possível. E isso, em última análise, significa crescimento.

Devemos começar sempre com a qualidade, ganhando uns e outros, e educando e formando quadros. Mas devemos então transformar a qualidade em quantidade: construindo uma organização maior e mais eficaz. Por sua vez, a quantidade torna-se qualidade. Com cem quadros, pode-se fazer coisas impossíveis para uma dúzia. E pensemos no que poderíamos fazer na Grã-Bretanha, no Paquistão ou na Rússia com mil quadros. É uma diferença qualitativa!

A construção dos quadros deve andar de mãos dadas com o crescimento. Não há contradição. A organização deve se desenvolver conforme a situação. E deve mudar à medida em que a situação muda, tornando-se mais profissional, mais disciplinada e mais madura.

Temos as ideias, os métodos e as perspectivas corretas. No entanto, precisamos de muito mais. Nossa tarefa agora é transformar isso em crescimento e criar um poderoso exército revolucionário de quadros, capaz de liderar os trabalhadores na luta. Já estamos dando passos impressionantes nessa direção.

No início, parecia que a pandemia criaria dificuldades intransponíveis para os marxistas. Certamente, ela naufragou todas aquelas seitas pseudomarxistas que se baseavam no ativismo irracional. Mas a CMI tem o vento em suas velas, conquistando mais de 1.000 novos membros no ano passado. E isso é apenas o começo.

Camaradas da Internacional! Estamos em uma corrida contra o relógio. Nossa tarefa pode ser declarada de forma simples: tornar consciente a vontade inconsciente (ou semiconsciente) da classe trabalhadora de mudar a sociedade.

Grandes eventos estão sendo preparados. Para podermos cumprir as imensas tarefas, precisamos de uma revolução interna, começando com uma revolução de nossa própria mentalidade. Não podemos pensar da mesma forma que no passado. Todos os traços da mentalidade de rotina dos pequenos círculos devem ser erradicados. O que se necessita é de uma abordagem profissional para a construção do partido. Não há nada mais importante em nossas vidas. E se continuarmos a perseguir as ideias, táticas e métodos corretos, certamente o conseguiremos.

Aprovado por unanimidade em julho de 2021.

Nota:

1 M2 é um cálculo da oferta monetária que inclui todos os elementos de M1, bem como “quase-dinheiro”. M1 inclui depósitos à vista e à vista, enquanto o quase-dinheiro se refere a depósitos de poupança, títulos do mercado monetário, fundos mútuos e outros depósitos a prazo. Esses ativos são menos líquidos do que M1 e não tão adequados como meios de troca, mas podem ser rapidamente convertidos em dinheiro ou depósitos à vista.

TRADUÇÃO DE FABIANO LEITE.

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