Morte e destruição na Amazônia de Bolsonaro

No último mês a Amazônia esteve no centro das atenções do governo Bolsonaro. Após uma longa queda de braço que culminou com a demissão de Ricardo Galvão da diretoria do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o candidato a Bonaparte agora troca bravatas com alguns dos países mais ricos da Europa acerca da preservação da região.

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A disputa começou quando o Inpe divulgou o resultado da taxa anual de desmatamento, indicando um aumento de 40% em relação ao período anterior. Os números crescem acima da média principalmente a partir do mês de maio e em julho houve a maior perda de vegetação em um único mês desde 2015, com taxa de desmatamento 212% maior que a de julho de 2017.

Incapaz de apresentar uma defesa plausível, Bolsonaro acusou o Inpe de divulgar dados mentirosas e disse que os “dados verdadeiros” seriam apresentados, o que nunca aconteceu. Em resposta à política do governo, Alemanha e Noruega suspenderam suas doações ao Fundo Amazônia, uma das principais fontes de financiamento do Ibama e de órgãos de meio ambiente estaduais na Amazônia Legal e outros cinco estados brasileiros.

Encurralado, Bolsonaro volta a se refugiar na retórica nacionalista e na defesa da “soberania da Amazônia”. Contraditoriamente, seu projeto para a região é de abertura à mineração e exploração de madeira e petróleo por partes de multinacionais. Além disso, o presidente parece ter esquecido de combinar o discurso com seu ministro do meio ambiente. Em debate com Ricardo Galvão no programa Painel, da GloboNews, Ricardo Salles criticou o discurso “nacionalista” do cientista e defendeu a utilização de um sistema estrangeiro para monitoramento da Amazônia, já que o do Inpe não seria “up to date”.

A verdade é que Bolsonaro não é capaz de oferecer aos povos que vivem e dependem da Amazônia nada além de morte e destruição; em outras palavras, a barbárie capitalista. Basta observar quem são os doadores de campanha de seus ministros para entender que por trás da fala apatetada do presidente há interesses empresariais muito bem articulados.

Não se deve ter ilusões sobre a capacidade de qualquer governo capitalista de proteger a região. Ainda nos governos de Lula e Dilma o conflito que coloca indígenas, ribeirinhos e camponeses contra garimpeiros, madeireiros e latifundiários juntamente com seus jagunços levou à morte dezenas de lideranças e destruiu comunidades inteiras.

A construção da hidrelétrica de Belo Monte, realizada pelo governo Dilma à força e contra todos os alertas, jogou populações inteiras na miséria e condenou à mendicância, prostituição e marginalidade povos que antes eram capazes de viver da floresta. A própria Noruega, responsável por 98% dos recursos do Fundo Amazônia, é uma das principais acionistas da mineradora Hydro Alunorte, que mantinha um duto clandestino para despejar resíduos tóxicos em nascentes do município de Barcarena, interior do Pará.

Já o agronegócio, principal responsável pelo desmatamento da Amazônia para abertura de pasto e área plantável, teve seu maior fortalecimento durante os governos Lula. Ao contrário do que o setor gosta de propagandear, a maior parte do que é produzido nos latifúndios não são alimentos, mas commodities como milho e soja que vão diretamente para o mercado internacional. Os governos petistas deram grandes concessões a esses grupos em sua busca obsessiva pelo superávit primário, que tem como única função pagar os juros e amortizações da dívida pública.

O resultado é a concentração na Amazônia de 56% dos conflitos de terra registrados no Brasil, segundo a Comissão Pastoral da Terra (CPT). A pesquisa Caderno de Conflitos do Campo, publicada pela CPT, mostra que houve 24 assassinatos, 17 tentativas de assassinato e 121 ameaças de morte ligadas ao conflito agrário na região. Os números são de 2018, mas a tendência com a política de Bolsonaro é que se tornem ainda maiores este ano.

Em apoio à política ambiental de Bolsonaro, latifundiários realizaram nos dias 10 e 11 o “Dia do Fogo”, em que as queimadas foram intensificadas principalmente no sul da Amazônia. Como resultado, no dia 19 a cidade de São Paulo foi encoberta por uma nuvem negra que fez escurecer em plena tarde. A chuva que caiu em seguida era completamente negra, pesquisadores da USP (Universidade de São Paulo) e da USCS (Universidade Municipal de São Caetano) detectaram substâncias relacionadas às queimadas.

A ciência já demonstrou que a riqueza amazônica é infinitamente maior se a floresta for mantida em pé. Mas uma exploração racional desses recursos só é possível sob uma economia controlada pelos trabalhadores e não pelas empresas que lucram muito mais rapidamente com a sua destruição. É preciso lutar contra a raiz da violência a que são submetidos os trabalhadores, camponeses e povos oprimidos da Amazônia. É preciso lutar contra o capitalismo.

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