Índia: Covid-19 e a situação dos trabalhadores migrantes

A pandemia da Covid-19 revelou as contradições da sociedade capitalista para que todos a vissem. Trouxe à tona a gritante divisão de classes na Índia. Enquanto a minoria rica desfruta de condições de conforto e privilégio, os pobres lutam por sua sobrevivência.


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O presidente indiano Narendra Modi está escondendo conscientemente a maioria invisível dos trabalhadores desamparados, incluindo os trabalhadores migrantes. Por exemplo, antes de o bloqueio começar, Modi providenciou uma grande recepção para o presidente visitante dos EUA, chamada “Namaste Trump”, em um momento em que os casos de Covid-19 já tinham começado a aumentar na Índia. Modi construiu um muro para ocultar as favelas próximas ao local do evento, favelas estas que abrigam 2.500 habitantes e 500 kacha houses (casas de barro), varrendo para baixo do tapete a feia realidade que enfrentam milhões de pessoas na Índia.

O bloqueio nacional que Modi anunciou em 24 de março, com apenas quatro horas de antecipação, afetou bilhões de pessoas. Um mês inteiro após o anúncio do bloqueio, uma onda massiva de trabalhadores migrantes ainda era vista caminhando milhares de quilômetros de volta para suas casas. Este desastre foi totalmente ignorado pelos barões da mídia que servem apenas para promover a propaganda e a agenda Hindutva [forma predominante do nacionalismo hindu na Índia] do partido no poder.

Condições dos trabalhadores migrantes

Os trabalhadores migrantes enfrentaram várias dificuldades e foram os mais afetados pelo bloqueio. Segundo um artigo da Royal Geographical Society, os trabalhadores mais maltratados são de áreas como Odisha, Jharkhand e Chhattisgarh, onde os recursos naturais já foram arruinados por estrangeiros. Além disso, os trabalhadores que recebem menos pelo trabalho mais árduo pertencem às classes mais atrasadas, principalmente das comunidades Dalit e Adivasi.

Os trabalhadores migrantes consistem em grande parte de trabalhadores diaristas, que trabalham nas indústrias de manufatura e construção. Frequentemente, são-lhes negados cuidados de saúde, nutrição, habitação e saneamento adequados. Eles são oriundos principalmente de áreas rurais, mas vivem nas cidades para trabalhar durante a maior parte do ano. Muitos não têm poupança e moram nos dormitórios das fábricas, que foram fechados devido ao bloqueio. Além disso, não há um cadastro central de trabalhadores migrantes, apesar da existência da Lei dos Trabalhadores Migrantes Interestaduais de 1979, que, supostamente, estabelece um.

Com fábricas e locais de trabalho fechados em 24 de março, milhões de trabalhadores migrantes tiveram que lidar com perda de renda, escassez de alimentos e incerteza sobre seus meios de subsistência. Uma pesquisa conduzida pela Stranded Workers Action Network (SWAN) nos diz que, no primeiro mês do bloqueio, 96% dos trabalhadores migrantes não receberam nenhuma ração do governo. 70% dos trabalhadores pesquisados ​​tinham menos de 200 Rupias (2,70 dólares americanos) para sobreviver. Milhões de trabalhadores migrantes passaram fome, não puderam pagar o aluguel e foram forçados a viajar longas distâncias de volta para suas casas e famílias, apesar do transporte público também ter sido suspenso.

Por exemplo, uma jovem chamada Jyoti foi forçada a pedalar 1.200 km em uma bicicleta com seu pai Mohan (um puxador de riquixás com um joelho quebrado) sentado atrás dela, a fim de retornar à sua aldeia natal. Muitos outros nunca voltaram para casa. 300 trabalhadores migrantes morreram na estrada devido à fome, exaustão, suicídio e brutalidade policial.

Em um caso relatado, 16 pessoas foram atropeladas por um trem após adormecerem nos trilhos, enquanto tentavam caminhar pelas linhas ferroviárias para evitar a brutalidade policial, supondo que os trens não estariam circulando durante o período de bloqueio. Eles estavam indo para Madhya Pradesh de Maharashtra a pé, sem nenhum meio de transporte. Imagens de seus rotis (pão) espalhados nos trilhos se tornaram virais nas redes sociais.

Em outro caso, uma mulher e seu filho pequeno pegaram um trem de Gujarat para a estação de Muzaffarpur, em Bihar. Ao chegar à plataforma ferroviária, a mulher desabou. Um vídeo da criança chorando e tentando acordar a mãe morta também se tornou viral.

A face da exploração

O bloqueio demonstrou claramente que os trabalhadores migrantes são a espinha dorsal da economia indiana. A imensa riqueza que eles produzem na Índia é extraída pela classe dominante parasitária. O governo está fazendo tudo o que pode para salvar o capitalismo à custa da vida e dos direitos dos trabalhadores.

Enquanto milhares de trabalhadores migrantes caminhavam pela Índia em uma tentativa desesperada de sobreviver e se reunir com suas famílias, os governos estaduais competiam entre si para parecer “amigáveis à indústria”, rasgando as leis trabalhistas. Uttar Pradesh, por exemplo, suspendeu um punhado de leis trabalhistas para os próximos três anos, permitindo que os patrões explorem os trabalhadores o quanto quiserem, sem qualquer impedimento legal. O governo central também corroeu os direitos dos trabalhadores em nível nacional. Os trabalhadores migrantes serão lançados em condições de trabalho ainda mais miseráveis ou no desemprego sob essas novas leis.

O capitalismo é uma calamidade: tem que ser destruído

A crise na Índia está piorando e levando mais milhões de pessoas à pobreza e à miséria. Tudo isso poderia ter sido evitado em uma economia planejada que colocasse a vida das pessoas antes dos lucros.

A escassez de unidades de saúde e os gastos com infraestrutura social ficaram expostos de forma implacável, junto às prioridades do governo. Em vez de nacionalizar os principais setores da produção e redistribuir a riqueza para ajudar as massas trabalhadoras a lidar com o bloqueio, o governo está proporcionando cortes de impostos aos capitalistas e destruindo as leis trabalhistas.

Apesar dos enormes resgates ao setor corporativo, a crise econômica na Índia se aprofundará e a queda drástica do PIB continuará. O capitalismo se tornou um risco. Para a humanidade sobreviver, ele deve morrer.

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