Grã-Bretanha: apagões, gargalos e atrasos – o capitalismo é o caos

Em toda a economia do Reino Unido os preços estão subindo e as empresas enfrentam escassez. É claro que a anarquia do mercado capitalista não pode suprir a sociedade com as necessidades da vida. A questão da planificação econômica nunca foi tão clara.


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Em julho deste ano, Boris Johnson e os conservadores prometeram “liberdade” aos britânicos à medida que as restrições fossem suspensas e a sociedade emergisse de sua hibernação induzida pela pandemia.

Porém, apenas dois meses depois, o país está à beira do colapso; espancado pelas marteladas da crise global do capitalismo.

As perspectivas de uma recuperação robusta para a economia mundial – e do Reino Unido – acabaram sendo tingidas de cor de rosa. Em vez de se ver uma recuperação dinâmica, a produção em toda a linha está estancando e as cadeias de suprimentos estão se rompendo, com o chamado mercado “eficiente” falhando em atender às necessidades básicas.

A imagem é clara: o capitalismo é o caos. E, como sempre, é a classe trabalhadora que está sendo obrigada a pagar por esta crise.

A crise do gás

O centro das atenções nos últimos dias tem sido a indústria de energia da Grã-Bretanha, com fornecedores menores desabando como frutas podres à medida que os preços do gás no atacado aumentam.

A crise do gás no Reino Unido resume todas as contradições que a economia mundial enfrenta, à medida que surtos de demanda, frágeis redes de abastecimento “just-in-time” e uma falta de investimento de longo prazo se combinam para criar um coquetel explosivo.

Uma década atrás, a coalizão Conservador-Liberal introduziu uma série de reformas no setor de energia da Grã-Bretanha, que anteriormente era dominado pelos “Seis Grandes”.

Isso levou a uma enxurrada de participantes no mercado, com uma nova safra de capitalistas perseguindo uma oportunidade de obter lucros expressivos. Como resultado, o número de fornecedores domésticos aumentou de 12, em 2010, para mais de 70, em 2018.

Como era previsível, essa bolha está estourando. Mais dois fornecedores – Avro Energy e Green, com 800 mil clientes entre eles – já faliram, além de outros cinco que entraram em colapso nas últimas semanas. Espera-se que dezenas de outros sigam o mesmo caminho nos próximos meses.

Os especialistas do setor preveem que poderá haver apenas 10 fornecedores até o final do ano, com outros sugerindo que o setor pode voltar à situação anterior – comandada por um punhado de monopólios lucrativos.

A tempestade perfeita

Os comentaristas culparam uma tempestade perfeita de eventos por esta calamidade: desde as temperaturas mais frias e prolongadas do inverno passado; a menos gás que chega pelos gasodutos russos; à maior demanda de outras partes do mundo; aos ventos muito tranquilos e à diminuição resultante na produção de eletricidade das turbinas do Reino Unido.

Mas a verdade é que isso é uma falha do mercado capitalista; de um sistema baseado nos lucros, não nas necessidades.

Em vez de investir para fortalecer a infraestrutura nos “bons tempos”, os patrões da energia simplesmente encheram os bolsos.

Agora, o país enfrenta a falta de armazenamento de gás (com capacidade para cobrir apenas 2% da demanda anual, em comparação com 20-30% para a maioria dos outros importadores); escassez de fornecimento de eletricidade de fontes renováveis; e um parque habitacional com déficit de calefação.

O resultado é que as pessoas comuns podem ficar com suas casas frias e contas de energia mais altas neste inverno – tudo isso em cima do aumento dos preços dos alimentos, do aumento de impostos e dos cortes no Crédito Universal.

Resgates e apagões

O secretário de negócios conservador, Kwasi Kwarteng, descreveu esses temores como “alarmistas”, prometendo no Parlamento que a prioridade do governo era “proteger os consumidores”. Isso, afirmou, seria realizado mantendo-se o teto de preço da energia, que limita o valor que os fornecedores podem cobrar das famílias.

Mas o regulador Ofgem já aumentou o chamado teto de preço em agosto em mais de 12%. Prevê-se que isso leve a um aumento médio nas contas de 139 euros em outubro.

E uma análise feita por especialistas da indústria estima que mais aumentos de mais de 550 euros por ano serão necessários para acomodar os preços mais altos do gás, com o limite de energia potencialmente subindo mais 15-17,5% em abril próximo.

Com Kwarteng também prometendo não salvar nenhum fornecedor de energia falido, é provável que o governo opte por intervir apoiando os grandes sobreviventes – subsidiando-os (com dinheiro público, é claro) para que possam assumir os clientes de seus concorrentes falidos.

Em outras palavras, enquanto os patrões conseguem resgates, o resto de nós enfrenta apagões.

Propriedade pública

A questão da planificação econômica nunca foi tão clara. A privatização provou ser um desastre – para todos, exceto para os capitalistas, é claro.

Mas você não pode planejar o que você não controla. E como o parlamentar de esquerda do Partido Trabalhista Ian Lavery afirmou corretamente no Twitter: “Você não pode controlar o que não possui. Isso é muito simples.”

É por isso que precisamos de propriedade pública, como Lavery (mas infelizmente não Keir Starmer) exige. E isso significa nacionalizar os monopólios de energia – sem compensação e sob o controle dos trabalhadores – para garantir que as famílias da classe trabalhadora nunca tenham que enfrentar a escolha entre aquecer-se e comer.

Pânico e advertências

A história da crise do gás na Grã-Bretanha não termina aí, no entanto.

Devido ao aumento dos custos do gás natural, a maior fornecedora de dióxido de carbono (CO2) do país, a CF Industries, que fornece 45% do CO2 da Grã-Bretanha, declarou recentemente que estava interrompendo suas operações no Reino Unido, com os proprietários da empresa americana dizendo que não era mais lucrativo continuar a produção.

Isso imediatamente levou ao pânico em toda a economia, devido ao papel vital que o CO2 desempenha em áreas como embalagens de alimentos, refrigerantes e matadouros. Como resultado, os patrões alertaram sobre as prateleiras dos supermercados vazias e a perspectiva de que os suprimentos de aves e suínos acabem dentro de alguns dias.

Gargalos e escassez

Essas pressões exacerbam uma situação já terrível para as empresas britânicas, com relatos generalizados de gargalos e escassez de mão de obra: de motoristas de caminhão a trabalhadores da indústria da carne.

Os criadores de porcos, por exemplo, estimam que podem levar apenas duas semanas para abater um excedente de 100 mil animais saudáveis, devido à falta de trabalhadores e de CO2. Outros empregadores, por sua vez, imploraram ao governo que lhes permitisse usar mão de obra prisional para preencher sua escassez de trabalhadores.

Além disso, os empresários alertam que esses problemas podem persistir por muitos meses, com expectativa de alta de 2,3% nos preços dos alimentos no curto prazo, e inflação maior de 4% até o final do ano.

A escassez de CO2 também pode ter um grave impacto sobre o Sistema Nacional de Saúde (NHS em sua sigla inglesa), já que o gás é usado em vários procedimentos médicos.

Isso ocorre em um momento terrível para o sistema de saúde da Grã-Bretanha, que já está sobrecarregado e com falta de pessoal, com a equipe trabalhando a todo vapor para reduzir os milhões de atrasos que se acumularam durante a pandemia. E isso antes que uma nova onda do vírus – devido à imprudência dos conservadores – empurre mais pacientes para hospitais superlotados.

Parasitas e aproveitadores

Diante dessa catástrofe geral, o governo interveio, prometendo apoio temporário à CF Industries na ordem de 20 milhões de euros para continuar a produção.

Respondendo aos apelos para que este produtor essencial – mas parasitário – seja colocado sob propriedade pública, Kwasi Kwarteng afirmou que “entre nacionalizar e não fazer nada, há muitas opções”.

No topo da lista das ditas “opções”, ao que parece, está a de chutar a lata estrada abaixo e desviar milhões em dinheiro dos contribuintes para outro conjunto de patrões inescrupulosos – tudo para evitar uma crise precipitada por seu sistema movido pelo lucro.

Pela planificação, não pelo lucro

Em toda a economia, um setor após o outro está enfrentando uma crise. As razões individuais podem variar, mas a situação geral – de caos, de gargalos e escassez – é a mesma em todos os lugares.

Reclamações de escassez de mão de obra ao lado de milhões de desempregados; uma escassez de CO2, enquanto grandes poluidores bombeiam as emissões de carbono; uma falta de bens básicos, em meio a um excesso mundial de mercadorias: esta é a loucura do capitalismo, exposta para todos verem.

É claro que o sistema capitalista – baseado na propriedade privada, na produção com fins lucrativos e na anarquia do mercado – é incapaz de sustentar uma existência semicivilizada para a vasta maioria das pessoas.

Os patrões gordos, por sua vez, vão rindo a caminho do banco, enquanto a classe trabalhadora recebe a conta de sua bagunça.

A necessidade de planejamento socialista nunca foi maior. Os recursos existem para fornecer de forma confiável a toda a sociedade todos os elementos essenciais da vida. Mas estes estão atualmente sendo desperdiçados, tudo por causa dos lucros dos capitalistas.

Dizemos: Faça os patrões pagarem por esta crise! Exproprie os bilionários! Acabe com o caos do capitalismo! Por um plano de produção democrático, racional e socialista! Pela planificação, não pelo lucro!

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