Venezuela: As expropriações de bancos, o congresso do PSUV e o renascimento do movimento operário

A situação na Venezuela, com as expropriações e crises no governo preocupa a todos. Como está esta discussão no PSUV, o Partido que Chavez impusiona com mais de 6 milhões de filiados? um artigo e uma entrevista sobre o assunto.

Recentemente, vimos muitos eventos importantes acontecendo na Venezuela, como a desvalorização do Bolívar ou as nacionalizações no setor bancário, que precisam ser analisados com cuidado. O movimento das fábricas ocupadas deu passos importantes no ano passado, mas ainda enfrenta a sabotagem dos administradores contra-revolucionários e os trabalhadores ainda estão lutando pela nacionalização sob o controle operário. A fim de defender as conquistas já obtidas, a revolução deve colocar a nacionalização dos altos comandos da economia na ordem do dia. Só isso pode destruir o capitalismo e fornecer os pré-requisitos necessários para uma economia socialista planificada.

A revolução venezuelana continua a ser essencial para a compreensão do desenvolvimento da América Latina e na verdade do mundo todo. O Presidente Chávez visitou recentemente Copenhagen, na Dinamarca, onde ele era o único - além de Evo Morales - a salientar que o capitalismo é a raiz principal por trás da crise climática global. Nas palavras de Chávez: “Se o clima fosse um banco, ele já teria sido salvo”. Os discursos de Chávez e Morales sobre a necessidade de destruir o capitalismo e construir o socialismo numa escala mundial encontrou eco entusiasmado entre milhares de trabalhadores, na juventude da Europa e também em toda América Latina, onde os discursos foram transmitidos para o continente todo pela TeleSur.

Desde o início da revolução venezuelana, os marxistas da CMI defenderam a revolução e destacaram sua importância para os revolucionários do mundo todo. Isso ocorreu, enquanto muitos dos chamados esquerdistas negavam que uma revolução estava acontecendo e categoricamente descartavam a possibilidade de uma volta para um caminho socialista. Onze anos após o início da revolução, podemos entender o grave erro de cálculo destas pessoas. Embora a revolução não tenha dado o passo decisivo em direção ao socialismo, está claro que a idéia do socialismo ganhou o ouvido das massas que estão lutando para atingir exatamente este objetivo.

Apesar de defendermos a revolução contra os ataques do imperialismo e da oligarquia nacional, nós também defendemos a idéia de que a revolução não tem sido levada à sua conclusão e que isso não pode ocorrer enquanto o estado burguês da IV República ainda existir e enquanto os altos comandos da economia ainda estiverem nas mãos da oligarquia. Como sabemos, esta continua a ser a principal contradição da revolução venezuelana até hoje.

A economia da Venezuela em recessão

Em seu discurso de ano novo no dia 30 de dezembro, o presidente Chávez teve que admitir que 2009 foi um ano difícil para o seu governo. A crise mundial do capitalismo teve um grande impacto sobre a economia venezuelana, que terminou 2009 com uma redução de 2,9% no PIB, em comparação com um crescimento de 4,8% em 2008. Os anos de 2003 até 2008 foram um período de auge com uma das maiores taxas de crescimento na América Latina. Todos os números apontam para uma queda acentuada na produção: a indústria (que representa 16% do PIB) caiu 7,2% em 2009 (i) e a produção de veículos caiu 17,39% (ii).

Segundo as estatísticas do Banco Nacional da Venezuela, as exportações do país caíram em média 5,1% ao ano nos últimos quatro anos. As exportações de bens não-tradicionais da Venezuela caíram abruptamente em 60%. A mesma fonte indicou que as receitas de exportação global de petróleo caíram 35,3%, passando de U$ 89,1 bilhões em 2008 para U$ 57,61 bilhões em 2009 (iii).

Isso obviamente criou grandes problemas para o governo. Chávez permaneceu firme na linha de não ter corte nos gastos sociais, nas reformas de bem estar social e nos projetos financiados pelas receitas do petróleo. Mas com a queda do preço do barril do petróleo no mercado mundial, o orçamento do Estado ficou ameaçado. Para manter os gastos públicos, Chávez teve que tomar novas medidas. No dia 8 de janeiro, ele anunciou uma desvalorização da moeda venezuelana em dois níveis: o cambio "normal" será de 2,60 bolívares para um dólar e o cambio do petróleo será de 4,60. Esta medida visa dar ao Estado muito mais espaço para os gastos sociais, já que os dólares obtidos com as vendas de petróleo agora podem ser trocados no valor de 4,6 bolívares, comparados a apenas 2 ou 3 no passado.

O problema é que a longo prazo esta medida não irá ajudar. Pelo contrário, irá impulsionar a inflação que tem atormentado os venezuelanos durante os últimos anos com taxas de 30,9% em 2008 e 25,1% em 2009, as mais altas da América Latina. Apenas alguns dias após a desvalorização, os preços começaram a subir em todos os tipos de produtos, o custo dos vôos duplicou, assim como o de muitos dispositivos eletrônicos, como computadores e laptops. O governo se comprometeu a lutar contra a inflação, enviando Eduardo Samán, o Ministro do Comércio, a todas as lojas que especulam e aumentam artificialmente os preços.

Isso já ocorreu em algumas lojas, as quais o governo está ameaçando com o fechamento, a suspensão da empresa ou até mesmo com sua expropriação. Em seu semanário “Alô Presidente” de domingo, dia 18 de janeiro, Chávez anunciou a expropriação da cadeia de supermercados Êxito. Ele argumentou que esta empresa tinha, sistematicamente, o hábito de especular com seus produtos e que se tratava de um “roubo ao povo”. Ele acrescentou mais ameaças gerais contra os capitalistas. “Lembre-se que eles, os empregadores, estão roubando o povo [...] É roubo e eu não quero continuar com isso. Esta situação vai acabar com a expropriação”. (iv) No mesmo programa, ele ordenou a expropriação do centro comercial Sambil, na região da Candelária, um bairro central de Caracas.

As políticas econômicas do governo ainda são muito contraditórias. Enquanto as nacionalizações das empresas de pequeno e médio porte têm continuado, os altos comandos da economia permanecem intocados. Embora a medida de desvalorização deva dar um impulso na produção nacional e nas exportações da Venezuela, os capitalistas continuam não querendo fazer grandes investimentos. A oligarquia venezuelana sempre foi totalmente parasita e sempre preferiu importar todos os bens de consumo em vez de iniciar uma produção nacional. Mas com a revolução bolivariana, eles se sentem ainda mais inseguros, porque temem as regulamentações governamentais e a ameaça de expropriação. Este dilema foi muito bem expresso em um recente editorial do diário financeiro de direita: “Reporte Diario de la Economia”:

“Chávez está enviando sinais mistos para o setor privado: ele ameaça com a expropriação as empresas que aumentarem os preços sem uma boa razão, mas ele oferece U$ 1 bilhão em crédito e subsídios como incentivos e chama os empregadores para dialogar. O enfraquecimento do Bolívar torna os produtos venezuelanos relativamente mais baratos, mas os empregadores estão em dúvida se devem investir durante uma recessão. Além disso, eles passaram por anos de intimidação do Presidente, que nacionalizou amplos setores industriais.” (v)

Os números recentes não apontam para um aumento da produção interna e das exportações. Como vimos, as exportações caíram ao longo dos últimos anos. O que é ainda pior é esta idéia de “soberania alimentar”, onde um impulso na agricultura que deveria diminuir a dependência de alimentos importados, não se materializou; a produção agrícola nacional tem caído na maioria dos produtos importantes: milho -26%, café -27%, cana de açúcar -12%, batatas -15% e laranjas -25% (vi).

O problema é que a tarefa de desenvolver a economia venezuelana não pode ser deixada para os capitalistas. Durante décadas, eles têm mostrado um total desinteresse nisto, preferindo manter uma economia com rendimentos elevados do petróleo e muito pouco na produção nacional. O problema é que o sistema capitalista permanece. Isso foi admitido até mesmo pelo presidente do Instituto Nacional de Estadística, que em uma entrevista recente para o jornal “El Universal” nos lembrou o fato de que 70% do PIB é ainda criado pelo setor privado. “A economia continua a ser capitalista”, disse ele (vii).

Enquanto o capitalismo continua em vigor, os trabalhadores e os pobres da Venezuela são assombrados pelos males da inflação, do desemprego e por cortes nos gastos sociais. Todas as tentativas de manobra dentro dos limites da economia de mercado vão acabar criando novas contradições. A manutenção das conquistas da revolução, como o “Barrio Adentro”, as “Misiones” e as “Universidades Bolivarianas”, estarão em risco se a situação econômica continuar a se agravar. Chávez se recusou a executar quaisquer cortes, mas as medidas tomadas não são de todo suficientes para garantir isso. Para realmente defender essas conquistas, a revolução deve colocar a nacionalização dos setores chave da economia e um monopólio estatal sobre o comércio exterior na ordem do dia. Só isso pode destruir o capitalismo e fornecer as condições necessárias para uma economia socialista planificada.

Crise no setor bancário e desapropriações

Outro acontecimento marcante foi a crise bancária recente que aconteceu a partir de novembro do ano passado. Quando fraudes importantes, especulação e má gestão foram reveladas em uma série de bancos, o governo interveio. Dos bancos assumidos, o Banco das Canarias, o Banpro, o Baninvest e o Banco Real foram liquidados, enquanto o Confederado, o Banco Bolivar, o Banorte e o Banco Central Universal, foram nacionalizados e fundidos com o banco estatal Banfoandes para formar um novo banco público de investimentos chamado Banco Bicentenário. Um adicional de 10 bancos foram sancionados em janeiro, com multas no total de U$ 5,34 milhões, por não respeitar as leis da Venezuela, incluindo o direito a crédito para os camponeses como um incentivo à produção agrícola.

A nacionalização e a fusão destes bancos aumentaram o controle estatal do mercado financeiro para cerca de 20-25% (viii). O interessante é que estas medidas não pressionaram apenas a burguesia financeira, mas até mesmo os maiores aliados de Chávez como Arné Chacon Escamillo (dono do Banco Real e irmão do ex-ministro da Ciência e Tecnologia Jesse Chacón), e Antonio Márquez (o ex-presidente da Comissão Nacional de Valores Mobiliários), que foram ambos presos e acusados de fraude bancária. Chávez disse que iria arrumar a bagunça no setor financeiro, “não importando quem venha a cair”. A prisão de Arné Chacón provocou a renúncia do ex-ministro da Ciência e Tecnologia Jesse Chacón, que sempre foi parte da ala direita endógena do governo. De acordo com pesquisas de opinião, as medidas adotadas pelo governo foram aprovadas por 61% da população venezuelana, e reprovadas por 39% (ix).

A nacionalização destes bancos é de fato um passo adiante, que deve ser saudado por todos os revolucionários. Os capitalistas do setor financeiro têm saqueado a economia há anos e vão agora tentar fazer com que os trabalhadores paguem a crise. Mas a nacionalização destes bancos está longe de ser o suficiente. A economia socialista planejada nunca se concretizará se não conseguirmos o controle de crédito em grande escala. Os grandes bancos devem ser todos nacionalizados, a fim de planejar investimentos e beneficiar as massas de trabalhadores, camponeses e pequenos comerciantes com crédito barato. Se isso não for feito, veremos muito mais especulação e fraude, no futuro, pelos capitalistas do setor financeiro.

Trabalhadores luta pela unidade sindical

A crise já foi sentida pela classe trabalhadora. Embora o desemprego tenha crescido relativamente pouco (de 7,4 para 8% (x)), tem havido um ataque global dos patrões contra a classe trabalhadora. Na indústria do automóvel isto foi visto, tanto em Valencia com o as demissões temporárias dos trabalhadores da General Motors e, em Barcelona, Estado de Anzoátegui, com a luta da Mitsubishi (MMC). Nesta última, primeiro, os patrões tentaram demitir 250 trabalhadores terceirizados, no mês de janeiro, o que resultou em uma ocupação de fábrica a partir de 11 de janeiro de 2009. Os patrões queriam ensinar aos trabalhadores uma lição. Mandaram os policiais estaduais para fazer um assalto à fábrica ocupada em 29 de janeiro, que resultou na morte de dois trabalhadores. Embora um acordo temporário foi alcançado no início de março, a luta entre o sindicato e os patrões continuou. Em agosto, a Mitsubishi tentou fazer um lock out, mas este foi declarado ilegal pelo ministro venezuelano do Trabalho, sendo derrotado no final de agosto. No entanto, os patrões mantiveram firmemente decididos a esmagar o sindicato e passou a demitir 11 dos seus principais líderes. Infelizmente, esta ação foi aprovada pelo Ministério do Trabalho.

A luta da Mitsubishi agiu como um aviso para os trabalhadores em toda a Venezuela e empurrou-os para lutar por uma renovação do movimento operário e, concretamente, para a reunificação da UNT que estava paralisada desde os rachas ocorridos no seu Congresso de 2006. Em meados de outubro 2009, a UNT e a Federação dos Trabalhadores da Indústria Automotriz realizaram uma reunião com mais de 200 trabalhadores onde a palavra de ordem foi a unidade. Em 04 de novembro de 2009, realizou-se um bem sucedido Congresso Regional no Estado de Anzoáteguei, com representantes de 40 sindicatos. Finalmente, no dia 05 de dezembro, uma assembléia nacional da UNT foi realizada em Caracas, com cerca de 700 trabalhadores de todo o país. Os preparativos já começaram para um congresso nacional que será realizado em abril.

Este congresso será, sem sombra de dúvida, muito importante para o futuro do movimento dos trabalhadores venezuelanos. A divisão criminal da UNT, em 2006, teve um impacto extremamente negativo sobre a luta de classes e foi um grande fator para a derrota de várias ocupações de fábricas, como a de Sanitários Maracay em 2006-2007. A pressão de baixo já forçou os líderes das diferentes correntes para se unirem e tentar unir a UNT. Mas qualquer unidade duradoura da UNT só pode ser alcançado com base em um plano de ação, relacionados com a perspectiva de colocar a classe operária como vanguarda da revolução. A questão da especulação de preços e escassez de alimentos é uma oportunidade de ouro para a UNT elaborar um plano de ocupação de fábricas de todas as indústrias que sabotarem e atuarem contra a revolução. Uma nova onda de ocupações de fábrica, lideradas pela UNT, em defesa da revolução, pode levar o governo a tomar medidas decisivas contra a burguesia. Essa política poderia mudar todo o curso da revolução.

Fábricas Ocupadas e luta pelo controle dos trabalhadores

Os Trabalhadores do Movimento das Fábricas Ocupadas ainda estão lutando pela nacionalização sob controle operário. Em 31 de agosto de 2009, uma vitória parcial foi ganha, quando o presidente Chávez, publicamente, anunciou a nacionalização do INAF, uma fábrica localizada em Maracay, Estado de Araguá, que produz peças mecânicas para a indústria ferroviária. Desde 2006, quando o dono da fábrica abandonou a mesma, os trabalhadores continuaram a produção sob controle dos trabalhadores e criaram uma comissão de fábrica para gerenciar todas as operações. Desde o início, eles exigiram a nacionalização sob controle operário. A declaração de Chávez significava que eles agora têm recebido mais matéria-prima a fim de acelerar a produção. Porém, além desta ação, nenhuma outra foi tomada e nenhum decreto foi assinado. Os trabalhadores, todos eles membros ativos do PSUV, agora estão fazendo campanha para o cumprimento da decisão de Chávez.

A vizinha fábrica Gotcha, que produz roupas, é outro exemplo da militância dos trabalhadores venezuelanos. Os trabalhadores, maioria do sexo feminino, têm lutado por vários anos por diferentes reivindicações, desde 2008, quando a fábrica foi ocupada. Eles estão continuando a produção de vestuário, e vendem aos distribuidores nacionais, mas eles estão exigindo a nacionalização como a única maneira de produzir vestuário e que podem beneficiar a população em geral: escolares, funcionários públicos, e assim por diante.

A situação nas indústrias que foram nacionalizadas recentemente é bastante crítica. É o caso, especialmente, no estado de Guayana, onde várias indústrias foram nacionalizadas em 2008-2009. Na SIDOR, os trabalhadores queixam-se das sabotagens dos gerentes contra-revolucionários que ainda estão no local, o que prejudica, enormemente, o resultado da produção. Além disso, um incêndio ocorreu em MITREX, uma das usinas da planta, o que provocou uma queda acentuada na produção. Assim, má gestão e corrupção parecem ter agravado a situação da SIDOR. Normalmente, a SIDOR produz 4,6 milhões de toneladas de ferro por ano, mas em 2009 apenas 03 milhões foram produzidas. Trabalhadores organizados na Frente Revolucionária do sindicato estão lutando para a implementação do controle dos trabalhadores como a única maneira de abrir os livros, eleger administradores e colocar a empresa em uma base sólida. Eles denunciaram que a sabotagem consciente por parte de um setor dos gerentes é destinada a reduzir a produção e, assim, “provar” que a nacionalização da empresa, em 2008, foi um erro. Experiências semelhantes estão sendo feitas pelos trabalhadores na região do Orinoco, lembrando que são mais de cinco fábricas que foram nacionalizadas pelo Chávez em maio 2009.

Assim, os trabalhadores em empresas recém-nacionalizadas aprendem, em um espaço muito curto de tempo, que a nacionalização, por si só, não resolve tudo. Sem o controle democrático pelas lideranças dos trabalhadores, elementos contra-revolucionários podem infiltrar e conspirar para sabotar a produção. Má gestão e corrupção só podem ser combatidas, eficazmente, se os trabalhadores usam sua força coletiva para impor sua vontade e assumir o próprio funcionamento das fábricas, associado a um plano socialista de desenvolvimento em toda a Venezuela.

As lutas internas no Partido Socialista Unido da Venezuela

O Primeiro Congresso Extraordinário do PSUV iniciou-se em 21 de novembro, num comício em Caracas, com Chávez dando um grande discurso à esquerda, no qual propôs a criação de uma Quinta Internacional. O congresso foi originalmente planejado para ocorrer apenas no final de dezembro, mas o presidente Chávez propôs aos delegados que fosse prolongado até o mês de abril, de tal forma que os documentos possam ser discutidos exaustivamente. Esta proposta foi aprovada pelos delegados.

Desde o início, ficou claro que este congresso seria caracterizado por uma luta entre a esquerda e a direita. Isto foi visto até mesmo no processo de eleição dos delegados, quando os militantes do PSUV de Caracas se revoltaram contra as irregularidades na comissão eleitoral, que deveria supervisionar o processo. Em uma assembléia de massas, realizada no final de outubro, os representantes dos batalhões do PSUV tinham votado para eleger esta comissão, e quando viram, havia alguns substitutos e outras pessoas que estavam se encarregando desta tarefa (xi). Protestos semelhantes contra as irregularidades aconteceram em outros lugares do país. Na campanha para as eleições de 15 de novembro, um delegado permitiu que alianças fossem formadas em uma base local e regional, contrariando decisões do partido.

No próprio Congresso, o estado de espírito revolucionário de um grande setor dos delegados foi sentido. A direção tem tentado organizar o seminário-debate sobre o Estado em nível estadual, e não em comissões mistas, onde delegados de diferentes Estados possam discutir juntos, independentemente das suas origens. Apesar disto, eles não conseguiram impedir a organização do embrião de uma esquerda entre os delegados. A prorrogação do Congresso permitiu que os delegados viajassem de volta das sessões do Congresso (que são realizadas em fins de semana) e no meio da semana, organizar plenárias para discutir as propostas com os representantes de cada setor, que por sua vez, é responsável por discutir com o seu setor.

Até agora, o Congresso discutiu temas como a situação política e econômica do país, a crise bancária, os planos de racionamento de energia e água, a criação de uma força policial nacional e da conformação da V Internacional. Na sessão do mês passado, em Dezembro, os delegados foram presenteados com uma nova proposta para um projeto de programa de Declaração de Princípios. Este ignorou todos os documentos antigos do Congresso Fundador, de 2008, onde a esquerda foi claramente capaz de deixar sua marca na Declaração de Princípios. A proposta de ignorar os documentos antigos foi rejeitada pela maioria dos delegados. A discussão sobre esses documentos agora irá ter lugar nas próximas semanas e será certamente um ponto de polêmica entre direita e esquerda.

A esquerda precisa urgentemente organizar em torno de um programa concreto de exigências claras, inclusive a expropriação dos altos comandos da economia. O potencial está lá para uma grande tendência à esquerda, que organiza dezenas e mesmo centenas de delegados no congresso, e em milhares de ativistas em suas respectivas regiões. O PSUV tem 2,5 milhões de membros que estão vinculados à participação direta das assembléias dos batalhões. A grande maioria se uniu para lutar por uma vitória revolucionária. É dever de todos os socialistas revolucionários organizar estes trabalhadores e os pobres, começando com a vanguarda, em uma tendência marxista capaz de ganhar a maioria no partido e lutar contra a extrema-direita burocrática. Sobre esta questão dependerá o futuro da revolução bolivariana.

A tática do imperialismo e da contra-revolução

Quando Chávez falou à Assembléia Geral da ONU, em Nova York, em outubro passado, ele explicou que havia duas faces de Obama: o sorriso diplomático de Obama, por um lado, e por outro lado, o Obama que aceita a legitimidade das eleições fraudulentas de Honduras e da instalação de sete bases militares na Colômbia. “Quem é você, Obama?” Obama número um ou número dois? Chávez, perguntou. Há certamente um grau de verdade nessa afirmação. Obama é e continua a ser o representante do imperialismo dos EUA e aqueles que pensaram que sua política externa seria radicalmente diferente da de Bush, deve estar muito decepcionado.

O imperialismo está empenhado em pôr fim ao processo revolucionário que está acontecendo na América Latina. A Venezuela é, incontestavelmente, a vanguarda deste processo e as políticas internacionalistas de Chávez, com seus contínuos apelos para a revolução mundial, mesmo em sua forma limitada e confusa, é um farol de luz para todos os lutadores anti-imperialistas de todo o mundo. A revolução venezuelana representa um perigo mortal para as classes dominantes em todas as Américas. Isso explica por que o imperialismo dos EUA tomou novas medidas para controlar a situação: a instalação de sete bases militares na Colômbia, o golpe de Estado em Honduras e, por último, mas não menos importante, o acordo para a criação de novas bases militares no Panamá, o que efetivamente cercou a Venezuela com a presença militar dos estadunidenses.

Os lacaios do imperialismo, ou seja, a oposição venezuelana contra-revolucionária, estão tentando tirar vantagem de tudo e de cada erro cometido pelo governo. Problemas não resolvidos, como a habitação, o crescimento da taxa de criminalidade e, recentemente, os apagões no sistema energético, deixando muitas casas sem energia elétrica por longas horas, estão sendo utilizados pela oposição para gerar apatia entre as massas que apóiam a revolução. O mesmo está acontecendo com questões como a inflação e a escassez de alimentos. O fato de que a oposição foi capaz de vencer as eleições para prefeitos e governadores em áreas pobres, como Petare, em Novembro de 2008, é um sinal de aviso claro. Se o governo não tomar medidas decisivas para resolver as necessidades das massas, a desmoralização pode se espalhar e se manifestar sob a forma de abstenção nas próximas eleições.

O próximo teste eleitoral serão as eleições parlamentares de Setembro. Se nenhuma grande mudança na situação ocorre, a oposição tem uma boa possibilidade de ganhar um número considerável de lugares na nova Assembléia Nacional. Eles, então, continuarão a usar essas Medidas Provisórias para sabotar o funcionamento do governo, mobilizar a classe média e provocar agitação, sempre que possível. Seu objetivo final é o de desestabilizar o país e criar uma situação em que pode se livrar de Chávez. Seja ela pela via parlamentar ou por meios extra-parlamentares.

A criação de comitês de ações nas fábricas, bairros pobres, escolas e universidades está na ordem do dia. Suas funções seriam a de tomar a grande tradição de dualidade de poder a partir de 2002, em um nível local, regional e nacional, com representantes eleitos, sem prejuízo do direito de revogação, e fazer planos concretos para derrotar a contra-revolução em todas as áreas da sociedade. Em muitos lugares, tais embriões de duplo poder que derivam das sucursais do PSUV e/ou dos conselhos comunais.

Para combater os sabotadores contra-revolucionários que falam das insuficiências da produção de alimentos, a UNT e os batalhões locais do PSUV devem mostrar o caminho a seguir, ocupando as instalações em causa e executá-las pelos trabalhadores e por meio do controle da população. Um elemento desta já está presente com os controles constante de INDEPABIS (comissão de controle de qualidade, liderado por Eduardo Samán), que em muitos casos, tem incentivado os trabalhadores a assumir as unidades de transformação e de expropriação das fábricas. A recente nacionalização da cadeia de supermercado Êxito tem encontrado o apoio incondicional da grande maioria dos trabalhadores. Este exemplo deve ser seguido em todos os cantos da sociedade venezuelana.

O reforço da tendência marxista dentro das fileiras do PSUV, a Juventude do PSUV e da UNT seria uma poderosa ferramenta para o avanço deste processo e derrotar a contra-revolução de uma vez por todas, destruindo seu poder econômico e completando, assim, a Revolução Socialista Venezuelana.

Caracas, 23 de janeiro de 2010

________________________________________
[i] “El Mundo”, 12 de janeiro, 2010, pag. 3
[ii] “Últimas Noticias”, 08 de janeiro, 2010, pag. 14
[iii] Venezuelanalysis.com, 31 de dezembro, 2009
[iv] “Correo de Orinoco”, 18 de janeiro, 2010, pag. 2
[v] “Diario de la economia”, 13 de janeiro 2010, pag. 11
[vi] “Últimas Noticias”, 18 de dezembro, 2009, pag. 19
[vii] “El Universal”, 09 de janeiro de 2010
[viii] Venezuelanalysis.com, 29 de dezembro de 2009
[ix] Ibid.
[x] Venezuelanalysis.com, 31 de dezembro de 2009
[xi] Aporrea.org, 24 de Outubro de 2009

Source: Esquerda Marxista