“Deixe-os comer insetos” – Os alimentos e o futuro do capitalismo

Recentemente a Organização para a Alimentação e Agricultura (FAO) divulgou um relatório que sugere uma nova ideia: convencer a população mundial a comer insetos para evitar a fome em massa. Na realidade, já é possível alimentar a todos, sem a necessidade de comer insetos. O que impede isto é o “mercado”, isto é, o capitalismo.

Malthus está de volta

Há quase dois séculos, Malthus propôs a ideia de que ajudar aos pobres era um erro: eles deveriam ser deixados a morrer de fome, uma vez que a natureza não pode acomodar todos eles. Apesar de muitos pensadores, entre eles Marx e Engels, evidenciarem a fraude desta “teoria”, foi a própria burguesia que a rejeitou na prática, visto que os patrões necessitavam de cada vez mais força de trabalho humana nos campos, campos de batalha, minas e fábricas.

Durante décadas, a propaganda foi dirigida para a promoção do crescimento populacional porque era disto que o capitalismo necessitava. As melhoras na assistência sanitária, vacinações e assim por diante ajudaram a população para satisfazer a fome do capitalismo por trabalhadores. Agora, na época da decadência senil do capitalismo em escala mundial, a situação deu um giro completo e voltou...  a Malthus! A propaganda voltou a dar relevo ao perigo da superpopulação e à necessidade de se aceitar tudo que for necessário para acomodar este desagradável fato da vida. O lado mais imoral desta ressurreição é que frequentemente provém dos autoproclamados intelectuais de esquerda. “Devemos salvar a Terra para a humanidade” é o mantra. Na verdade, esta é a austeridade vestida com as plumas da política Verde.

Aparentemente, 200 anos de evidências científicas refutando Malthus não foram suficientes. Os Malthusianos tinham declarado que o Armagedon estava chegando quando o mundo alcançou um; em seguida, dois; e logo, três bilhões de habitantes. Agora, as estatísticas das Nações Unidas sugerem que a população mundial alcançará nove bilhões de habitantes em 2050. Pondo de lado o fato de que estas estimativas têm um poder de previsão muito pobre, isto significa que a produção de alimentos terá de crescer em torno de 60% em 40 anos para satisfazer a demanda. Falando em termos quantitativos, isto é bastante plausível, uma vez que significa um crescimento anual combinado de um pouco mais de 1%.

O problema não está no número de seres humanos que vivem no planeta. O que é insustentável é o modo como o capitalismo lida com a Terra e seus recursos naturais. Não é a humanidade por si mesma que está destruindo a Terra, e sim o capitalismo, com sua constante busca de cada vez mais lucros, que está tornando a vida insustentável. Isto se desprende de fenômenos aparentemente díspares como o aquecimento global, a obesidade, a destruição das florestas ou a doença da vaca louca. Todos estes problemas nos anunciam que o tempo é curto. Quanto mais o capitalismo sobreviver, maior o perigo para o meio-ambiente e, dessa forma, mais urgente se torna a tarefa de remover este sistema.

Os dados (ver tabela abaixo [1]) mostram que a taxa de crescimento populacional na realidade está em constante declínio:

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Do ponto de vista da ciência e da tecnologia, pode-se produzir globalmente comida suficiente e até mesmo mais para cada um dos habitantes da Terra. Mas isto não está acontecendo e devemos olhar as razões de tal fato. O informe da FAO afirma: “A humanidade ainda enfrenta a crua realidade da subnutrição crônica que afeta mais de 800 milhões de pessoas: 17% da população dos países em desenvolvimento, e até uns 34% na África subsaariana e ainda mais em alguns países individuais [2].

Isto não tem nada a ver com as leis naturais. É uma questão que decorre das políticas impostas aos povos do mundo. Muitos países que têm uma enorme proporção de sua população passando fome são forçados a exportar enormes quantidades de comida para pagar suas dívidas. Por exemplo, a Gâmbia e o Sri Lanka exportam cerca de 60% de sua produção agrícola e, contudo, são importadores líquidos de cereais. Nas últimas décadas, o aumento dos lucros bancários foram obtidos literalmente à custa da vida humana.

Os países em desenvolvimento foram forçados não somente a pagar aos seus agiotas em espécie, como também a mudar suas estratégias econômicas. Em vez da autossuficiência alimentar, foram forçados a aumentar a produção de coisas como café ou flores para o mercado mundial. Naturalmente, isto se baseou na ridícula ideia de que o mercado mundial é uma área justa e livre para competir. Os resultados foram desastrosos. Onde as empresas capitalistas não podiam competir por meios econômicos, foram levantadas, à mão armada, barreiras comerciais contra os países mais pobres; onde isto não se tornou necessário, foram usadas barreiras comerciais legais para esmagar os recém-chegados. A produtividade mais elevada das empresas ocidentais e o papel de seus fiéis escudeiros (FMI, Banco Mundial e outros) condenaram os países “emergentes” à inanição.

Os métodos adotados pelas corporações multinacionais não significavam fome somente para os países mais pobres. Este também é o caso nos países desenvolvidos. Os EUA são os maiores exportadores de alimentos e podem facilmente alimentar e empanturrar sua população. No entanto, em 2012, de acordo com o USDA (United States Department of Agriculture), quase 18 milhões de famílias sofriam de insegurança alimentar e sete milhões tinham segurança alimentar muito baixa [3]. Pode alguém pretender seriamente que a agricultura EUA não poderia alimentar os cidadãos estadunidenses?

Também há o problema do desperdício. De um terço à metade de todos os alimentos são desperdiçados [4]. Isto poderia ser mais que suficiente para alimentar a todos no planeta. O desperdício não é, primordialmente, uma questão técnica, de como os alimentos são transportados etc. É uma questão de preços, é uma estratégia de mercado. É um dos aspectos do capitalismo semelhante ao de ter um exército de sem-teto enquanto milhões de casas estão vazias; para preservar os preços na agricultura, os campos são deixados sem cultivar ou os alimentos são destruídos, uma vez que necessitam disto para elevar os lucros.

Deixando de lado a questão do desperdício, o simples aumento da produtividade tem sido mais que suficiente, mesmo sob bases capitalistas, para que coincida com o aumento da população. O problema é que a forma do capitalismo alimentar a humanidade é cada vez menos compatível com o meio-ambiente. Não é um problema da superpopulação, mas dos lucros.

Somos o que comemos

Diz-me o que comes e te direi quem és (Brillat Savarin)

Como sabemos, desde os tempos da escola clássica de economia, os salários são considerados o custo de reprodução dos trabalhadores como classe. Quanto mais estes custos são reduzidos, mais os salários podem ser abaixados, aumentando, dessa forma, os lucros. Portanto, desde os primeiros dias do capitalismo, a burguesia conduziu uma guerra interminável para baratear e piorar os produtos necessitados pelos trabalhadores para viver. Mesmo que a expressão “custo baixo” não tivesse sido ainda inventada, a ideia não é nada nova. Pelo contrário, esta é a forma como os trabalhadores supostamente deviam viver. A alimentação é parte do quadro. Os trabalhadores vivendo de alimentos de alta qualidade são mais caros que os trabalhadores que comem alimentos de má qualidade. A comida se torna de pior qualidade porque, desta forma, rende mais lucro.

As consequências horríveis da busca do lucro para a humanidade são imensas. Por exemplo, o gado é criado em condições cada vez piores. Isto é ruim para eles e para nós, também. Os animais são confinados em cada vez menores espaços. Como não podem se mover, ficam mais fracos; então, são bombeados com antibióticos, hormônios etc., a fim de que cresçam mais rapidamente e para que permaneçam vivos o tempo necessário. Exatamente como para os seres humanos, sua alimentação deve ser cada vez mais barateada. Assim que, inclusive, são alimentados de farinha feita de animais mortos, incluindo gatos e cães comprados de abrigos, algo totalmente anormal para esses animais herbívoros [5]. No melhor dos casos, eles são alimentados com milho, mas porque não podem digeri-lo adequadamente produzem uma maior quantidade de metano.

Esta não é uma questão menor: a agricultura é responsável por mais da metade de todas as emissões de metano e contribui para a mudança climática que, ironicamente, aumentará ainda mais a dependência de alguns países em desenvolvimento da importação de alimentos. A situação das frutas e legumes é similar se pensarmos nos pesticidas e outros componentes que os constituem. Ademais, para poder conservar o alimento durante tempo mais longo, eles são transformados de forma que possam ser consumidos por um tempo mais longo, mas ao custo de seu sabor. A situação é de tal ordem que o conteúdo nutricional tanto das frutas quanto da carne está caindo rapidamente.

Em segundo lugar, a exploração do meio-ambiente é insustentável. Por exemplo, a maior parte dos peixes vendidos na Europa é capturada em águas não europeias porque a pescaria em excesso esgotou as populações locais de peixes. Em muitos outros mares a situação é similar. De acordo com a FAO, na virada do século, três quartos das populações de peixes oceânicos haviam sido superados, esgotados ou explorados até seu rendimento máximo sustentável. Isto ocorre porque a forma como os peixes são capturados permite mais lucros, mas destrói o ecossistema. Tudo isto está ligado ao tamanho da produção. Barcos maiores infligem maiores danos aos oceanos e assim por diante.

Em terceiro lugar, vem o problema das dimensões. A busca de economias de escala significa que agora existem concentrações de criações de gado comparáveis a uma grande cidade, com todas as consequências óbvias. Os matadouros são tão enormes que chegam a produzir fedor horrível que causa enxaquecas e outras enfermidades em todas as cidades onde estão localizados. Ademais, os derrames de dejetos suínos são comparáveis a um enorme derrame de petróleo em termos de tamanho e de danos causados. Mais sério ainda: mais criadouros de gado significa mais desflorestamento. Durante os anos 1990, o mundo perde uma área florestal de 9,4 milhões de hectares ao ano, cerca de três vezes o tamanho da Bélgica [6].

As modernas condições de produção de alimentos também são muito más para os trabalhadores. Não estamos falando dos fazendeiros dos países pobres ou dos trabalhadores imigrantes explorados nos campos do sul da Europa ou dos EUA. Dentro dos matadouros, as condições de trabalho assemelham-se ao Inferno de Dante, com centenas de trabalhadores, amontoados da mesma forma que os animais que eles matam um após outro, com suas pernas submergidas em rios de sangue. Como a velocidade do corte sobe, o mesmo acontece com os acidentes de trabalho. Quanto à qualidade do produto, devido à velocidade requerida, os animais são abatidos literalmente sobre seus próprios excrementos. E é isto o que as pessoas devem comer.

A concentração está aumentando não somente em termos de como o gado é confinado. Todos os setores econômicos sob o capitalismo enfrentam um processo progressivo de concentração. Eles começam com um grande número de pequenas empresas e terminam sendo dominados por um punhado de corporações multinacionais. Isto é verdadeiro para a agricultura, onde milhões de fazendeiros, tanto dos países pobres quanto dos desenvolvidos, têm sido forçados a migrar às cidades devido à concorrência com estes gigantes.

Por exemplo, quando Smithfield, o maior produtor de porcos dos EUA, se mudou para o leste da Europa, dentro de cinco anos o número de criadores de porcos na Romênia havia caído em 90%. As dez maiores empresas agroquímicas controlam 81% do mercado global; dez empresas controlam 37% do mercado mundial de sementes; dez empresas controlam 43% do mercado farmacêutico-veterinário e assim por diante [7].

No lado da produção, quatro empresas controlam metade do mercado de carne suína nos EUA, mais de 80% dos bifes embalados e 60% do mercado de carne suína embalada. Isto também é verdadeiro para a cadeia de distribuição, dominada por gigantes como Wal-Mart nos EUA. Toda esta conversa sobre “livre mercado” é uma farsa absurda. Os pequenos fazendeiros são forçados a vender ao preço ditado pelas grandes empresas.

Com o desenvolvimento do comércio futuro de mercadorias, mesmo os preços futuros são decididos pelas grandes empresas e bancos para realizar lucros. O completo domínio da agricultura e da economia como um todo por monopólios do agronegócio e pelos grandes bancos surgiu claramente em 2008, quando o mundo experimentou motins de famintos em 37 países pobres. No espaço de poucos meses, o preço do arroz, da soja e do trigo dobraram, com impactos dramáticos sobre os países pobres, onde a alimentação consome de 50 a 90% dos salários. Estes episódios não têm nada a ver com o crescimento da população ou da produção de alimentos. Têm tudo a ver com a maximização dos lucros pelos bancos e grandes monopólios.

Domínio capitalista significa concentração não somente da cota de mercado das empresas. A produção é cada vez mais dirigida a cultivos e animais que melhor se adaptem à exploração capitalista. As variedades regionais são destruídas no processo. Em geral, os cultivos mais frequentes representam uma parte cada vez maior do consumo. Por exemplo, o trigo foi responsável por 31% do consumo global de cereais em 1997-99. Hoje, é ainda mais elevado e é óbvio que este é um risco para a humanidade.

Por último, a concentração significa que devido às massivas campanhas de publicidade, à urbanização da humanidade, ao domínio das multinacionais do agronegócio e assim por diante, todos comemos cada vez mais igual atualmente. Isto sempre é apontado por muitos dos intelectuais “eco-amigáveis”: as classes médias da Ásia comerão cada vez mais carne e isto está destruindo todos nós! Em outros termos, sob o capitalismo, até mesmo o crescimento econômico é uma ameaça à vida humana.

O mundo do fast food [comida rápida]

Não é da benevolência do carniceiro, do cervejeiro ou do padeiro, que podemos esperar nosso jantar, mas da consideração de seu próprio interesse – Adam Smith

A piora progressiva da qualidade dos alimentos é a tendência geral da qual depende o capitalismo. Com fast food, esta tendência dá um salto qualitativo [8]. A indústria da comida rápida desempenha um papel que pode ser comparado ao do carvão britânico durante a revolução industrial: um insumo essencial, barato, usado em praticamente qualquer produto que o país necessitava. O fast food não é apenas um importante setor econômico; é uma metáfora do capitalismo atual, com seus empregos pobres e ocasionais e mercadorias de baixa qualidade. Muitas famílias estadunidenses tem experiência direta disto, não somente como consumidores, como também porque mais de um décimo dos trabalhadores estadunidenses já trabalharam em algum momento no setor. É o maior empregador privado do país e tem a reputação bem merecida de exploradora impiedosa dos trabalhadores e dos consumidores.

Ao longo dos anos, o fast food não somente conquistou as ruas, mas também a própria vida dos cidadãos estadunidenses. O acesso que a indústria teve às escolas foi particularmente prejudicial. Os alunos foram induzidos a acreditar que esta era a forma como deviam se alimentar, já que se supunha que as escolas deviam educá-los. As escolas, por sua vez, não poderiam recusar os patrocinadores devido ao colapso do financiamento público à educação. Esses patrocinadores privados ainda prepararam material didático para os estudantes; e podemos facilmente imaginar seu conteúdo. Esta situação não se limita aos EUA. Por exemplo, recentemente, Mcdonalds foi admitido em um jardim da infância em Roma [9].

A “proliferação” da comida rápida na vida se baseia no poder das economias de escala, isto é, na estandardização da alimentação. Antes do capitalismo, cada região tinha suas próprias receitas culinárias. Como em qualquer coisa, da linguagem às roupas, o capitalismo tem cada vez mais uniformizado os hábitos de alimentação. Havia milhares de diferentes queijos, em seguida centenas e logo dezenas. Agora, na cadeia da alimentação rápida, você come literalmente a mesma coisa em todos os lugares do mundo. Para conseguir isto, a indústria teve de modificar radicalmente a produção de alimentos. Não mais as habilidades da natureza e da gastronomia, mas somente a química!

As consequências foram nefastas uma vez que as condições dos trabalhadores pioraram, e a qualidade da alimentação piorou. Nem foi bom para a saúde das pessoas quando a indústria aumentou o tamanho das porções para realizar mais lucros, como se mostra detalhadamente no filme Super Size Me.

A própria mudança da forma corporal dos cidadãos estadunidenses revela como foi exitosa a indústria da comida rápida. Depois de décadas de domínio da comida barata, os trabalhadores estadunidenses estão literalmente morrendo sob o seu próprio peso corporal. De fato, os estadunidenses estão entre os povos mais obesos do planeta: dois terços deles estão acima do peso, e 20% são obesos. Esta percentagem dobrou em 30 anos [10] e a tendência é de continuidade, com seus efeitos secundários como a diabetes epidêmica. Algo assim como 300 mil cidadãos estadunidenses morrem por ano por causas ligadas à obesidade. Isto está começando a criar problemas inclusive para o Pentágono, com “uns surpreendentes 20% de todos os recrutas masculinos e 40% dos recrutas femininos se encontrarem demasiado pesados para ingressar nas fileiras militares” [11].

A obesidade é consequência das tendências básicas do capitalismo EUA das últimas décadas. Em particular, a redução real dos salários obriga ambos os pais a trabalhar mais horas, reduzindo o tempo que os adultos podem gastar na preparação de uma comida mais saudável em casa, e o corte no financiamento das escolas públicas forçou-as a eliminar alimentos de boa qualidade e a depender da comida barata. Uma contribuição ao domínio fast food também vem da pobreza: 50% de todas as crianças dos EUA receberão cupões de alimentação em algum momento de sua infância [12]. Desnecessário dizer, os cupões de alimentação não se gastam com receitas culinárias de alta qualidade.

A guerra foi conduzida pela indústria do fast food com todos os meios a sua disposição. Do lado “científico”, eles tentaram proporcionar uma razão “genética” para a obesidade epidêmica, o que é ridículo uma vez que a obesidade em tal escala é um fenômeno recente. Ademais, dietas com baixos carboidratos foram demonizadas, uma vez que eram incompatíveis com o fast food. A ironia é que costumávamos saber que tipo de alimentação era ruim para nós. Desde o início da moderna ciência médica até a década de 1960, todos os pesquisadores concordavam com o fato de que os ingredientes agora encontrados na comida rápida fazem os seres humanos engordar e adoecer 13]. Em seguida, quando a comida rápida estava começando a dominar a indústria, os cientistas foram pressionados para mudar sua posição, pelo menos publicamente, justificando o pesado uso de cereais, refrescos e tudo o que se pode encontrar em um restaurante fast food. Da mesma forma que em outros setores a desregulação foi também usada para elevar os lucros, as agências federais receberam a ordem de se pôr de lado e deixar que a indústria decida como alimentar o mundo.

No âmbito cultural, a indústria lançou espertas campanhas de propaganda ideológica promovendo a autoindulgência (“gordo é bonito”) dirigidas aos pobres, os mais afetados. Você não tem que estar em forma ou magro para ser feliz, esta era a ideia. Como os produtos fast food, ricos em gordura saturada e açúcares, têm efeito viciante similar ao das drogas, foram usados como um sedativo em massa em um momento de aumento da pobreza. Enquanto os pais têm cada vez menos tempo para seus filhos, são psicologicamente pressionados a permitir que as crianças comam o que quiserem, desde que seja comida barata. Também são martelados pela propaganda: não informar aos filhos sobre a alimentação, apenas deixá-los comer o que elas quiserem. Padrões destrutivos de consumo alimentício foram impostos sobre a população com grandes orçamentos para as campanhas publicitárias. Em comparação, o orçamento público para a promoção de alimentação saudável era ridículo. A publicidade foi particularmente prejudicial uma vez que era dirigida às crianças. Devemos também acrescentar que a pressão exercida por este setor não tem rival. Quando as crianças começaram a crescer, o tamanho de suas roupas aumentou e a indústria de entretenimento começou a se utilizar de rappers obesos. Em vez de ajudar às pessoas a ser mais saudáveis, a indústria ajustou o mundo à obesidade.

A ascensão da indústria significa um forte aumento nas tendências mencionadas acima: vimos o colapso das condições da criação do gado, das condições de trabalho nos matadouros, o aumento no desflorestamento e da obesidade. Este é o ambiente da moderna indústria alimentícia e da agricultura que a FAO deveria melhorar.

O relatório da FAO

Como mencionamos, a FAO publicou um relatório declarando que o mundo deve se preparar para comer insetos [14]. Também criou um endereço web para promover esta ideia [15]. Em 2008, já tinha patrocinado uma reunião internacional para explicar o potencial dos insetos comestíveis. A lógica parece simples: a população mundial está crescendo, as terras aráveis estão sendo rapidamente engolidas pelas cidades, os oceanos estão cada vez mais sobrecarregados pela pesca e a mudança climática está prejudicando a agricultura tradicional. Portanto, temos a seguinte paráfrase do famoso (provavelmente, falso) conselho dietético de Maria Antonieta: “que comam insetos”. O fato de que a princesa tenha realmente sugerido comer brioches mostra como as coisas pioraram com o passar do tempo.

O relatório faz-nos lembrar que existem mais de 1.900 espécies de insetos comestíveis na Terra, centenas das quais já fazem parte da dieta em muitos países. De fato, cerca de dois bilhões de pessoas comem uma ampla variedade de insetos regularmente, tanto cozidos quanto crus. Muitos deles estão cheios de proteínas, fibras, gorduras saudáveis e minerais vitais exatamente como a carne normal. “O preconceito corrente contra comer insetos não se justificava de um ponto de vista nutricional”, escrevem os autores. Ademais, a criação e colheita de insetos requerem muito menos terras do que a criação de vacas, porcos e ovelhas. Os insetos convertem o alimento em proteínas mais eficientemente que os animais o fazem, o que significa que eles necessitam de menos comida para produzir a mesma quantidade de produto comestível (na escala de um décimo). Também emitem consideravelmente menos efeito estufa do que a maioria dos animais, uma vez que são animais de sangue frio e produzem muito menos emissões. De fato, eles podem ser utilizados para reduzir o desperdício, visto que isto é o que eles comem!

Além disso, a coleta e o cultivo de insetos podem oferecer novas formas de emprego e renda, especialmente nos países tropicais em desenvolvimento, onde a maioria dos insetos comestíveis vivem. De fato, a maioria dos insetos consumíveis ocorre em climas mais quentes, uma vez que os insetos tropicais tendem a ser mais gordos, abundantes e disponíveis durante todo o ano. Este parece ser um argumento progressista: os fazendeiros pobres poderiam se livrar das garras das multinacionais fazendo aumentar a produção de insetos em vez de alimentos geneticamente modificados. A ideia é criar grandes fazendas de insetos próximas às instalações industriais onde a comida é tratada e transformada. Os insetos seriam alimentados com as sobras, transformando-as eficientemente em proteína animal [16].

O fato é que alguns insetos já estão presentes na alimentação Ocidental, como alguns queijos italianos e franceses. Existem alguns restaurantes servindo insetos na Califórnia e na França, e empresas vendendo alimentos feitos de insetos [17]. Na China, desde 1996, as autoridades aprovaram algumas dezenas de produtos alimentícios que contêm formigas. Até aí, tudo bem no que diz respeito a comer insetos.

E, no entanto, usualmente, em todos os lugares, os insetos são normalmente usados como alimento de emergência quando não há nada mais disponível, econômica ou fisicamente. Mesmo nos casos em que eles são considerados manjares, como na Tailândia, representam uma pequena fração de toda a dieta. Por exemplo, na China, onde as larvas e as crisálidas são comidas normalmente, quanto mais as pessoas enriquecem, menos comem insetos. O caso é simples: as pessoas mais pobres comem insetos com mais frequência. As pessoas parecem ser mais sábias que a FAO.

Em segundo lugar, se considerarmos o que os insetos comem agora, não poderiam sequer ser considerados alimento comestível uma vez que normalmente a legislação alimentar proíbe a ingestão de animais obtidos de resíduos e águas de redes de esgoto, mas é aqui verdadeiramente onde os insetos normalmente vivem e o que comem, de acordo com o relatório da FAO. Ademais, não existem estudos disponíveis de como o organismo dos insetos é capaz de acumular compostos químicos, tais como inseticidas ou qualquer coisa que eles encontrem para se alimentar.

Finalmente, quando a FAO aconselha a humanidade a comer insetos, está de fato declarando que estamos nos tornando mais pobres e que devemos estar prontos para comer de acordo com o que estamos nos tornando. A proposta revela que as instituições dedicadas a lutar contra a fome mundial, que existem há mais de sessenta anos, fracassaram miseravelmente. De fato, em 2006, a FAO admitiu que o objetivo de reduzir à metade o número de pessoas que sofrem a fome em 2015 era praticamente inalcançável, e isto antes da crise irromper. Existem mais pessoas sofrendo fome agora que em 1990, não devido ao crescimento da população, mas por causa das políticas econômicas ditadas aos países pobres. Em outras palavras, a proposta mostra que em vez de encontrar caminhos para melhorar as vidas dos fazendeiros pobres e para ajudar o mundo a afrontar os problemas da produção de alimentos, a FAO está dizendo que todos estamos caminhando para uma situação em que vamos ter que obter algo comestível nas fendas das paredes!

Há uma hipocrisia repugnante por trás desta ideia: vejam essas pessoas que vivem de insetos e larvas, elas são pobres mas felizes, não contaminadas pela modernização. Isto é uma imitação péssima de Rousseau para justificar a decadência senil do capitalismo. Não necessitamos de desenvolvimento social e econômico para ajudar essas populações a elevar seus níveis de vida; devemos nos ajustar aos seus. Esta é a FAO de hoje.

Precisamos disto? Temos alternativas?

O argumento mais decisivo contra a opção de comer formigas é que simplesmente não precisamos fazer isto. Em primeiro lugar, a demanda e a oferta de alimentos estão crescendo no mesmo ritmo. O rendimento dos cultivos convencionais ainda está subindo a mais de 1%, mais do que a população, mesmo agora, quando uma enorme proporção da agricultura ainda se baseia em métodos atrasados. Apenas dando aos fazendeiros pobres métodos mais avançados seria suficiente elevar a produtividade durante décadas. Além disso, sabemos que cerca de 50% da alimentação é desperdiçada no caminho, ironicamente a alimentação desses mesmos insetos que estão querendo nos fazer comer!

Outro aspecto que sozinho poderia elevar as colheitas para alimentar bilhões de novos seres humanos é a irrigação. Terras irrigadas produzem muitos mais alimentos. Como a Terra é principalmente coberta por água, o problema é como economizar e reciclar a água, visto que a agricultura é responsável por cerca de 70% de toda a água potável extraída para uso humano. Isto requer a cooperação e a planificação internacional dos recursos, e não o que temos hoje com crises diplomáticas sobre os recursos hídricos. No futuro, isto irá piorar sob as condições capitalistas e poderemos ver guerras para o controle dos recursos hídricos. A civilização humana começou com infraestruturas de água há alguns milhares de anos e agora ela pode entrar em colapso pelas mesmas razões. Contudo, a escassez de água não é um fato da natureza, é uma questão de investimento e de quem o controla.

Como mostram todas as estatísticas, a escassez de alimentos é um mito. É a sede de lucros que produz a fome de uma grande parte da humanidade. Do ponto de vista científico, poderíamos alimentar não dez mas vinte bilhões de pessoas mesmo agora. E isto mesmo sem levar em consideração o desenvolvimento científico em curso.

Antes de nos referirmos brevemente às alternativas, é útil antecipar o que não é, em absoluto, uma alternativa. Nos últimos anos, a venda de alimentos orgânicos e “zero food miles” [mercados locais, contíguos à oferta e que não implicam no transporte para mercados longínquos – Nota do Tradutor] dispararam visto que a oferta é direta entre consumidores e fazendeiros locais. Estes alimentos são melhores e mais caros; dessa forma, dificilmente disponíveis para os trabalhadores simples e correntes em um período de desemprego em massa e de baixos salários. Do ponto de vista da sociedade, eles não podem desafiar e não desafiam a dominação das grandes empresas sobre a agricultura.

É só uma questão de diferenciação de produtos. Da mesma forma que os fabricantes de automóveis vendem carros de luxo ou utilitários para uso comum, os supermercados vendem alimentos orgânicos ou não. Muitas empresas de alimentos orgânicos já foram engolidas pelos grandes conglomerados, ironicamente permitindo que os alimentos orgânicos sejam mais facilmente disponíveis nas prateleiras. Ademais, exatamente como as empresas cooperativas em outras setores, quanto mais uma empresa cresce dentro de um ambiente capitalista, mais semelhante se torna às demais. Quando um produtor de alimentos orgânicos é igual em tamanho aos grandes jogadores de seu setor, não pode ser muito diferente, digamos, em termos de “ética empresarial”. Quanto aos “alimentos milhas zero”, a divisão internacional do trabalho é de tal ordem que é simplesmente impossível livrar uma nação do mercado mundial. A questão está em que classe domina a economia em escala mundial. Portanto, ainda que apreciemos os esforços para se superar o domínio das grandes empresas sobre os alimentos, a pequena agricultura não é a solução, da mesma forma que os cavalos não são uma alternativa às multinacionais da indústria do automóvel.

No lado científico, há abundância de pesquisas promissoras, algumas que podem parecer à primeira vista ficção científica, mas que já são vendáveis. A NASA está experimentando com comida impressa para alimentar as tripulações das missões ao espaço profundo. Os cientistas também estão tentando construir leveduras sintéticas e carne sintética já foi criada [18]. O aspecto mais importante desta tecnologia é que poderia evitar o massacre de animais com todas as horríveis consequência acima assinaladas. Uma tecnologia que já se encontra disponível é, naturalmente, a alimentação GM [geneticamente modificada].

Alimentos geneticamente modificados

Os alimentos GMFs são a inovação mais controversa na agricultura. As grandes multinacionais e organizações internacionais, como a FAO, estão naturalmente fortemente a seu favor, enquanto a esquerda e os ativistas verdes são contra. Aqui, a questão não é somente científica. Como Marxistas, nós sabemos que a ciência não se desenvolve no vácuo. É essencial saber quem decide para onde empurrar a ciência e porque o faz assim, e os alimentos geneticamente modificados são, por enquanto, o mais puro produto do domínio capitalista sobre a agricultura. O uso de GM não é “neutro” enquanto estiver nas mãos do “agronegócio”. De fato, não podemos confiar em Monsanto nem na FDA (Food and Drug Administration), que se supõe que controla a Monsanto. Ainda que as grandes empresas e seus reguladores estivessem cientes dos problemas que envolvem estes produtos, eles simplesmente os esconderiam, como as multinacionais o fizeram durante tanto tempo com o tabaco, o asbesto e com centenas de outros produtos.

Precisamente no setor agrícola tivemos muitos casos em que a verdade foi escondida durante décadas. Consideremos a BSE (encefalopatia espongiforme bovina conhecida como doença da vaca louca, em suas siglas em inglês) da criação de gado. O primeiro caso foi descoberto em 1984, mas isto não deteve que as vacas fossem alimentadas com rações animais até recentemente. O mesmo foi verdade para a dioxina das galinhas contaminadas, da água contaminada e assim por diante. Cada vez que um desses escândalos irrompe, é apresentado como um caso excepcional e logo desaparece das manchetes dos jornais [19]. Os ativistas contra os alimentos geneticamente modificados estão absolutamente corretos neste ponto.

Em segundo lugar, os alimentos geneticamente modificados escravizam os fazendeiros às multinacionais uma vez que eles devem ser comprados ano após ano. É por esta razão que estas empresas estão tão ávidas para “ajudar” os fazendeiros pobres começando com sementes a preços baixos, exatamente como um traficante fornece gratuitamente as drogas na frente de uma escola, na primeira vez. Os fazendeiros, agora, estão completamente escravizados às grandes corporações. Mesmo a FAO, que é totalmente a favor dos GMFs, declarou que estes “produtos são, em grande parte, feitos sob medida para as necessidades dos agricultores em grande escala e para processamento industrial no mundo desenvolvido, com o resultado de que os fazendeiros carentes de recursos nos países em desenvolvimento não vão se beneficiar”. A FAO também enfatiza o fato de que a concentração do mercado e o poder monopólico da indústria das sementes reduzem a escolha e o controle dos fazendeiros, que vão pagar sempre preços mais altos pelas sementes: “Uma empresa sozinha controla mais de 80% do mercado do algodão geneticamente modificado e 33% da soja GM” [20]. Ninguém pode se utilizar destas sementes se não pagar por elas, porque foram patenteadas!

A forma como as autoridades internacionais e nacionais concederam patentes sobre alimentos e até mesmo sobre genes foi uma monstruosa perversão das coisas. A partir do infame caso de Diamond vs Chakrabarty [21], as autoridades dos EUA decidiram que mesmo um organismo vivo pode ser de propriedade privada, portanto as grandes corporações do agronegócio têm patenteado freneticamente as sementes. As consequências foram desastrosas. A biodiversidade entrou em colapso, uma vez que qualquer corporação tem interesse direto em vender suas próprias sementes. E, se considerarmos que existe o elevado risco de que os genes modificados possam se espalhar às populações selvagens, a biodiversidade pode ser reduzida ainda mais. Esta é uma questão de interesse: a diversidade, uma característica essencial da natureza, é incompatível com o capitalismo. De modo geral, uma vez que as GMFs não são estudadas sob o controle dos trabalhadores de toda a economia, são parte do problema e não da solução.

Por outro lado, seria muito ingênuo acreditar que os países que lutam contra os GMFs o façam porque são de alguma forma amigos do meio-ambiente. Aqui, estamos tratando na realidade de uma guerra comercial. As tecnologia GMFs são principalmente de propriedade dos EUA. Seu uso é muito limitado geograficamente. Apenas quatro países respondem por 99% da área global das culturas GMFs. Os EUA sozinhos têm 69% da produção GM mundial. É por esta razão que os EUA são contra os alimentos GM: as empresas europeias não podem competir tanto em termos de patentes quanto em termos de terras disponíveis. Os capitalistas europeus não estão menos inclinados a vender a saúde de sua população por um lucro. A questão é que não podem ganhar esta batalha particular. Então, mudam as regras do jogo. A doença da vaca louca é exatamente um exemplo de suas verdadeiras atitudes. A agricultura europeia é menos concentrada e mais qualitativamente orientada. Ver por exemplo a proporção de terras tratadas com os métodos orgânicos [22]:

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Não podemos confiar nas grandes empresas estadunidenses, mas também não podemos confiar em seus concorrentes menores europeus. O problema não é se os GMFs são seguros; a questão é que a humanidade não pode estar segura enquanto as corporações do agronegócio decidem como nos alimentar para maximizar seus lucros.

Controle operário para uma alimentação saudável

Para mudar a forma como o alimento é produzido e distribuído devemos mudar a forma como a sociedade é organizada como um todo. Congratulamo-nos com os movimentos dos camponeses e dos trabalhadores, nos países avançados e em desenvolvimento, para contrabalançar o domínio do agronegócio. Contudo, a mera resistência não é suficiente. Tampouco acreditamos que cada avanço tecnológico seja em si mesmo um complô contra a humanidade, como também somos conscientes do fato de que a exploração e a miséria vão de mãos dadas com os métodos agrícolas tradicionais. O capitalismo está acabando com a vida humana e com o nosso meio-ambiente. As meia-soluções, como a alimentação orgânica, não são suficientes.

A ciência pode contribuir para alimentar a humanidade. A questão, contudo, é quem domina a economia e a pesquisa científica. A existência de empresas multinacionais na indústria da alimentação preparou objetivamente o caminho para a gestão racional e harmoniosa dos recursos do planeta em escala global. A tecnologia que já temos, ou a que estamos descobrindo, abre possibilidades sem fim. É claro que seria perfeitamente possível resolver o problema da fome no mundo, proporcionando a todos comida suficiente e mudando a dieta da população, agora condenada a muitas doenças.

Contudo, enquanto a tecnologia e a ciência se encontrarem nas mãos de corporações multinacionais de propriedade privada, serão usadas para aumentar os lucros, independentemente da saúde e das vidas de bilhões de pessoas. Elas não se preocupam com a gente, e não estão preocupadas com os efeitos de todos os produtos químicos e da engenharia genética que entraram na cadeia alimentar.

Sem o controle dos trabalhadores, a tecnologia por si mesma não resolverá o problema. Devemos nacionalizar não apenas as empresas agroquímicas, como também a rede de distribuição, os supermercados e assim por diante. A motivação do lucro deve ser substituída pelo bem-estar dos trabalhadores quando se tratar da alimentação, da mesma forma que em todos os aspectos das necessidades econômicas básicas. A propriedade pública e a planificação democrática é a única solução para alimentar os bilhões de seres humanos na Terra de uma forma ecologicamente sustentável.

Já em 1986, o Banco Mundial em um de seus estudos políticos (fevereiro 1986) declarou o seguinte:

“O mundo tem comida suficiente. O crescimento da produção global de alimentos foi mais rápida que o crescimento sem precedente da população dos últimos quarenta anos... contudo, muitos países pobres e centenas de milhões de pessoas pobres não compartilham desta abundância. Eles sofrem da falta de segurança alimentar, causada principalmente pela ausência de poder de compra”.

Isso é o que o capitalismo tem para você e ele não mudou muito desde então. Sugerir que comamos insetos é uma forma de dizer que a humanidade deve tolerar o domínio capitalista para sempre. Não necessitamos comer insetos para evitar a inanição. Necessitamos liquidar o capitalismo para evitar viver como insetos. 


[1] FAO, World agriculture: towards 2015/2030. Summary Report, 2002, p. 9. (http://www.fao.org/fileadmin/user_upload/esag/docs/y3557e.pdf).

[2] Cit., p. iv.

[3] http://www.ers.usda.gov/publications/err-economic-research-report/err155.aspx#.UiYIFD_8KSo.

[4] http://en.wikipedia.org/wiki/Food_waste.

[5] http://www.ucsusa.org/food_and_agriculture/our-failing-food-system/industrial-agriculture/they-eat-what-the-reality-of.html.

[6] www.fao.org/english/newsroom/news/2002/7833-en.html.

[7] http://www.marxismo.net/scienza/dalla-mucca-pazza-agli-ogm.

[8] For an introduction see E. Schlosser Fast Food Nation, 2001, and G. Critser,Fat Land, 2003.

[9] http://www.informarexresistere.fr/2013/09/18/una-scuola-per-bambini-non-per-clienti-o-consumatori-mc-donalds-non-ci-deve-entrare/

[10] http://en.wikipedia.org/wiki/Obesity_in_the_United_States.

[11] http://www.military.com/military-fitness/weight-loss/troops-too-fat-to-fight.

[12] http://www.news.cornell.edu/stories/2009/11/half-us-children-will-use-food-stamps-study-shows.

[13] See, for instance, G. Taubes, Why we get fat, 2011.

[14] “Edible insects: Future prospects for food and feed security” (http://www.fao.org/docrep/018/i3253e/i3253e.pdf).

[15] See http://www.fao.org/forestry/edibleinsects/en/ and alsohttp://www.insectsarefood.com/resources.html.

[16] http://www.fao.org/newsroom/it/news/2008/1000791/.

[17] There is also a French website with insect food recipe (http://www.comby.org/insect/recettfr.htm).

[18] See, for instance,http://www.theguardian.com/science/2013/aug/05/synthetic-meat-burger-stem-cells.

[19] http://www.marxist.com/food-industry-capitalism160200.htm.

[20] FAO, cit., p. 51.

[21] http://en.wikipedia.org/wiki/Diamond_v._Chakrabarty.

[22] FAO, cit., p. 55.

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