Fracassa ataque terrorista contra o presidente venezuelano Maduro

Às 17h41, uma poderosa explosão foi ouvida perto da tribuna onde o presidente venezuelano Nicolás Maduro se dirigia a um desfile na Avenida Bolívar em Caracas para assinalar o 81o aniversário da Guarda Nacional Bolivariana. Maduro resultou ileso, mas sete membros da Guarda Nacional foram feridos.

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Em um discurso televisivo, o presidente venezuelano acusou ao presidente colombiano Juan Manuel Santos de estar por trás do atentado a sua vida. A oposicionista venezuelana de extrema-direita Patricia Poleo (baseada em Miami) publicou posteriormente um comunicado de Soldados de Camisetas: um grupo terrorista de direita constituído por civis e pessoal militar, que reivindicou a responsabilidade pelo ataque.

Embora ainda não sejam claros os detalhes do que aconteceu, parece que havia dois drones carregados de explosivos C4 e o alvo era a tribuna presidencial do desfile. Os drones foram identificados a partir de imagens de vídeo e parecem ser DJM600s de seis rotores profissionais de alta gama, capazes de transportar uma carga de sete libras. Um deles explodiu no ar, provavelmente abatido pelo destacamento de segurança do presidente, enquanto o outro se desviou e caiu em um prédio residencial vizinho.

Esta segunda explosão levou algumas agências internacionais de imprensa a dar crédito à ideia de que a detonação veio de um cilindro de gás em um prédio, em vez de um ataque a Maduro. Apesar de a mídia burguesa internacional continuar a defender constantemente a derrubada militar do presidente venezuelano, quando um ataque terrorista aconteceu com este exato objetivo, trataram de negar que tenha ocorrido. Mesmo agora, a maioria das manchetes tenta semear dúvidas sobre se o ataque foi real ou não. “Suposta tentativa de assassinato de Maduro” disse CNN; “Suposto ataque de drones a Maduro”, lia-se em Washington Post; enquanto El País publicava a escandalosa chamada: “Maduro usa ‘ataque’ para reforçar ataques aos oponentes políticos”.

O terrorismo da oposição reacionária

A reação do governo dos EUA foi na mesma linha. Sequer fizeram o gesto de emitir uma condenação ao ataque e se limitaram a dizer que “não houve participação do governo dos EUA”. E logo sugeriram que o ataque poderia ter sido programado pelo próprio governo venezuelano.

O problema para a mídia capitalista mundial é que admitir que uma organização terrorista realizou um ataque contra Maduro destruiria toda a base de suas histórias sobre uma oposição pacífica e democrática. Esta é a caracterização que estiveram vendendo sobre as “guarimbas” de 2014 e 2017, que consistem em distúrbios violentos e atividades terroristas por parte da oposição. De fato, é muito provável que os realizadores deste ataque estejam vinculados com os participantes daqueles acontecimentos. As autoridades venezuelanas anunciaram que seis pessoas haviam sido presas em relação ao atentado contra a vida do presidente. O grupo que reivindica a responsabilidade parece ter alguns vínculos com pessoas envolvidas no terrorismo de extrema-direita durante as guarimbas e com o (falecido) agente de polícia Oscar Pérez, que capturou um helicóptero da polícia e realizou um ataque em Caracas no ano passado.

Seguramente, mais detalhes serão conhecidos nos próximos dias. Uma coisa está clara: desde o início da Revolução Bolivariana, há 20 anos, os elementos reacionários das forças armadas tentaram constantemente derrubar o governo eleito democraticamente e esmagar o movimento revolucionário pela força das armas. A oligarquia reacionária e parasitária venezuelana nunca aceitou que já não tinha o controle direto sobre o governo. Estamos falando não só do efêmero golpe de estado de abril de 2002 (derrotado pela ação decisiva das massas), como também do pronunciamento na Praça Altamira dos oficiais militares, em dezembro desse mesmo ano; da tentativa de utilização de paramilitares colombianos para matar Hugo Chávez em 2004 e de dezenas de outros complôs menos conhecidos. Todas essas intrigas, e foram muitas, compartilham uma coisa em comum: desfrutaram do apoio e do respaldo, em maior ou menor grau, do imperialismo estadunidense e de seus lacaios na oligarquia colombiana.

Intrigas imperialistas

Este ataque ocorre depois de que informes recentes e confiáveis indicaram que o presidente estadunidense, Donald Trump, discutiu abertamente a organização de uma invasão militar do país no ano passado. Além desses informes, a agência Bloomberg informou sobre um plano de golpe militar frustrado no ano passado, uma variante do qual envolvia assassinar o presidente Maduro durante um desfile militar. Bloomberg informou que esses complôs golpistas estavam sendo discutidos com pleno conhecimento e aprovação tácita dos serviços de segurança colombianos e estadunidenses.

A forma como foi realizada esta tentativa de assassinato em particular implica que foi ação de um pequeno grupo terrorista em vez de uma conspiração elaborada pelos serviços secretos estrangeiros. No entanto, não se deve subestimar o perigo. Esses grupos terroristas claramente têm acesso a financiamento, a explosivos e têm conexões dentro do exército e das forças policiais, como ficou demonstrado no caso de Oscar Pérez. Além disso, há um setor da reacionária oposição venezuelana que não oculta o seu apoio a tais métodos, sejam eles golpes militares ou ataques terroristas contra o chefe do Estado.

Naturalmente, a maioria dessas células terroristas e de grupos de oficiais do exército intrigantes são conhecidos pelos serviços de inteligência dos EUA, e muitos deles têm vínculos próximos com a máfia de exilados cubanos em Miami, que exerce uma enorme influência sobre o Partido Republicano. Atualmente, Washington provavelmente buscará alcançar seus objetivos através de uma combinação de sanções econômicas, à espera de que eventualmente conduzam um setor do exército a organizar um golpe. No entanto, isto não significa que venha a intervir para evitar que alguém assassine Maduro e pode-se estar quase seguro de que os EUA tinham conhecimento prévio deste último ataque.

Mãos fora da Venezuela!

A revolução venezuelana enfrenta muitas dificuldades. Fomos e ainda somos extremamente críticos com as políticas do governo de Maduro, que, em nossa opinião, são desastrosas e preparam o caminho para o regresso da oligarquia ao poder. Inclusive nos últimos dias, Maduro fez uma série de anúncios em termos de política econômica que constituem mais concessões aos capitalistas. Mas sejamos absolutamente claros em um ponto: a vitória de um golpe militar significaria o final da Revolução Bolivariana, um brutal pacote de austeridade para fazer com que os trabalhadores paguem o preço completo da crise econômica, e a destruição do que resta das conquistas da revolução. Isto seria imposto através de uma repressão generalizada aos direitos democráticos, com o objetivo de destruir as organizações de trabalhadores, camponeses e pobres venezuelanos, esmagando qualquer possível resistência. Nenhum ativista revolucionário em nenhuma parte do mundo pode aprovar isso, e, por essa razão, condenamos o ataque realizado em 4 de agosto contra Maduro.

Contudo, a tentativa de assassinato de Maduro também revela uma série de pontos interessantes sobre a situação atual na Venezuela. Em primeiro lugar, entre os detidos com relação ao ataque, alguns deles estão relacionados com o ataque de agosto de 2017 ao quartel de Paramacay, em Valencia, que foi realizado por pessoal interino das forças armadas e da Guarda Nacional Bolivariana. O fato de que, 20 anos depois, ainda haja tantos oficiais reacionários no exército é um claro sinal de que o aparato estatal, embora debilitado e parcialmente arrebatado ao controle da classe dominante, continua sendo um aparato estatal burguês. Isso é algo que o presidente Hugo Chávez explicou claramente em seus últimos discursos, quando insistiu em que “o aparato do Estado burguês deve ser pulverizado”. A ideia de que, de alguma forma, o exército na Venezuela seja qualitativamente diferente do de outros países latino-americanos ou que, em seu conjunto, é leal à Revolução Bolivariana, é falsa.

Sem dúvida, o exército venezuelano caiu sob a influência da revolução. No entanto, isso não mudou fundamentalmente suas estruturas ou cadeias de comando. Como tal, o exército realmente não experimentou uma transformação qualitativa. Quanto mais para baixo, entre os soldados rasos e suboficiais, se encontrará um depósito de apoio mais profundo para a Revolução Bolivariana. Quanto mais se sobe na escala de comando, maior é o número de oficiais cuja “lealdade” foi comprada por benefícios, pela corrupção e pelos privilégios derivados de suas posições na burocracia estatal.

Em segundo lugar, segundo as fontes oficiais, alguns dos detidos foram encarcerados por sua participação em atividades terroristas durante os distúrbios da oposição em 2014 e foram libertados recentemente como parte das medidas adotadas por Maduro depois das eleições presidenciais de 20 de maio, em uma tentativa de apaziguar a oposição. Essas medidas causaram rebuliço entre os chavistas de base, visto que nenhum dos liberados havia se arrependido ou se desculpado por suas ações, que causaram a perda de vidas. Agora continuaram com suas atividades terroristas. Este é um padrão que se repete na Venezuela desde 2002. A indulgência e os apelos em favor da “reconciliação nacional” sempre são respondidos pela oposição reacionária com novos planos golpistas e mais terrorismo. Não se aprendeu nada.

Defendamos a revolução bolivariana!

A razão das contínuas intrigas da oposição se encontra em seu caráter profundamente reacionário e pelo fato de estar assustada com a Revolução Bolivariana. Os trabalhadores e os pobres tiveram a ideia de que estavam no poder, que podiam governar. Essa ideia deve ser eliminada para que a classe dominante possa se sentir firmemente segura na cadeira do poder outra vez. A única forma de o governo poder se reconciliar com a oposição é levando a cabo essa tarefa. Menos do que isso fará com que os complôs continuem.

Ademais, se a situação de colapso econômico continuar e se aprofundar (e até agora não mostra sinais de diminuir), dará lugar a protestos mais generalizados e ao colapso generalizado da infraestrutura. Isso, por si mesmo, será um fator que empurrará os setores dos oficiais do exército na direção de um golpe, visto que se dão conta de que seus próprios privilégios já não estão seguros sob o atual status quo. Um golpe poderia ser realizado, inclusive por alguns que se identificam como “bolivarianos leais”, com a desculpa de se necessitar de “uma mão forte na direção para se lidar com a economia”, passando o poder para um “governo tecnocrático” para enfrentar a crise.

Naturalmente, há uma forma de se enfrentar esta situação de uma vez por todas, ou, pelo menos, uma forma que debilitaria os golpistas e reacionários. A revolução deve ser completada com a expropriação dos capitalistas, dos banqueiros e dos latifundiários, a fim de se alcançar uma economia planificada democraticamente sob o controle dos trabalhadores. Isso deve vir acompanhado da abolição do velho Estado capitalista (que ainda permanece, embora debilitado) e por sua substituição pelo poder dos trabalhadores na forma de comitês de trabalhadores, de organizações de autodefesa dos trabalhadores e dos camponeses e da milícia bolivariana. Esses deveriam ser transformados, de força auxiliar, subordinada ao corpo principal das forças armadas, em coluna vertebral de um exército revolucionário.

O governo de Maduro demonstrou em repetidas ocasiões que sua política é precisamente o contrário dessas medidas. Por essa razão, é necessário construir uma alternativa revolucionária que esteja firmemente enraizada na ala esquerda da base chavista, baseada em um programa claro, revolucionário e socialista de abolição do capitalismo. Isso deve vir acompanhado de um apelo aos trabalhadores e aos pobres da América Latina e do mundo inteiro para que sigam o seu exemplo.