Escândalos do Vaticano: ungindo a corrupção com água benta

Houve um tempo em que as notícias de um escândalo no Vaticano chocavam o mundo. No entanto, à medida que relato após relato é revelado, e o número global de católicos diminui, a simples menção a padres, ao Vaticano e até ao próprio papa evoca imagens de corrupção, decadência e depravação. Isso resume a natureza podre das instituições religiosas que têm sido uma das colunas da sociedade de classes há tanto tempo.


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O Vaticano é um espaço de grandeza e opulência, com seu próprio banco ungido por Deus para ajudar a supervisionar sua administração. De fato, os papas Bento e João Paulo II tinham suas habitações apenas dois andares acima!

Na Bíblia, afirma-se que é mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que um homem rico entrar no reino dos céus. No entanto, há anos o Vaticano canaliza bilhões de euros entre vários bancos estrangeiros, acumulando o máximo possível para investir em lucrativas transações imobiliárias.

O escândalo mais recente

Em outubro de 2019, os escritórios da Secretaria de Estado do Vaticano foram invadidos. O objetivo da Secretaria de Estado é custodiar doações de caridade feitas à Igreja por católicos em todo o mundo. Os agentes da lei apreenderam uma série de itens que continham evidências do escândalo mais recente que atingiu a Igreja.

Na súbita batida policial, verificou-se que altas autoridades estavam usando dinheiro da igreja para investir em imóveis em Londres e em outros lugares. Em particular, apartamentos de luxo em Chelsea, no sudoeste de Londres, tiveram US$ 200 milhões em investimentos. A Igreja prega a virtude de ajudar os menos afortunados, enquanto lucra com o mercado imobiliário de Londres, altamente inflado, que está tornando a vida miserável para muitos.

Também foi revelado que o secretariado estava considerando investir em campos de petróleo em Angola. Deus criou a terra, de acordo com a Bíblia, mas o Vaticano investirá alegremente em campos de petróleo que a poluirão e matarão.

A Igreja não apenas está apostando no mercado imobiliário, também se descobriu que os investimentos especulativos foram financiados por empréstimos de instituições desacreditadas e destinando subvenções para se obter informações enganosas. Assim como os gestores de fundos de hedge mais inescrupulosos, o Vaticano está fazendo o jogo das especulações e apostas para tentar ganhar o máximo de dinheiro possível. O que se descobriu foram montes de casos de lavagem de dinheiro, peculato e fraude.

Uma história de transações financeiras desonestas

Em 2010, o Banco da Itália lançou uma investigação sobre as finanças do Vaticano e descobriu que estava transferindo, anualmente, bilhões de euros entre diferentes bancos comerciais. Desde então, a Igreja está sendo cada vez mais forçada a se abrir à investigação externa, que trouxe à tona todo tipo de negócios duvidosos.

Em 2013, foi descoberto um de seus maiores casos de corrupção. Nunzio Szigarno era o auditor da administração das propriedades da Sé Apostólica. Ele recebeu o apelido de Monsenhor Nunzio Szigarno porque ficou conhecido por carregar pessoalmente notas de 500 dólares. Eventualmente, seu estilo de vida decadente levantou muitas dúvidas. Ele e um ex-agente do serviço secreto foram presos por fraude em 2013 por suspeita de contrabando de 20 milhões de euros em avião particular para a Suíça. O caso ainda está passando por recursos e apelações.

Toda essa corrupção pode ser realizada sem problemas, graças à existência do banco do Vaticano. A criação da economia do estado do Vaticano é muito útil para aqueles que desejam explorá-la. Com pouca ou nenhuma supervisão das finanças do Vaticano, acordos de propriedade de bilhões de euros e outras transações podem ser realizadas com um mínimo de embaraços ou responsabilidade. Além dos bilhões que recebe de católicos de todo o mundo por meio de doações, o Vaticano tem um conjunto especial de regras com Roma e a União Europeia, para garantir a continuidade de suas receitas. Principalmente, isso envolve uma série de brechas fiscais, sem tarifas sobre importações ou exportações para o Estado.

Em um mundo capitalista, onde banqueiros gananciosos e corruptos podem se dar muito bem, como vimos em 2008, quando a economia entrou em colapso e os bancos foram socorridos enquanto o restante de nós foi obrigado a pagar, o Vaticano é o covil mais degenerado de delitos financeiros no planeta.

O poder fracassado da Igreja

Nas últimas décadas, houve um relativo enfraquecimento da influência da Igreja Católica, com várias crises políticas sobre se deve mover em uma direção mais “liberal” ou aderir estritamente ao seu dogma religioso. Essa turbulência política veio à tona quando, em 2013, o papa Bento XVI renunciou ao cargo, o primeiro papa a fazê-lo desde 1415.

Os aparentemente intermináveis escândalos de pedofilia e abusos que foram desenterrados, especialmente nos últimos anos, deram golpes esmagadores à autoridade do Vaticano. E, como a autoridade moral da Igreja foi corroída ao longo dos anos, o mesmo ocorreu com sua capacidade financeira aparentemente inatacável. Escândalos após escândalos diminuíram a confiança do mercado nas finanças do Vaticano e deram confiança aos seus concorrentes.

Durante muito tempo, as igrejas católicas ficaram isentas de pagar impostos sobre qualquer propriedade que tivesse uma capela. O tamanho delas não importava. Isso permitiu que o Vaticano evitasse pagar pelo menos quatro bilhões de euros em impostos sobre centenas de propriedades em Roma.

Mas agora, o Tribunal Europeu de Justiça decidiu que essa prática era ilegal e ordenou que o Vaticano pagasse 4 bilhões de euros em impostos posteriores à data. A decisão do Tribunal é ilustrativa da queda em desgraça sofrida pela Igreja. Onde antes havia amigos poderosos em todos os países, agora descobre que os sorrisos se transformaram em rosnados.

Papa Francisco: um novo capítulo?

Assim, quando o Papa Francisco foi ungido, sua ascensão deveria inaugurar um novo começo para a Igreja. Ele era um “rosto mais gentil” que faria com que o catolicismo fosse menos sobre odiar homossexuais e mulheres e mais sobre “amor”.

Para acompanhar esse novo e moderno enfoque, também haveria uma significativa reforma financeira. Mais transparência foi prometida. De fato, as notícias do escândalo mais recente levaram alguns a declarar que isso é prova de progresso. Sim, ainda há muita corrupção, mas pelo menos uma pequena parte dela está exposta!

O Papa Francisco foi questionado sobre a batida policial de outubro e suas descobertas, que ele afirmou serem a prova do sucesso de suas reformas. Mas, como qualquer bom administrador de fundos de hedge, ele acrescentou que o objetivo dos fundos do Vaticano era o mesmo de um “investimento de viúvas”, que está investindo dinheiro em uma variedade de investimentos, de modo que, se um falhar, todo o fundo não será perdido. Não obstante o fato de que todos os investimentos devem ser “morais”. O papa admitiu que os investimentos recentes “não foram limpos”.

Um novo documentário da Netflix, Os Dois Papas, tenta pintar o Papa Francisco como um reformador. No programa, que é um drama misturado com gravações reais, vemos Francisco repreender o Papa Bento por não abordar os escândalos na Igreja e por não fazer nada para combater a desigualdade. O Papa Bento XVI é apresentado como um antigo conservador. Francisco, por outro lado, é abordado como “progressista”. Ele nos diz que nada é estático por natureza, tudo muda, inclusive Deus, em sua jornada para nós.

Deixando essa propaganda pró-Francisco de lado, a verdade é que nenhum papa pode desfazer o que a Igreja Católica já fez e o papel que ela desempenha na sociedade. É um instrumento do domínio de classe e sempre será usado para defender os interesses da classe dominante. Francisco pode tentar pintar um rosto sorridente; tentar encobrir a corrupção e os abusos associados ao Vaticano, mas isso não mudará a Igreja fundamentalmente.

O verdadeiro papel da Igreja Católica

A corrupção é inerente à Igreja? Somente na medida em que é inerente ao próprio sistema capitalista. Os banqueiros violaram todos os tipos de regras antes da crise de 2008, mas acabaram sendo socorridos, enquanto as pessoas comuns recebiam a conta na forma de cortes e austeridade. Aparentemente, isso não é tecnicamente corrupção, mas todos sabemos como é na realidade.

Os políticos podem receber presentes e doações de grandes empresas e, em seguida, adotar políticas que beneficiem essas empresas no parlamento. Aparentemente, tudo isso é perfeitamente legal, mas qualquer um pode ver que isso é o mais corrupto possível.

Da mesma forma, a Igreja Católica recebe dinheiro dos pobres, doentes e idosos em troca da promessa de uma existência melhor nas nuvens depois que morrem, desde que sejam obedientes aqui na Terra. Em seguida, aposta esse dinheiro em investimentos e bolsas de valores para pagar os salários de papas, cardeais e bispos, que vivem estilos de vida luxuosos. Aparentemente, isso não é corrupção, mas qualquer pessoa pode ver a verdade.

Mesmo que Francisco limpasse o Vaticano para ser um modelo de responsabilidade financeira, o Vaticano continuaria sendo um pilar do establishment burguês, tão corrupto quanto qualquer outra parte da sociedade capitalista.

O que precisamos entender é o papel e o propósito que a Igreja serviu historicamente. Desde os dias do imperador romano Constantino, que fez do cristianismo a religião oficial do Império, a Igreja Católica sustentou a classe dominante por meio do controle e da repressão. Embora a sociedade tenha mudado muitas vezes nos últimos 2 mil anos, a aliança mutuamente benéfica entre a Igreja Católica e a classe dominante evoluiu ao lado dela.

Hoje, a Igreja é usada para influenciar um bilhão de católicos em todo o mundo. Sua suposta separação do Estado (em alguns lugares) permite que suas visões reacionárias sejam apresentadas sem explicação, justificativa ou mesmo com o mínimo de responsabilidade democrática burguesa. Uma ferramenta tão valiosa é usada pela classe dominante em troca de incentivos fiscais e subsídios estatais à Igreja.

Embora as especificidades da influência da Igreja dependam de cada país e de sua história, seu papel fundamental na defesa da sociedade de classes permanece inalterado onde quer que se encontre. Portanto, não é surpresa que, em particular, a Igreja sempre tenha sido um baluarte contra o comunismo e a disseminação de ideias revolucionárias. Em 1949, sob o papa Pio XII, o Vaticano emitiu o decreto contra o comunismo, exigindo que quaisquer ideias comunistas professadas por católicos fossem excomungadas. Até o papa “progressista” Francisco proibiu livros sobre o marxismo em seu passado.

Um pilar em ruínas do establishment

À medida que a crise do capitalismo se aprofunda, isso afeta seus defensores ideológicos. Todos os pilares que atualmente sustentam o sistema capitalista estão sendo abalados até suas fundações. Ao mesmo tempo, a Igreja poderia ser usada para estabilizar situações de agitação. Agora parece menos provável que consiga desempenhar esse papel.

O número de pessoas que frequentam igrejas na Europa está diminuindo rapidamente, especialmente entre os jovens, e as doações vindas dos católicos estão secando. Isso está ligado ao ódio que muitas pessoas sentem pela instituição, seus abusos, corrupção e privilégios.

Os recentes referendos na Irlanda sobre casamento homossexual e aborto são uma indicação de como a Igreja está perdendo o controle. Em alguns casos, os evangélicos estão perdendo tempo nos países africanos para tentar “ganhar o debate” em outros lugares. Mas nada disso reverterá a tendência, que nasce da crise do próprio capitalismo.

À medida que a luta de classes se desenvolver em todo o mundo, a Igreja será cada vez mais forçada a se expor como uma força contrarrevolucionária. A luta pelo socialismo internacional a arrastará para a lixeira da história junto com o sistema capitalista como um todo.

Os escândalos que estamos testemunhando na Igreja atualmente são apenas pequenas rachaduras, que se ampliarão na luta de classes que se aproxima para derrubar a vaidosa Igreja Católica Romana.

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