Bolívia: como a classe trabalhadora deve derrotar o golpe

A eleição geral boliviana de 20 de outubro produziu uma vitória para Evo Morales do partido governante (MAS), mas com uma maioria muito reduzida, revelando como a política de colaboração de classe de seu governo alienou setores de sua base tradicional de apoio. O fato de Morales evitar um segundo turno por uma margem diminuta foi usado pela direita para reclamar fraude e começar uma campanha de mobilizações nas ruas. Embora haja diferentes elementos envolvidos nos protestos, nos últimos dias a iniciativa passou para o campo da oligarquia capitalista da Bolívia, organizado pelos elementos mais reacionários da oligarquia capitalista da Bolívia, baseada em Santa Cruz. Os camaradas bolivianos de Lucha de Clases emitiram esta declaração sobre como defender-se da ameaça de golpe.

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Os anúncios do líder cívico de Santa Cruz representam um passo qualitativo na direção de um golpe. Luis Fernando Camacho, figura-chave da oposição, convocou a tomada “pacífica” das instituições do Estado – que, quando escrevíamos estas linhas, já havia começado em Santa Cruz – e a ampliação dos bloqueios às fronteiras do país. Mas a maior surpresa foi o anúncio de sua participação em uma marcha, na terça-feira, na cidade de La Paz, que pretende chegar à Praça Murillo para exigir a renúncia de Evo. Essa é uma clara provocação que, segundo todas as aparências, não é dirigida apenas ao MAS e ao governo.

Na segunda-feira, o Alto Comando Militar emitiu um comunicado, o primeiro desde o início da crise, em que declaram que “velarão pela manutenção da democracia” e lembram que a instituição castrense “está sujeita às leis e aos regulamentos militares, se sustentam na coesão de suas estruturas, em sua missão e organização vertical, baseados nos princípios fundamentais da disciplina, da hierarquia, da ordem e no respeito à Constituição”. As Forças Armadas defenderão a democracia dos cívicos ou a de Evo? A que fez Evo o comandante em chefe ou a que evitou sua reeleição? Toda essa linguagem deliberadamente ambígua e o apelo de Camacho ao alto escalão militar significam que as Forças Armadas estão se movendo em distintas direções e, pelo menos no Estado-Maior, eles ainda não sabem que lado vão apoiar.

Essa provocação está claramente dirigida às Forças Armadas e não podemos nos arriscar esperando pelos fatos para esclarecer se Camacho está lançando uma aventura, como assegura o presidente do Senado, Salvatierra, do MAS, ou se já é o início do golpe. Dada a situação, é claro que, se Evo for derrubado, estará nas mãos de Camacho (isto é, a ala mais conservadora e reacionária da burguesia de Santa Cruz) e dos gorilas (golpistas reacionários).

A COB (Central Sindical) convocou uma marcha para a terça-feira em La Paz. Federações Sindicais de professores, urbanos e rurais, de todo o país, além de trabalhadores de fábrica de Cochabamba, La Paz, Sucre, tornaram pública sua rejeição a essa convocação. Como apontamos, os métodos burocráticos da COB e sua submissão ao governo impedem a mobilização unida da classe trabalhadora. O COD (Sindicato dos Trabalhadores do Departamento) de Oruro, sob pressão dos operadores do MAS, deu aos professores urbanos (que fazem parte do movimento “cívico”) 24 horas para retornar ao trabalho, sob a ameaça de confrontos. Assim, a classe trabalhadora continua a se dividir.

Um quadro exato do ambiente entre os trabalhadores do país vem da assembleia da noite passada do sindicato dos mineiros de Huanuni, o maior do país. Huanuni reforçará a presença dos mineradores contra as ameaças de golpe, por decisão de sua assembleia. O debate demonstrou que os trabalhadores necessitam se confrontar. Um par de intervenções, bastante vaiadas, indicavam que a única solução para o conflito são novas eleições. Alguns chamavam à defesa de “nosso processo de mudança”, sem suscitar entusiasmo particular. Muitos, em troca, lembravam os problemas sem solução sobre salário, benefícios sociais ou organização da empresa. Outros pediam para se somar voluntariamente à decisão de viajar a La Paz para impedir um novo 21060, o decreto que significou o neoliberalismo e a privatização da mineração.

Os companheiros de base com os quais pudemos falar nos confirmaram as razões evidentes do ceticismo entre os trabalhadores. O MAS recorreu ao sindicato de Huanuni em outras ocasiões de dificuldade, mas a gestão burocrática da empresa e o manejo econômico do Estado não permite aos trabalhadores recorrer ao MAS para solucionar seus problemas com a empresa. Além disso, a aliança estratégica com o MAS corrompeu seu sindicato e os privou dessa ferramenta de defesa e combate. Para alguns mineiros, isto é difícil de se esquecer. Assim, o ambiente geral de toda a assembleia era a busca de uma posição independente como mineiros, o que a burocracia não é capaz de fornecer.

Se Evo cair e se for nomeado um governo de transição para novas eleições, isso só pode ser feito com o apoio das Forças Armadas. Nesta hipótese, Huanuni poderia ser militarizada e, em todo caso, o primeiro objetivo de um novo governo seria o de varrer de qualquer forma os sindicatos mineiros de Huanuni e Colquiri. A maioria dos trabalhadores entende isso, mas perguntam como evitar a volta ao mesmo de sempre, ou seja, como derrotar Camacho e mudar as políticas de Evo.

A esta pergunta a resposta é: os trabalhadores devemos combater o golpe com nossos métodos. Em primeiro lugar, devem ser convocadas assembleias, como a de Huanuni, nas quais sejam formados comitês de mobilização com delegados de base democraticamente eleitos entre os mais combativos, e revogáveis a qualquer momento. Além disso, devemos exigir:

  • Armamento do povo contra o golpe. É a única forma de se dissuadir as Forças Armadas para que não saiam às ruas.
  • Greve geral e ocupação de empresas, para levar o conflito à casa da burguesia golpista e convocar os operários das dezenas de fábricas em luta a aderir à convocação.

Só assim, com a formação de milícias e ampliando o nosso controle sobre a economia, poderemos derrotar o golpe e, simultaneamente, defender a posição para impedir que continuem as políticas de colaboração de classe do MAS que estão nos levando à beira do precipício.

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