Argélia: a revolução continua, movimento de greve geral em curso

O movimento revolucionário na Argélia está mantendo seu impulso enquanto o regime começa a desmoronar. Milhões de pessoas tomaram as ruas mais uma vez na sexta-feira, 22 de março, e um novo movimento de greve geral está se desenvolvendo, o que poderia derrubar todo o regime apodrecido.

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Na sexta-feira, milhões de argelinos desafiaram o mau tempo para voltar às ruas, exigindo a renúncia do presidente Abdelaziz Bouteflika. Em Argel, uma coluna de dois quilômetros de pessoas serpenteava através de uma das principais ruas da capital para se reunir no Grand Post Office no centro da cidade. A população da cidade preparou esse protesto durante dias, com as famílias preparando comidas, trazendo água e outros meios de apoio às pessoas nas ruas. Cenas similares foram vistas através do país em todas as principais cidades. De acordo com os informes oficiais da polícia, que tendem a minimizar os eventos, houve protestos em 40 das 48 províncias.

Todas as camadas da população trabalhadora, desde crianças das escolas primárias, jovens desempregados, trabalhadores, professores, servidores civis e trabalhadores industriais até donas de casa e pensionistas estão entrando em cena, trazendo com elas suas próprias queixas particulares.

Inicialmente, o movimento se concentrou em rejeitar a candidatura de Bouteflika para um quinto mandato no poder. Rejeitou a política e exigiu a “manutenção da constituição”. Isso se deveu, parcialmente, à natureza espontânea do movimento e, parcialmente, às ilusões liberais que algumas camadas da classe média, como os médicos, os advogados etc., trouxeram para o movimento. O resultado foi o de atenuar as palavras de ordem e de rebaixar o movimento de greve geral que estava se desenvolvendo nos dias 10-11 de março.

Mas, como muitas pessoas estavam dizendo depois desse movimento, esses dois dias de ação grevista foram os dois dias mais efetivos de todo o movimento, forçando Bouteflika e outros a recuar de suas posições intransigentes. Os eventos e a experiência da própria luta estão transformando a consciência rapidamente. A crescente confiança das massas em seu próprio poder, a óbvia incompetência da oposição oficial e as provocações da classe dominante estão empurrando o movimento a avançar. As palavras de ordem passaram de “não a um quinto mandato” a “todos têm que sair!”, e “todo o sistema deve ir embora!”, enquanto muitos estão pedindo uma assembleia constituinte e uma Segunda República.

O movimento é desafiador

Inicialmente, a camarilha de Bouteflika tentou confundir o movimento cancelando as eleições e prometendo organizar uma “conferência nacional” em algum momento não especificado, para redigir uma nova constituição. Promessas muito semelhantes foram feitas para neutralizar os protestos iniciais durante a Primavera Árabe em 2011, mas nunca se concretizaram. Claramente, o plano do regime era lançar poeira nos olhos do movimento e enfraquecer o seu ímpeto a fim de se preparar para se reagrupar e revidar. Mas a manobra teve exatamente o efeito oposto. O movimento se tornou mais desafiador do que antes.

Enquanto isso, à medida em que a pressão aumenta, cada vez mais membros do regime estão desertando, como ratos fugindo de um navio afundando. O chefe do exército, general Ahmed Gaed Salah, que alterna entre declarações ameaçadoras e declarações conciliadoras, disse na terça-feira que as manifestações foram “marcadas por ações de objetivos nobres e intenções puras, através das quais o povo argelino claramente expressou seus valores e princípios de trabalho sincero e dedicado a Allah e à pátria”.

Em seguida, os partidos da coalizão governante, FLN e RND, caíram ambos oficialmente do lado dos manifestantes, com o líder da FLN, Moad Bouchared, dizendo que “a FLN apoia plenamente o movimento de protesto popular”, pedindo negociações e “unidade” para garantir a estabilidade. Havia uma corrente de empresários saindo em apoio aos protestos. Na verdade, até mesmo a associação dos patrões, FCE, ofereceu seu apoio! Desde a semana passada, o novo governo, que está tentando adotar uma imagem democrática, convidou toda uma série de ativistas, ONGs, sindicalistas e organizações, muitos das quais tradicionalmente são próximas do regime, a participar nas negociações para uma transição do poder. Mas nenhuma delas aceitou, revelando as enormes pressões vindas de baixo.

A classe dominante está aterrorizada diante do movimento de massas. Se tentar suprimi-lo, se arriscará a romper as forças armadas em linhas de classe e a perder completamente o controle da situação. Ao mesmo tempo, suas promessas e concessões ilusórias também não estão funcionando. Assim, para tentar conduzir o movimento através de canais “seguros” – isto é, por um caminho onde a classe dominante retenha o poder sobre as principais alavancas do Estado e da economia – está se vestindo com as cores da revolução. Um dos muitos conselhos que trazem com eles é evitar uma greve geral e permanecer “pacíficos”. É claro que o movimento não tem nenhum interesse na violência como tal; mas o que essas damas e cavalheiros liberais estão realmente dizendo é que as massas não devem adotar táticas militantes, como uma greve geral, e abster-se de desafiar o Estado argelino. Isto é, estão pedindo ao movimento para não desafiar o poder econômico da classe dominante e seu monopólio da violência, que ela exerce através do aparato estatal.

Pressões de baixo

Apesar disso, vendo que Bouteflika não está se mexendo, um apelo por uma nova rodada de greves gerais está se espalhando desde a semana passada. De fato, independentemente de todas as tentativas das forças liberais dentro do movimento de paralisar um movimento grevista, “para defender a nação”, a pressão da classe trabalhadora também aumentou. Durante a semana passada, a ira contra a liderança da UGTA (em particular, contra o preposto de Bouteflika, Abdelmadjid Sidi Said), viu um aumento dramático. Houve vários protestos do lado de fora da sede da UGTA e a demissão de Sidi Said se tornou uma palavra de ordem habitual nas manifestações:

As pressões vindas de baixo estão radicalizando uma organização sindical após outra. Em Tizi-Ouzou, a filial local da UGTA emitiu uma convocação por uma greve geral e uma marcha para hoje, às 11 horas da manhã. As demandas da greve são: respeito à vontade popular, derrubada do sistema, uma segunda república democrática de justiça e liberdade, a saída de Sidi Said (o chefe da UGTA) e a defesa da dignidade dos trabalhadores em uma UGTA livre e democrática.

Outro apelo por uma greve geral foi emitido pelo sindicato independente dos trabalhadores municipais SNAPAP, que é conhecido como o maior do setor público. Desde esta manhã, milhares de trabalhadores estão bloqueando prédios do governo exigindo mudanças radicais. Aterrorizados com a ascensão do movimento grevista, muitos comentaristas liberais e burgueses, jornalistas e “especialistas” pediram para que não se espalhasse ao setor petrolífero. Mas o que se ouve indica que o setor do petróleo e do gás também participará na paralisação do capitalismo argelino:

O conselho sindical da UGTA da gigante estatal do petróleo e do gás, Sonatrach, no campo petrolífero de Hassi Messaoud, anunciou que agora apoia oficialmente o movimento popular.

O sistema deve cair!

Por um lado, os capitalistas temem os danos aos seus lucros se a produção for interrompida. Mas o mais importante é que eles temem que a classe trabalhadora perceba o seu próprio poder, e que, ao fazê-lo, percebam que não necessitam dos capitalistas, generais e oligarcas para governar a sociedade. Pelo contrário, como é visível a partir da enorme disciplina e ordem do movimento revolucionário, as massas estão muito melhor equipadas para governar a sociedade do que os parasitas no topo. Uma greve geral revolucionária dos principais setores da economia deixaria muito clara a irrelevância da classe dominante.

O regime de Bouteflika, junto a todos os seus parasitas no exército, à comunidade empresarial, à burocracia estatal etc., não desempenha nenhum papel progressista na sociedade argelina de hoje. Não têm o menor interesse além da satisfação imediata de sua ganância e opulência, enquanto o restante da sociedade se desfaz. O movimento revolucionário tem interesses diametralmente opostos aos interesses dessa gente. O que se necessita agora é dar passos decisivos para derrubar o regime de uma vez por todas. A convocação de uma greve geral deve se espalhar por cada fábrica e instituição pública. Os grevistas devem eleger delegados e se conectarem – juntamente com os comitês já existentes das fábricas, bairros e escolas – em escala regional e nacional para tomar o poder. Nenhuma outra força na sociedade representa os interesses das massas. Ao mesmo tempo, nenhuma outra força pode resistir ao poder das massas. Ao tomar o poder em suas próprias mãos, o povo trabalhador pode começar a reorganizar a sociedade ao longo de linhas democráticas e atender as necessidades sociais e econômicas da maioria.