O fenômeno Sanders: o que significa e para onde vai?

Apesar de amplamente prevista, a esmagadora vitória de Bernie Sanders nas primárias de New Hampshire provocou ondas de choque. Depois de perder por pouco em Iowa (e é muito provável que o resultado tenha sido manipulado), Sanders venceu Clinton por uma margem de mais de 20 pontos na última terça-feira, 9 de fevereiro. Este resultado causou desconcerto entre os comentaristas. Isto era algo que supunham que não podia acontecer.

“A teoria é gris, meu amigo, mas a árvore da vida sempre é verde” (Fausto de Goethe)

Que um socialista de 74 anos de idade pudesse ganhar tanto em Iowa quanto em New Hampshire parecia impensável em uma campanha de primárias que se supunha que dariam como ganhadora segura Hillary Clinton. Os eleitores Democratas eram certamente demasiado práticos para abraçar um candidato que impulsionava políticas como um seguro de saúde universal, público e gratuito, que atacava Wall Street, que apelava por uma revolução política e até mesmo se declarava a si mesmo como socialista democrático.

Durante meses, os meios de comunicação trataram de ignorar a candidatura de Sanders. Todas as atenções estavam voltadas para Donald Trump, enquanto era dado como certo que Hillary Clinton dominaria a corrida à candidatura presidencial do Partido Democrata. Mas as coisas não aconteceram assim. Como está se tornando evidente que Sanders está se tornando um contendor sério, todo o peso da máquina do Partido Democrata será utilizado em uma decidida tentativa de detê-lo.

Hillary Clinton tem o apoio da elite Democrata e dos funcionários do partido eleitos para os cargos de direção dos principais grupos de ativistas. Ela foi respaldada por um exército de celebridades e ricos financiadores e pelo restante da quadrilha endinheirada que constitui o Establishment Democrata burguês. Barack Obama lançou todo o seu peso em favor de Clinton, prodigalizando elogios sobre ela e menosprezando as ideias de Sanders como “irrealistas”. Segundo todas as leis, em consequência, Sanders deveria ter pouca ou nenhuma possibilidade. Mas tudo isto foi em vão. Tanto no nível nacional, quanto nas primárias iniciais dos estados, Bernie Sanders conseguiu derrotar Clinton. Como isto pôde acontecer?

Parte da explicação reside no fato de que Sanders teve êxito em mobilizar apoio de massa. Ele se apoiou em uma enorme rede popular de arrecadação de fundos. Sanders realizou algumas das maiores concentrações populares em seus comícios, superando a qualquer um dos outros candidatos – Democratas ou Republicanos. Foram realizados centenas de eventos, muitas vezes com multidões transbordantes que o ouviam pedir uma “revolução política” nos EUA. As “curtidas” em seu Facebook superam amplamente as de Hillary Clinton. A principal força impulsionadora disto foi a juventude. O mais cego dos cegos pode ver isto. Mas esta explicação por sua vez necessita ser explicada.

Não se pode explicar pelas qualidades pessoais de Sanders, embora ele certamente tenha demonstrado grande coragem e resistência em face da barragem de ataques e insultos. No entanto, ele é um homem branco de idade avançada e com um ar algo excêntrico. A principal razão há que se encontrar nas mudanças profundas que estão se produzindo na consciência da sociedade estadunidense.

Democracia para os bilionários

Nos EUA já havia um sentimento de alienação em relação aos partidos políticos. Agora, essa alienação está se transformando em ódio. É aqui onde há que se buscar a explicação para a rápida ascensão de Bernie Sanders.

Sob a superfície da sociedade americana há um fervente descontentamento, ira e acima de tudo frustração. Como as tremendas forças que se acumulam abaixo da crosta terrestre, este descontentamento está buscando uma saída. Mais cedo ou mais tarde a encontrará, e isto pode acontecer nos locais mais inesperados.

A derrubada econômica de 2008 e suas sequelas converteram o Sonho Americano em um Pesadelo Americano para milhões de pessoas. Isto afeta sobretudo aos jovens, mas há cada vez mais um questionamento do capitalismo entre amplos setores da sociedade. A vasta quantidade de dinheiro público entregue aos super-ricos dos 1%; o gritante contraste entre a riqueza obscena e a pobreza degradante; a arrogância das elites políticas; todas estas coisas criaram um incendiário sentimento de injustiça que não encontra expressão nos partidos políticos existentes. Vemos o mesmo fenômeno em todas as partes.

Nos EUA, as eleições são ganhas ou perdidas e os candidatos presidenciais são selecionados ou rejeitados, não na base de suas ideias ou qualidades pessoais superiores, mas apenas na base do tamanho de suas contas bancárias e das arcas de seus fundos de campanha. Para ser presidente da nação mais rica do mundo, tem que se ser um milionário ou contar com o respaldo de vários bilionários. A democracia se converte em uma palavra vazia. É o governo dos ricos, pelos ricos e para os ricos. Hillary Clinton começou 2016 com um fundo de campanha de 145 milhões de dólares de seus partidários dos grandes negócios.

Em contraste, Sanders levantou cerca de 3,5 milhões de dólares em doações, com uma média de 27 dólares por pessoa. Após seu êxito em New Hampshire, seu sítio web para a arrecadação de fundos ficou congestionado e caiu porque muitas pessoas estavam enviando dinheiro. Questionado em debate para explicar a diferença entre seus planos e os de Clinton para lidar com os grandes bancos, Sanders respondeu: “A primeira diferença é que não tomo dinheiro dos grandes bancos, não recebo doações pessoais de Goldman Sachs para dar conferências”.

Clinton recebeu, somente em 2015, 675 mil dólares em honorários de conferências de Goldman Sachs, e isto é somente a ponta do iceberg. Bill e Hillary Clinton receberam mais de 153 milhões de dólares a partir de palestras pagas ao longo dos últimos 15 anos, de acordo com um estudo da CNN. Isto inclui pelo menos 7,7 milhões pagos por 39 palestras a empresas de Wall Street, incluindo Goldman Sachs, UBS e Bank of America. Naturalmente, Hillary negou indignada que esta generosidade empresarial tenha exercido qualquer influência sobre suas preferências políticas, mas, como sabemos, quem paga ao flautista escolhe a música.

Hillary Clinton personifica tudo o que a maioria das pessoas não gosta na política estadunidense. Ela é a expressão consumada do Establishment. Nem um só fio de seus cabelos está fora do lugar. Um sorriso afetado está sempre estampado em seu rosto. Seus discursos são cuidadosamente roteirizados; suas aparições públicas seguem a coreografia de um balé. Em completo contraste, Sanders dá a impressão de um homem que não dá a mínima para sua aparência. E é precisamente isto o que o torna querido aos seus jovens seguidores. Como disse um jornalista: “seus cabelos despenteados, suas roupas mal ajustadas, seu sotaque pouco polido do Brooklin, sua propensão a gritar e a mover as mãos agitadamente. Sanders, ao que parece, sempre foi assim. Estas qualidades são as que o fazem parecer ‘autêntico’, e mesmo ‘sincero’”.

Vamos ignorar a insinuação de que as desconjuntadas roupas de Sanders são apenas um dispositivo para fazê-lo parecer ‘autêntico” (ou o que quer que isto possa significar) ou que sua sinceridade seja de alguma forma artificial. Não temos nenhuma razão para duvidar da sinceridade de Bernie Sanders, embora não concordemos necessariamente com todas as suas ideias. Quanto a Hillary Clinton e às outras marionetes Democratas de Wall Street, a falta de sinceridade sempre foi a segunda natureza deles. É absolutamente essencial para eles mostrar atenção aos interesses das “pessoas comuns”, enquanto, de fato, realizam as políticas em favor dos ricos e dos poderosos. E todos, naturalmente, têm uma forma impecável de se vestir, como de fato o sabem fazer todos os lacaios. Faz parte do serviço que prestam.

Trump e Sanders

Bernie Sanders se aproveitou do clima de descontentamento na sociedade americana. Há uma repulsa crescente contra o Establishment, contra os políticos de ternos elegantes aconchegados nos braços dos banqueiros, distribuindo vastas somas de dinheiro público aos ricos, enquanto impõem cortes viciosos dos gastos sociais em favor dos pobres. O povo está cansado disto e quer uma mudança. O Financial Times de 9 de fevereiro comentou:

“O que já está claro, contudo, é que a classe política da América está somente começando a perceber a profundidade do estado de ânimo antissistema que está se apoderando dos EUA. Quase oito anos depois da crise financeira, este estado de ânimo parece estar crescendo em força, e não se debilitando. O anúncio do presidente Barack Obama da semana passada de que a taxa de desemprego nos EUA está agora abaixo de 5% repercutiu escassamente na campanha eleitoral”.    

A atenção da mídia nestas primárias se centrou quase que exclusivamente sobre Donald Trump. De forma distorcida e reacionária, até ele expressa esse estado de ânimo. Ele cultiva um obtuso estilo “plebeu” de falar que contrasta com o discurso rebuscado e anódino tipo Washington dos outros candidatos, especializados em chavões vazios. Isto explica sua popularidade nas fileiras Republicanas e o seu espancamento de todos os seus rivais em New Hampshire, para consternação do Establishment do partido.

Este bilionário de boca de sapo e ainda maior saldo bancário se posiciona em relação ao Big Business da mesma forma que Marco Rubio, Ted Cruz e Jeb Bush. A diferença é que alguns deles tentam conter suas políticas reacionárias debaixo de uma fina capa de moderação, enquanto Trump se utiliza da demagogia populista e simula representar as “pessoas simples” como uma forma de entregar essas pessoas simples, de mãos e pés atados, à misericórdia do Big Business. Ele se apresenta no papel de dissidente rebelde, lutando contra o “Establishment de Washington”. A diferença entre Trump e os outros é só de estilo, não de conteúdo. Mas com um público que está cansado dos políticos de unhas cuidadosamente polidas proferindo discursos cuidadosamente polidos, as diferenças no estilo podem ser facilmente confundidas com uma diferença radical no conteúdo. Aqui, como na arte da prestidigitação, a rapidez da mão ilude o olho.

Como Trump, Bernie Sanders fala de uma forma muito diferente da forma como o faz a elite política. Mas, ao contrário de Trump, ele defende políticas que se fazem notar entre os trabalhadores americanos sem privilégios e mal pagos. Ele se enfurece contra a injustiça econômica e social e arremete contra o Establishment. Os estudantes estão sufocados para pagar dívidas impagáveis e os pais têm de trabalhar em dois ou três empregos de baixa remuneração para chegar ao fim do mês. A ideia de que a economia está “sendo manipulada” em favor da elite rica tocou no nervo sensível de milhões de pessoas.

Muitos eleitores Republicanos ficaram impressionados com Sanders. Escrevendo no Financial Times, Gideon Rachman assinala que tanto Trump quanto Sanders estão dizendo coisas que seriam impensáveis há não muito tempo. “Contudo, o fato de que ambos estão dispostos a romper tabus retóricos fortaleceu suas respectivas pretensões de serem intrusos autênticos. Parece que era isto o que os eleitores estão buscando” (ênfase nossa).

A juventude

Não se supunha que os jovens nos EUA se interessassem pela política. Isto não é surpreendente. O que havia para tornar a política interessante? A política era uma chateação: um picadeiro de circo sem sentido, em que os Democratas trocavam de lugar com os Republicanos com monótona regularidade sem que ninguém percebesse a menor diferença. Mas agora tudo isto mudou. A política americana de repente se tornou interessante.

A principal força que está dando impulso à mudança é a juventude. Um observador britânico descreveu o apoio a Sanders entre os jovens como “impressionante”. O movimento, pelo menos inicialmente, não foi tanto o resultado de um esforço organizado da campanha de Sanders, mas muito mais uma resposta visceral ao próprio candidato. Uma geração que foi a mais bombardeada com slogans de marketing e publicidade enganosa vê agora em Sanders algo diferente e estranhamente atraente. Nas entrevistas, quase todos os jovens apoiadores da candidatura presidencial do senador de Vermont oferecem alguma versão da mesma resposta quando são questionados por que gostam dele: Eis aqui um homem que parece sincero.

Exércitos de jovens estão transformando o que parecia ser uma causa perdida em uma campanha muito efetiva. Um voluntário disse: “Coisas que você nunca esperaria de uma campanha tradicional. É alucinante de ser ver”. A maioria dos eleitores jovens (e muitos dos mais velhos) tem uma profunda desconfiança dos políticos. A hostilidade em relação à Senhora Clinton entre os eleitores jovens é impressionante. Sofrendo das dificuldades econômicas e da carga dos empréstimos da faculdade, podem ver que ela é demasiado amistosa com os grandes bancos e empresas dos EUA. Mas Sanders é visto como algo diferente.

“Parece que ele está em um momento de sua vida em que realmente diz o que está pensando”, disse Olivia Saurer, de 18 anos de idade, uma estudante de primeiro ano que foi a sua cidade natal, Ames, Iowa, para participar do cáucus por Bernie Sanders. “Com Hillary”, disse ela, “algumas vezes você tem a sensação de que todas as suas frases são feitas por outros”. Esta observação é muito perceptiva. Essas frases não são dela. São escritas por outros. Mas não são somente os discursos dela que não são dela. Seu coração, sua alma, mente e consciência são de propriedade de outra pessoa, e esta pessoa se chama Wall Street.

Apoio crescente ao Socialismo

O crescente apoio a Bernie Sanders assinala uma mudança dramática no panorama político dos EUA, e, portanto, do mundo. É ainda mais destacável por ser em um país onde as ideias socialistas foram suprimidas e demonizadas. Como a colunista de Washington Post, Catherine Rampell, admitiu a contragosto na sexta-feira, 29 de janeiro, a atual geração de jovens, à qual ela pertence, “ama Sanders não apesar de seu socialismo, mas por causa dele... Muitos de nós também entraram no mercado de trabalho assim que o capitalismo desenfreado apareceu para explodir a economia mundial. Talvez por esta razão, a geração do milênio [os nascidos nas décadas de 1980 e 1990 – NDT] pareça preferir na realidade o socialismo ao capitalismo”.

“Na minha coluna de hoje, mencionei que uma das razões de a geração do milênio preferir Sanders a Hillary Clinton é que esta geração não está apenas disposta a olhar para o socialismo de Sanders – ela realmente gosta de seu socialismo. É uma característica, e não um erro”.

Uma pesquisa de YouGov perguntou às pessoas se elas tinham uma opinião favorável ou desfavorável do socialismo e do capitalismo, e os resultados foram desagregados por vários grupos demográficos:

52% expressaram uma opinião favorável do capitalismo, comparados aos 29% pelo socialismo. Mas isto não conta toda a estória. Os Republicanos, os de famílias que ganham mais de 100 mil dólares e as pessoas acima de 65 anos de idade estavam mais fortemente a favor do capitalismo na comparação com o socialismo. No entanto, os Democratas avaliaram o socialismo e o capitalismo de forma igualmente positiva (ambos em 42% de favorabilidade). E os abaixo de 30 anos de idade avaliaram o socialismo mais favoravelmente que o capitalismo (43% e 32%, respectivamente).

Embora “socialista” fosse a única categoria para a qual a maioria dos entrevistados dizia que era reticente em votar, o fato mais surpreendente é que 47% disseram que votariam por um socialista.

Os jovens demonstraram ser tanto ou mais abertos que os mais velhos em todas as categorias testadas por Gallup, mas o maior gap [lacuna – NDT] entre jovens e velhos era sobre candidatos “socialistas”. Aqui, também, a diferença está em linha com a idade dos entrevistados: enquanto 34% dos entrevistados com 65 anos de idade ou mais disseram que estariam dispostos a votar por um socialista, o número entre os entrevistados com menos de 30 anos de idade era quase o dobro – 69%.

Isto indica uma importante mudança na consciência que é marcante na juventude, mas que não está limitada a ela. Apesar da colossal barragem de propaganda anti-socialista a que foi submetido o povo americano durante décadas e décadas, o fato de mais de um terço das pessoas mais velhas estar desejando votar em um socialista é, por si mesmo, bastante notável. E devemos ter em mente que estes números são do mês de junho passado, antes da campanha de Sanders ganhar impulso. Não pode haver nenhuma dúvida de que o apoio ao socialismo aumentou a partir de então. O resultado de Iowa já era uma indicação disto, e foi confirmado pelo resultado em New Hampshire.

O Establishment está alarmado

Durante todo o tempo que se possa recordar, o capitalismo estadunidense esteve baseado em dois suportes sólidos: os Democratas e os Republicanos. Agora esse edifício aparentemente sólido está mostrando rachaduras em seus alicerces e os burgueses estão ficando alarmados. Bloomberg View publicou em 5 de fevereiro um artigo com o título: Bernie Sanders, Ameaça Pública. Ele diz o seguinte:

“O senador Bernie Sanders é um ser humano decente e um político apaixonado. Também é uma grave ameaça à moderação e ao empirismo racional. A robustez da campanha de Sanders à presidência é, em consequência, igualmente uma ameaça aos EUA”.

Mas as coisas não estão melhores com o outro partido do Big Business:

“O Partido Republicano se debilitou, como fonte de políticas e como partido governante, pelas exigências ideológicas cada vez mais rigorosas que a periferia do partido, poderosa e inflexível, impõe ao seu centro pequeno e enfraquecido. Este sucumbiu tão completamente ao estilo paranoico de fazer política, que o principal candidato presidencial Republicano, da chamada ala do Establishment, sugere rotineiramente que o presidente Obama é o nefasto agente da desgraça da nação. Delirar, falar grosso, se tornou tão comum à direita que raramente se notam outros méritos”.

O maior medo dos estrategistas do capital dos EUA é que a crise do capitalismo vai levar a uma acentuada polarização à esquerda e à direita, isto é, a uma polarização de classes. É isto o que eles querem dizer quando se referem a um “centro pequeno e enfraquecido”. Acima de todos, temem a Bernie Sanders, não tanto pelo homem em si (eles têm muitas formas de destruir ou de anular políticos individuais), mas pelas forças que ele desencadeou.

Sanders, diz o artigo, tem “atributos indesejáveis”. Quais são? Ele é “quase que exclusivamente animado pela desigualdade econômica e pela injustiça”. Que coisa horrorosa! Um candidato presidencial que se opõe à desigualdade e à injustiça! O artigo continua:

“A economia dos EUA, um imenso monstro de 18 trilhões de dólares se alongando e se contraindo em todas as direções ao mesmo tempo sem que isso seja possível de compreender, é ‘manipulada’, diz Sanders. Esta afirmação também deve muito ao estilo paranoico. Quem manipulou este gigantossauro de bens e serviços díspares? Talvez ‘Wall Street’. Ou, talvez, as ‘corporações’”.

A indignação de Bloomberg View não conhece limites. Como pode alguém em seu são juízo acreditar que os grandes bancos e empresas manipularam a economia em seu próprio interesse? A isto, respondemos: Como pode alguém em seu são juízo acreditar em outra coisa? Mas o medo real da América Corporativa se expressa no seguinte:

“Em política, todas as coisas demasiado fantasmagóricas para usar um nome apropriado são demasiado fugazes para serem contidas pelo governo ou pelas leis. Sanders admite isto. Ele postula que sua eleição à Casa Branca, onde iria comandar as gigantescas alavancas do poder executivo, seria insuficiente para desarmar as coisas. Uma maioria de votos eleitorais pode ser suficiente para um ‘moderado’, como Hillary Clinton; Sanders, contudo, exige uma ‘revolução’” (ênfase nossa).

Pode-se dizer que o apelo de Sanders por uma revolução política não seja claro. Talvez sim, mas seu significado é muito claro para os estrategistas do Capital. Se Sanders fosse eleito presidente, enfrentaria um Congresso hostil – não menos entre os Democratas, a maioria dos quais o odeia e teme. Eles, primeiro, tentariam comprá-lo, recrutá-lo para o seu lado, uma tática que eles desenvolveram com refinada arte durante gerações. Mas, e se isto não tiver êxito? O problema é colocado aqui com o cinismo mais surpreendente:

“Nenhum desses problemas é um obstáculo para Sanders no senado, onde ele é um entre cem. Mas Sanders não está mais feliz lá. Está tentando construir um movimento para dominar o Partido Democrata e ganhar a Casa Branca. Os Democratas não podem se permitir outro resultado”.

Ao levantar constantemente a ideia de revolução, Sanders tocou no nervo sensível de muitas pessoas que sentem que o sistema atual está podre e corrompido até a medula. Isto plantou sementes nas mentes das pessoas, sementes estas que crescerão e adquirirão uma expressão de massas na medida em que a crise do capitalismo aprofundar. As consequências são incalculáveis. Gideon Rachman sublinha os riscos para a classe dominante – e não somente dos EUA:

“Se o anseio da América por líderes anti-Establishment a partir das periferias políticas continuar, as implicações serão profundas – para os EUA e para o mundo. O sistema, dominado pelos Democratas e Republicanos, sempre rejeitou os extremos políticos. Isto significa que, por trás dos dramas cotidianos, a nação tem se beneficiado de uma profunda estabilidade política, que contribuiu grandemente para sua fortaleza econômica e poder global. Se a imunidade da América ao extremismo está terminando, todo o mundo sentirá as consequências”.

“Sexismo”

Esperava-se que as mulheres pudessem ajudar Hillary Clinton a obter a nomeação Democrata, mas as mulheres jovens foram atraídas à causa de Bernie Sanders. Isto causou indignação e ressentimentos entre feministas como Gloria Steinem. Ela é uma seguidora devota de Hillary Clinton. Junto a outras feministas mais velhas, ela esteve realizando uma campanha contra Sanders por alegado sexismo. Aqui, no entanto, a senhora Steinem encontrou um problema espinhoso: um grande número de mulheres jovens esta fazendo ativamente a campanha de Bernie Sanders.

Uma suja campanha de difamação foi lançada pelo acampamento de Clinton para sugerir que o entusiástico exército de mídia social dos socialistas independentes (o “Bernie Bros”) aliena os eleitores de sexo feminino. A mais recente dessas criaturas a rastejar para fora da toca é a antiga Secretária de Estado Madeleine Albright, que recentemente apareceu em um comício em favor de Clinton, onde acusou as mulheres jovens de “trair seu gênero”. “Há um lugar especial no inferno para mulheres que não ajudam umas às outras! ”, anunciou ela, na esperança de que essa muito imaginativa ameaça de enviar todas as mulheres que apoiaram Bernie a um lugar desconfortavelmente quente iria fazer o truque onde tudo o mais tinha falhado.

Que lugar especial no inferno está reservado para uma mulher que serviu à causa do imperialismo EUA durante toda a sua vida e que sustentou que a morte de meio milhão de crianças iraquianas como resultado das sanções dos EUA “valeu a pena”, a senhora Albright não se dignou a nos informar. Essas calúnias provocaram imediatamente uma tempestade de protestos de muitas mulheres. Embora muitas naturalmente gostariam de ver uma mulher como presidente, entendem que não há que se votar por um candidato baseados unicamente no gênero. Elas agora preferem Bernie Sanders aos como Hillary Clinton e Madeleine Albright. E quem pode culpá-las disto?

As assediadas Steinem e Albright, contudo, logo receberam o reforço de alguém que é muito bem conhecido por sua amigável atitude para com as mulheres – William Jefferson Clinton, também conhecido como Bill. O ex-ocupante da Casa Branca agora está desfrutando de uma aposentadoria moderadamente confortável, depois de haver acumulado estimados 80 milhões de dólares por serviços prestados aos EUA (isto é, aos banqueiros e capitalistas dos EUA). Desde que o patrimônio líquido de Hillary Clinton está na região dos 31,3 milhões de dólares, o patrimônio líquido combinado de Bill e Hillary alcança em torno de 111 milhões de dólares. Naturalmente, se Hillary receber de volta a Casa Branca, a fortuna da família Clinton poderia ser consideravelmente incrementada. Então, não é realmente nenhuma surpresa que o velho Bill emerja da aposentadoria para expressar seu fervoroso apoio a sua esposa.

O ex-presidente falou por cerca de 50 minutos, e quanto mais falava, mais acalorado se tornava. A natureza aquecida de seus comentários expressava a frustração que os Clinton sentiram dois dias antes nas primárias de New Hampshire – um estado que os recompensara no passado, mas que estava se preparando para lhes dar um saudável chute na cara. O velho Bill parecia particularmente irritado porque New Hampshire, depois de levantar a sua candidatura em 1992 à nomeação Democrata e de lhe dar uma remontada em 2008, estava pronto para se desfazer de sua esposa. Sua raiva diante dessa ideia alcançou o paroxismo quando ele finalmente sacou a arma que lhe parecia ser a mais efetiva: a questão de gênero. Os seguidores de Sanders, disse ele, utilizam linguagem misógina ao atacar a senhora Clinton.

Não sabemos como a audiência recebeu esta performance. Mas, no que se refere aos eleitores de New Hampshire, não teve em absoluto nenhum impacto. O que a campanha de Bernie Sanders prova é que, quando as massas começam a se mover, elas vão atalhar todas as questões polêmicas de raça, gênero, religião e nacionalidade. Os que tentarem dividir e desorientar o movimento serão sem misericórdia varridos para o lado. A classe trabalhadora e a juventude revolucionária necessitam da unidade para mudar a sociedade.

O programa de Sanders

Enquanto todos os demais candidatos continuam cantando elogios ao capitalismo, Bernie Sanders coloca perguntas incômodas sobre o modelo existente de sociedade. Atacou sem piedade os grandes bancos e Wall Street, assinalando que a maior parte de toda a riqueza produzida pela classe trabalhadora dos EUA vai para os 1% mais ricos. Ele defende o aumento do salário mínimo federal a 15 dólares por hora e a divisão dos grandes bancos de Wall Street. Ele descreve Wal-Mart como um beneficiário do estado do bem-estar. O mesmo se pode dizer de todos os bancos e grandes corporações.

É a isto a que ele se refere como uma “economia manipulada, um sistema” em que uma poderosa elite exerce seu domínio sobre as pessoas comuns, não apenas economicamente, como também politicamente. Essa é uma descrição justa do capitalismo do século XXI nos EUA e em qualquer outro lugar onde o capital dá as ordens. Sanders aumentaria as taxas de impostos para os que ganham mais de 250 mil dólares, aumentando sua taxa a 37%. Os que estão no extremo superior da escala de renda – os que ganham mais de 10 milhões de dólares ao ano – pagariam 52% de imposto sobre a renda. Sanders também aumentaria outras taxas ou impostos, incluídos os impostos da Seguridade Social para as rendas mais altas. Ademais, tributaria os lucros de capital na mesma percentagem que se utiliza para a renda de um contribuinte em seu trabalho.

Ele disse que todos os jovens devem ter a oportunidade de receber uma educação, encontrar emprego e gerar renda; que a educação deveria ser gratuita e digna para todos os indivíduos nos EUA. Ele afirma que através da educação a juventude dos EUA pode ter acesso a uma gama mais ampla de postos de trabalho e que podem chegar a ser membros mais produtivos para a sociedade. Sua proposta de acesso universal à saúde vai muito além do esquema do Obamacare, o novo sistema de saúde impulsionado por Obama.

Há muitas coisas no programa de Sanders que serão muito atraentes para muitas pessoas nos EUA. Com muitas dessas coisas estamos de acordo, como a atenção universal da saúde, a educação gratuita, a redução da dívida dos estudantes e o salário mínimo de 15 dólares a hora. A grande pergunta que há de se responder, contudo, é: como se podem conseguir todas estas coisas sem romper o poder dos grandes bancos e monopólios?

Ele propôs dividir os maiores bancos do país, dizendo que os seis maiores exercem demasiado controle sobre a economia. Também propôs a restrição aos diretores executivos dos bancos de servir nos diretórios das 12 juntas regionais da Reserva Federal, dizendo que sua presença nessas juntas coloca um conflito de interesses e mina a regulação da indústria de serviços financeiros. Mas propostas similares foram feitas muitas vezes antes, sobretudo por Theodore Roosevelt há cem anos, sem o menor efeito no longo prazo.

A ideia de dividir os grandes monopólios é ainda mais velha que isso. Esta ideia vai contra as leis mais fundamentais do capitalismo como explica Marx em O Manifesto Comunista. Marx explica que a concorrência conduz inevitavelmente ao monopólio. As empresas maiores sempre engolirão as menores. Os marxistas dizem que este controle somente é possível mediante a expropriação dos grandes bancos e corporações. Mas Bernie Sanders não defende isto. Em vez disso, defende dividir os grandes bancos e regular o capitalismo. Disse que Franklin Delano Roosevelt é o seu presidente preferido.

Esta é uma observação importante, como o é sua afirmação de que o socialismo que tem em mente é como o dos países escandinavos, isto é, uma espécie de capitalismo regulado com um estado de bem-estar e menos desigualdade. O problema com esta ideia é que ela não existe mais, mesmo nos países escandinavos. Nós, os Marxistas, dizemos: vamos lutar por cada reforma que represente uma melhora verdadeira para a vida dos trabalhadores e da juventude, mas devemos estar dispostos a tirar todas as conclusões necessárias.

Quando os críticos burgueses de Sanders advertem que seu programa somente pode ser realizado por uma revolução a partir de baixo, têm toda a razão. Se esta luta há de ter êxito, deve terminar com a derrubada da ditadura de Wall Street e dos grandes bancos e corporações. A única forma de se romper o poder dos grandes monopólios privados é substituir os monopólios privados por um monopólio estatal dos bancos e das grandes corporações. No lugar da ditadura de um punhado de patrões de um conselho de administração, uma economia socialista planificada estaria sob o controle e gestão democráticos da classe trabalhadora.

Pode ganhar?

A batalha pela presidência dos EUA deslocou-se para uma marcha diferente conforme os Cáucus e eleições primárias vão se realizando estado a estado até junho. Assim, poderia Sanders ganhar a nomeação para presidente? Isso depende de muitas coisas. Sua vitória em New Hampshire não se repetirá necessariamente em outros estados, particularmente no Sul, onde, pelo menos no momento, Sanders está em posição mais débil que seu oponente.

Depois da vitória de New Hampshire ele disse: “Estão atirando tudo contra mim, exceto a vassoura da cozinha, e tenho a sensação de que a vassoura da cozinha chegará em breve, também”. Esse sentimento tem bons fundamentos. Eles se utilizarão de todos os truques sujos conhecidos e mobilizarão todos os seus recursos para detê-lo. Hillary Clinton disse que vai lutar por cada voto em cada estado, e não duvidamos de que é verdade. Ela tem o respaldo da poderosa maquinaria do Partido Democrata.

O denominado sistema de “superdelegados” significa que Sanders provavelmente necessite de uns 60-70% para ganhar. Essa é uma tarefa gigantesca. No entanto, no final, não é inconcebível que possa ganhar. O ambiente de raiva contra o Establishment é tão forte que a maquinaria do partido não pode ser um obstáculo tão grande como parece. A situação é tão volátil que qualquer coisa pode acontecer.

Que ocorrerá se Bernie Sanders não ganhar a nomeação? Isso depende de como ele reaja. Ele declarou publicamente que se for vencido apoiaria Hillary ou qualquer outro candidato do Partido que resulte nomeado. Se fizer isto, provocará uma vaga de frustração entre os seus seguidores. O movimento que inspirou poderia evaporar como uma gota d’água numa chapa incandescente. Mas esta não é em absoluto a única possibilidade.

O movimento em torno de Bernie Sanders construiu uma grande locomotiva a vapor que tenderá a acelerar e a crescer nos próximos meses. Existe uma interação dinâmica entre Sanders e o crescente movimento que ele encabeça. Se no final forem enganados pela vitória das manobras da máquina do partido, haverá uma explosão de ira que deverá ter um impacto sobre Sanders que estará sob uma imensa pressão para não aceitar o resultado.

O que esta campanha já demonstrou é que as leis assumidas como as leis da política dos EUA eram, na realidade, somente costumes e tradições que podem ser rompidos e que, de fato, foram rompidos. Portanto, não se pode excluir que isto possa conduzir Sanders ao rompimento com o Partido Democrata e a se mover em direção à criação de um novo partido à esquerda dos Democratas. Isso representaria uma mudança fundamental de toda a situação.

Sanders e o Partido Democrata

Lênin assinalou que a história conhece todo tipo de transformações peculiares e houveram muitas destas transformações ultimamente. O molde da história foi rompido de um país a outro: Grécia, Espanha, Grã-Bretanha, para citar somente os exemplos mais óbvios. Isto não é casual. A crise que começou em 2008 e que ainda continua, produziu um impacto profundo na consciência. As estruturas políticas tradicionais foram submetidas a pressões irresistíveis e, em muitos casos, foram destroçadas por essas pressões.

Em tal situação é necessário aprofundar nos processos com muito cuidado e se assegurar de que nossas táticas, palavras de ordem e orientação estejam em sintonia com uma situação que está mudando rapidamente. Isto vale tanto para os EUA quanto para qualquer outro país. Temos dito muitas vezes que não há nenhuma diferença real entre Republicanos e Democratas. Continua sendo o caso? Claro que sim. Nas palavras do grande escritor estadunidense Gore Vidal: “Nossa república tem somente um partido – o Partido da Propriedade – com duas alas de direita”. Isso é absolutamente correto e tem que estar claro no ponto de partida de qualquer análise marxista.

No entanto, o ponto de partida ainda não é o final da viagem, e esta viagem pode tomar todo tipo de caminho estranho e inesperado para nós – ou para qualquer outra pessoa. A campanha de Sanders representa definitivamente um novo e importante fator na equação. Uma coisa é o Partido Democrata e outra coisa é a campanha massiva que se desenvolveu em torno da pessoa de Bernie Sanders. Devemos ter cuidado ao fazer esta distinção. Já foi feita por muitos dos que seguem Sanders, não porque ele seja um Democrata, e sim porque diz que é socialista.

Sanders não foi do Partido Democrata por muito tempo. Era um socialista independente, ex-prefeito de Burlington, Vermont, que se agrupou com os Democratas no Capitólio. O Establishment do Partido Democrata o aceitou como candidato claramente porque pensavam que poderia ser utilizado para inclinar alguns setores progressistas em favor do partido e não parecia haver nenhuma possibilidade de que fosse eleito. Erro semelhante foi cometido na Grã-Bretanha pelos líderes do Partido Trabalhista, quando permitiram que o nome de Jeremy Corbyn figurasse na papeleta de votação para a eleição do líder do partido. Este erro foi cometido exatamente pela mesma razão: estas pessoas estão completamente fora de contato com o ambiente real da sociedade. Da mesma forma que em outros países, a elite política dos EUA está totalmente afastada da realidade.

Estamos a favor da criação de um Partido Trabalhista nos EUA. Dizemos que o Partido Democrata é um partido burguês que não pode ser mudado. Isto está correto, mas não tem alcance suficiente. É necessário dizer concretamente como se pode formar um Partido Trabalhista. No passado, mantivemos que provavelmente a iniciativa procederia dos sindicatos que romperiam seus laços políticos com os Democratas. Esta era uma hipótese razoável. Mas, como qualquer outra hipótese, deve ser comprovada na realidade.

Houve muitas tentativas de se fazer campanha em favor de um partido trabalhista baseado nos sindicatos, mas não levaram a lugar nenhum. A degeneração da direção sindical nos EUA, provavelmente, foi mais longe do que em qualquer outro lugar. Os líderes sindicais não têm absolutamente nenhuma intenção de romper com os Democratas ou de criar um Partido Trabalhista. De fato, a própria ideia os enche de terror.

O movimento por uma alternativa de esquerda aos Democratas, bloqueado pela burocracia sindical, não desapareceu. O descontentamento com a direção do Partido Democrata nunca foi tão intenso com o é hoje. Contudo, ressurgiu no movimento em torno de Bernie Sanders. Naturalmente, há que se proceder sempre a partir dos fundamentos se não quisermos ser desviados da trajetória por acontecimentos efêmeros. Mas é perfeitamente claro que algo está mudando na política dos EUA e temos que analisar com cuidado e tirar as conclusões necessárias.

Uma coisa é o programa e as ideias completas do marxismo, mas outra coisa, totalmente diferente, é a consciência necessariamente incompleta, confusa e contraditória das massas. Não podemos esperar que os jovens recém-despertados para a vida política tenham uma compreensão clara da natureza das coisas. A tarefa dos marxistas é proporcionar a clareza necessária. Mas isto não se pode fazer simplesmente reiterando as proposições gerais do marxismo (embora sejam cem por cento corretas). É necessário se comprometer ativamente com o movimento, entrar em um diálogo significativo com ele, compartilhar de sua experiência coletiva, e, naturalmente, explicar pacientemente em termos que possam ser compreendidos.

O trabalho dos marxistas seria certamente muito simples se as massas entrassem na luta política com uma consciência socialista já formada. Nesse caso, não haveria nenhuma necessidade de se molestar em construir uma organização marxista. Mas sabemos que não é este o caso, que as massas entram na luta com as ideias muito confusas e somente aos poucos, na base da experiência, começam a entender a realidade da situação.

Enquanto explicamos pacientemente as limitações do reformismo de esquerda e defendemos as ideias do marxismo revolucionário, é essencial que construamos pontes em direção aos jovens que apoiam Bernie Sanders. Os camaradas da WIL (Liga Operária Internacional, em suas siglas em inglês) assinalaram corretamente que “nesta época de crise capitalista, há somente um pequeno passo entre a luta pelos direitos básicos e reformas modestas e tirar conclusões totalmente revolucionárias. O crescente interesse no socialismo é um fenômeno em todo o mundo, com diferentes versões que derivam das tradições e da história de cada país: a aposta de Jeremy Corbyn para liderar o Partido Trabalhista na Grã-Bretanha; de Pablo Iglesias, e do auge de PODEMOS, na Espanha; a eleição de Tsipras e SYRIZA, na Grécia. Aqui, nos EUA, estamos experimentando nossa própria variante, distorcida através do prisma de um país com um passado anticomunista e sem um partido operário tradicional de massas’’.

“A falta de uma alternativa viável, e com líderes operários sem oferecer um caminho independente de classe, muitos trabalhadores se encontram votando ‘Democrata’, quando o período eleitoral começa a acontecer. Bernie Sanders, o senador independente de Vermont, está se postulando como Democrata para a nomeação presidencial desse partido. Seu apelo por uma revolução política e por um socialismo democrático ressoa em milhões de estadunidenses decepcionados com as falsas promessas de mudança de Obama. Depois de anos de ‘recuperação’ anêmica, de austeridade e desigualdade escandalosa, sua crítica contra a ‘classe bilionária’ tocou na fibra, de Minneapolis ao Maine”.

Tudo isto demonstra que por baixo da superfície da política estadunidense as placas tectônicas estão se movendo. Mais cedo ou mais tarde, isto produzirá um terremoto. O que estamos presenciando são os primeiros tremores que anunciam a chegada de um cataclismo.

Londres, 12 de fevereiro de 2016